“Posso falar porque não sou mais deputado. A bem da verdade, a nossa bancada não é nenhum exemplo de união”
Raphael Di Cunto | VALOR
O ex-presidente nacional do PT José Dirceu criticou ontem os desentendimentos entre os parlamentares petistas na Câmara dos Deputados, que podem, segundo ele, levar a mais derrotas no Congresso.
“Posso falar porque não sou mais deputado. A bem da verdade, a nossa bancada não é nenhum exemplo de união”, afirmou o ex-chefe da Casa Civil, em debate no Sindicato dos Químicos de São Paulo.
Antes mesmo do ex-ministro das Relações Institucionais Luiz Sérgio perder o cargo e ir para o Ministério da Pesca, os grupos do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), já disputavam o posto, que ficou com a ex-senadora Ideli Salvatti (PT).
A divisão da bancada, de acordo com Dirceu, ameaça projetos importantes para o partido. É o caso da reforma política, que, na avaliação do ex-presidente do partido, tem pontos defendidos pelo PT que correm risco de ser derrotados.
“Entramos falando grosso, exigindo voto em lista. Agora, já estamos preocupados em manter o voto proporcional [para o Legislativo], o financiamento público [de campanha] e a fidelidade partidária”, disse o ex-deputado no debate. Ele não quis falar com a imprensa.
Outro ex-presidente da legenda, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP) defendeu o diálogo com a oposição para aprovar projetos de interesse do partido.
“Se não houver nenhuma negociação política, a reforma pode acabar novamente perdendo a oportunidade de vir a acontecer”, afirmou.
Berzoini também apoiou a posição do PT durante a crise envolvendo o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, que pediu demissão após reportagem da “Folha de S. Paulo” mostrar que seu patrimônio cresceu mais de 20 vezes em quatro anos, na época em que ele era deputado federal e que trabalhou na campanha da presidente Dilma Rousseff (PT).
Segundo Berzoini, o partido prestou toda ajuda possível para ele por conta de sua história na sigla:
“O partido foi politicamente solidário a Palocci, mas obviamente não vamos ser solidários a questões que não conhecemos.”
Palocci deu explicações sobre a evolução de seu patrimônio, mas negou-se a divulgar a lista de empresas para as quais teria prestado consultoria, com o argumento de que havia cláusula de confidencialidade.
Já o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), que assistia o debate, argumentou que o partido ficou do lado do ex-ministro por ele ser parte importante da administração da presidente Dilma Rousseff (PT):
“Nós acompanhamos o governo, não acompanhamos o Palocci.”