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Os EUA, por trás do que acontece na Venezuela

É hora de ler um pouco sobre o que acontece na Venezuela. Até porque, tudo que acontecer por lá, pode se repetir no Brasil. Então é melhor estarmos preparados. Na Carta Maior, há uma entrevista muito bom com o professor George Ciccariello-Maher, autor de livros sobre o país e profundo conhecedor da política venezuelana.
*
Quem está por trás dos protestos na Venezuela?
Envolvido no golpe de 2002 e representante da elite de seu país, “Leopoldo López representa o que há de mais à direita no espectro político venezuelano”
Os protestos na Venezuela têm sido apresentados pela mídia comercial como manifestações populares massivas contra o governo Maduro; no entanto, não têm sido discutidos os verdadeiros jogos políticos que elas escondem. Transcrevemos abaixo trecho da entrevista do professor George Ciccariello-Maher*, que dá um panorama da história recente venezuelana e das figuras envolvidas nas tentativas de deposição do governo Maduro.

DemocracyNow: O que está acontecendo na Venezuela hoje?
George Ciccariello-Maher: Está acontecendo um grande evento, que será uma tarefa crucial para o governo de Maduro. É nossa obrigação que analisemos a situação dentro de seu contexto histórico, para entendermos quem está agindo. Se acompanhamos o Twitter, observamos que há uma tendência: neste momento “pós-occupy” e sucessor à Primavera Árabe, toda vez que vemos protestos nas ruas, nós começamos a retuitá-los e a sentir uma simpatia pela causa, mesmo sem saber qual é o contexto dela. Uma vez que analisamos o contexto venezuelano, o que vemos é mais uma tentativa, dentro de uma longa história de tentativas, de depor um governo democraticamente eleito, desta vez se aproveitando de uma mobilização estudantil contra a insegurança e as dificuldades econômicas.

DN: George Ciccariello, quem é Leopoldo Lopez? O Washington Post o descreve como um homem de 42 anos, de esquerda, que estudou em Harvard. O que você sabe da sua história?
GC-M: Dizê-lo de esquerda seria forçar a barra. Leopoldo Lopez representa o que há de mais à direita no espectro político venezuelano. Ele foi educado nos Estados Unidos desde o ensino médio até sua graduação na Harvard Kennedy, ele descende do primeiro presidente venezuelano e dizem que até mesmo do próprio Simon Bolívar. Em outras palavras, ele é o representante desta classe política tradicional que deixou o poder após a Revolução Bolivariana. Em termos de sua história política, seu partido, o Primera Justicia, foi formado por uma intersecção entre corrupção e intervenção norte-americana, corrupção por sua mãe, ao arrecadar fundo fraudulentos de uma companhia de petróleo venezuelana para este novo partido, e pelo outro lado fundos do NED, do USAID, e de instituições do governo norte-americano. Assim que Chávez chegou ao poder, os partidos políticos tradicionais entraram em colapso, e tanto a oposição interna quanto o governo do EUA precisavam criar algum outro veículo para fazer oposição ao governo Chávez, e este partido de Leopoldo Lopez é um destes veículos. Neste momento, até mesmo a liderança anterior do partido, Henrique Caprilles, que foi o candidato para as eleições presidenciais, percebeu que a linha de tomar ações nas ruas na tentativa de depor um governo democrático simplesmente não vai funcionar. No entanto, Leopoldo Lopez e outros líderes, como Maria Corina Machado e Antonio Ledesma, continuam tentando depor o presidente.

DN: O presidente Maduro expulsou três diplomatas norte-americanos, alegando que eles estavam envolvidos no apoio à oposição. Você poderia nos falar sobre isso?
GC-M: O governo Obama continua a financiar esta oposição, até mesmo mais abertamente do que Bush fazia: Obama requisitou fundos para estes grupos opositores, mesmo que eles estivessem envolvidos em atividades antidemocráticas no passado e apesar do fato de López e outros estarem envolvidos no golpe de 2002 e terem participado de ações violentas na época. Dizer que López hoje é um representante da democracia só pode ser uma piada. Há uma questão interessante aqui, a de que o governo venezuelano, se ouvimos as palavras da esposa de Leopoldo López em declarações recentes, agiu para proteger a vida de López, que estava sob ameaças. A maneira pela qual López foi preso foi muito generosa, muito mais do que López foi no passado, quando liderou uma caça às bruxas contra os ministros chavistas que foram espancados em público no caminho da prisão. López pode até mesmo falar em um mega-fone no dia em que foi preso. Podemos nos perguntar: por que o governo de Maduro está sendo tão gentil com ele? Na verdade, preferem que ele seja o líder da oposição porque ele simplesmente não seria eleito, pois ele representa a nata das elites venezuelanas.

DN: O que vemos na mídia comercial é uma Venezuela fora de controle, com altos índices de violência, escassez de comida e inflação altíssima. Qual é sua avaliação da situação do país hoje?
GC-M: Para dizer claramente, a escassez de comida tem sido sim um problema, e a segurança pública é um problema gigantesco na Venezuela. Ambos são problemas profundos que tem a ver com falhas do governo para tratá-los, mas também relação com a ação de vários outros atores. No caso da criminalidade, a infiltração de máfias tem sido muito grande nos últimos anos, e no caso da escassez, o papel de capitalistas que estocam bens de consumo e a especulação da moeda tem sido uma força destrutiva que nos lembra muito o Chile de Allende, onde se tentou destruir a economia como uma preparação para o golpe. Mas, na verdade, este dois fatores que os estudantes tem protestado contra não explicam o porquê destes protestos estarem emergindo, pois os índices de criminalidade estão baixando e a escassez de comida não está nem de longe tão ruim quanto estava há um ano. O que explica o que está ocorrendo agora é que, depois das eleições de dezembro, este foi o momento em que a direita disse “já chega, estamos cansados de eleições, nós vamos às ruas tentar derrubar este governo”, mas neste meio tempo, os movimentos revolucionários venezuelanos, as organizações populares, que são no fim das contas a base deste governo, que nunca teve apenas como base Chávez ou Maduro enquanto individuos, mas sim milhões e milhões de venezuelanos que estão construindo uma democracia mais profunda e mais direta, construindo movimentos sociais, organizações, conselhos de trabalhadores, conselhos estudantis, conselhos de camponeses, estas pessoas estão continuando a luta, estão defendendo o governo Maduro, e estes protestos que estão ocorrendo principalmente nas regiões mais ricas de Caracas, a Beverly Hills de Caracas, não as fará desistir desta tarefa.

DN: E o papel dos EUA?
Os EUA continuam a financiar a oposição. Acho que no futuro, como costuma acontecer, nós teremos acesso às informações do grau de envolvimento dos EUA no financiamento à oposição venezuelana. Na realidade, esses protestos são um cálculo errado por parte da oposição, não parece que os EUA teriam dito à oposição para tomarem este caminho, pois ele não parece ser muito estratégico. Sabemos que esta é uma oposição em contato direto com a embaixada norte-americana, que recebe fundos do governo dos EUA, mas este é o movimento de uma oposição venezuelana autônoma que vai, como parece, novamente desmoronar.

Hora da verdade

Não pode haver hesitação quando está em jogo a democracia, O Brasil tem o dever de defender a legalidade e a soberania popular do governo venezuelano de Nicolas Maduro.

Breno Altman, via Opera Mundi

O jornalista Clóvis Rossi escreveu, na Folha de S.Paulo, artigo intitulado “Hora de dizer a verdade a Maduro”, criticando a posição atual do governo brasileiro acerca da crise venezuelana. Seu texto considera, a partir dos números das últimas eleições presidenciais, que o vizinho ao norte está “rachado ao meio”. E conclui: apoiar o presidente Nicolas Maduro seria “dar às costas à metade da população venezuelana, erro que nenhum país sério pode cometer”.

Traz vício de origem o apelo à neutralidade e a eventual papel moderador que poderia desempenhar a diplomacia brasileira. Rossi, com a elegância de sempre, mas desconhecimento sobre o assunto, parece estar abordando situação normal de conflito. Como se fosse, por exemplo, uma competição eleitoral ou um rally pacífico de setores oposicionistas.

O venerando repórter atropela o próprio registro que encabeça sua coluna, ao lembrar do golpe de Estado que derrubou Hugo Chavez em 2002, para vender versão edulcorada e neutra dos acontecimentos em curso, insinuando que se trata de um choque legítimo entre blocos políticos.

Nem mesmo o governador de Miranda e ex-candidato presidencial da direita, Henrique Capriles, acredita nessa lorota. Faz questão de manter distância regulamentar da aventura extremista apelidada de la salida pelos white blocs do golpismo venezuelano. Ali está em curso, novamente, operação violenta e articulada para apear do poder um presidente constitucional.

Não pode haver hesitação quando está em jogo a democracia. Defender a legalidade e a soberania popular é a tarefa fundamental dos governos da região, a começar pela mais importante de todas essas nações. A presidente Dilma Rousseff, ao subscrever nota incisiva do Mercosul e declaração inequívoca da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), dá demonstração de grandeza e liderança. Contemporizar com o golpismo, como sugere Rossi, seria atitude pusilânime e apequenada.

Os interesses que se movem nas sombras do vandalismo oposicionista são tão perigosos quanto os objetivos dos grupos ensandecidos que fantasiam tomar Miraflores de assalto. A guerra cibernética e midiática, manipulando informações e imagens, sinaliza que o discurso de Barack Obama, alinhado à intentona da direita, não se esgota no palavrório. A Casa Branca dá sinais que considera a derrocada de Maduro, já e agora, um componente fundamental de sua geopolítica para o petróleo e a América Latina.

O silêncio brasileiro, portanto, não seria apenas desfeita à causa democrática que tanto sangue, suor e lágrimas custou ao continente. Nações que desejam construir caminhos autônomos, em aliança com seus parceiros naturais, devem ter na solidariedade uma política de Estado. Fraquejar nessas horas significaria retirar os sapatos diante de quem aspira retornar à época em que esse canto do mundo aceitava ser o quintal de uma potência imperialista.

Por fim, a tese da “divisão ao meio” é falácia para subtrair legitimidade de um governo soberano. Desde quando uma pequena diferença eleitoral torna iguais quem ganhou e quem perdeu na escolha popular? Está correto um jornalista do calibre de Clóvis Rossi omitir que o chavismo venceu 17 das 18 contendas eleitorais que travou desde 1998? Que elegeu 20 dos 23 governadores nas últimas disputas regionais? E 75% dos prefeitos em consulta às urnas há menos de três meses?

O presidente Nicolas Maduro tem reagido com firmeza e equilíbrio para deter a onda de violência e os planos de sublevação. Cumpre obrigação de preservar a democracia e a paz como manda a lei, mas sua aposta principal é convocar às ruas seus compatriotas, em defesa da Constituição. Estende as mãos para quem não compactua com o golpismo, ao mesmo tempo que promete ser implacável contra os que quiserem usurpar o poder pela força.

Não poderia ser outra a atitude do governo que não ombreá-lo na resistência legalista. As correntes reacionárias podem reclamar o quanto quiserem, e Clóvis Rossi pode lhes oferecer consolo, mas a Venezuela não está isolada como o Chile de Allende ou o Brasil de João Goulart, a bel prazer dos que almejam destruir as instituições democráticas.

Breno Altman é jornalista, diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.

A inadiável alvorada de uma quarta-feira de cinzas, por Lula Miranda

Nem tucano nem petista.
Não houve “mensalão” tucano. Assim como não houve “mensalão” petista. Não se pode negar um sem negar o outro. Ou condenar um e inocentar o outro, como fazem alguns hipócritas, jornalistas e juízes que, desgraçada e despudoradamente, assumiram inconfessáveis preferências partidárias; abandonaram os fatos e os autos para macular a toga, a magistratura e o jornalismo. Para, assim procedendo, estuprar a verdade e a Justiça.
Tá certo que, no salve geral do “jornobanditismo” organizado brasileiro, o caixa dois do PT tornou-se o “mensalão” petista”. Isso todos sabemos. Já o tucano foi eufemisticamente batizado de “mensalão mineiro”. Notou a “sutil” e conveniente distinção? Um é “petista”; o outro é “mineiro”. Sei...
Mais: o do PT foi “compra” de deputados; o do PSDB foi “financiamento de campanha”. Simples assim.
Somos todos incautos?! Ou somos todos hipócritas?
Ora! Sejamos honestos! Basta de parcialismo e/ou hipocrisia! Ambos são clássicos casos de caixa dois para financiamento centralizado de campanhas de partidos aliados!

A inadiável alvorada de uma quarta-feira de cinzas

por Lula Miranda

Nem tucano nem petista.

Não houve “mensalão” tucano. Assim como não houve “mensalão” petista. Não se pode negar um sem negar o outro. Ou condenar um e inocentar o outro, como fazem alguns hipócritas, jornalistas e juízes que, desgraçada e despudoradamente, assumiram inconfessáveis preferências partidárias; abandonaram os fatos e os autos para macular a toga, a magistratura e o jornalismo. Para, assim procedendo, estuprar a verdade e a Justiça.

Tá certo que, no salve geral do “jornobanditismo” organizado brasileiro, o caixa dois do PT tornou-se o “mensalão” petista”. Isso todos sabemos. Já o tucano foi eufemisticamente batizado de “mensalão mineiro”. Notou a “sutil” e conveniente distinção? Um é “petista”; o outro é “mineiro”. Sei...

Mais: o do PT foi “compra” de deputados; o do PSDB foi “financiamento de campanha”. Simples assim.

Somos todos incautos?! Ou somos todos hipócritas?

Ora! Sejamos honestos! Basta de parcialismo e/ou hipocrisia! Ambos são clássicos casos de caixa dois para financiamento centralizado de campanhas de partidos aliados!

É um absurdo condenar Eduardo Azeredo a vinte e poucos anos de prisão? Concordo. Mas não se preocupe, pois este dificilmente será julgado ou condenado – muito menos sofrerá achincalhes e linchamentos públicos diuturnos, cotidianos no horário nobre das TVs ou nas capas e nas manchetes dos jornais e revistas.

Porém, este importante político tucano de Minas terá que ser julgado pelo Supremo. Da mesma forma como foram julgados os petistas. Mas com direito à TV, teatral indignação e espalhafato? Convém duvidar.

O Supremo, na primeira e interminável etapa do julgamento da AP 470, desgraçadamente, fez “chacrinha”, mas não fez justiça. Transformou suas herméticas e áridas sessões num triste e esdrúxulo espetáculo de auditório, para uma classe média conservadora, de duvidoso senso (e gosto) e cultura mediana, refestelar-se, inculta e bela, nas suas macias poltronas e cômodos sofás. “Tão somente” para condenar “exemplarmente” os líderes petistas.

Deplorável exemplo e “espetáculo” deu o STF na ocasião. Nobres e provectos juristas escandalizaram-se.

É um absurdo condenar Azeredo à prisão?! Assim como foi um absurdo condenar José Dirceu, Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, cada qual com seu crime e castigo, por peculato, lavagem de dinheiro e... FORMAÇÃO DE QUADRILHA!!! Esta última condenação então é o absurdo dos absurdos! Chega a ser inacreditável. Inaceitável! Remete-nos à obra de Franz Kafka, mas sem o aviso prévio e tranquilizador de que estamos diante de uma obra de ficção do gênio humano.

Absurdo! Reitero, com necessária e indignada ênfase. ABSURDO!

Condenar históricos líderes e referências do petismo e da política brasileira por peculato e lavagem de dinheiro pode até ser considerado, com muito boa vontade, vá lá, um viés de interpretação do magistrado, para uns; ou um suposto erro de avaliação/julgamento, para outros. Ou – por que não? – até mesmo um excesso de rigor dos ministros da Corte que, na condição de juízes, viram crime onde delito havia.

Mas, cá entre nós, condenar por formação de quadrilha, repito, é ABSURDO, e, mais que isso, é gritante e aviltante injustiça, visto que, além de corromper os autos e os fatos, foge à lógica elementar e ao bom senso.

Quadrilha?! Faça-me um favor!!!

Vivemos num mudo de rábulas e verdugos?

A classe média, despolitizada, gorda e burra, bela e inculta terá conhecido finalmente o seu paraíso?

Vivemos num reinado de hipócritas?

Cabe-nos perguntar.

Cabe-nos perguntar ainda e por último: o que é afinal o Supremo?!

O Supremo é uma “muralha inexpugnável” que serve para zelar pela interpretação e aplicação dos ditames da Carta Magna; que serve para proteger os direitos dos indivíduos do arbítrio e desmandos do Estado e do poder econômico? Ou é apenas uma canhestra cidadela do establishment, com suas masmorras inacessíveis e ar lúgubre, infecto, inacessível, incompreensível, cheio de sombras, onde se escondem vilezas, torpezas, hipocrisias e dosimetrias que utilizam pesos e medidas de flagrante incongruência, ao gosto do freguês da ocasião?

O Supremo terá, na próxima semana, portanto bem antes da tão esperada “folia momesca”, a oportunidade de se redimir de fragoroso e ignominioso erro histórico; de fragorosa e ignominiosa injustiça e, por que não dizer, maldade.

E assim, quem sabe, mostrar, para a sociedade brasileira, não somente para os correligionários do partido “x” ou “y”, que seus ministros, ao menos os mais honrados, virtuosos e humanos, não devem servir como heróis caricatos, como “Chacrinhas” e ou “chacretes” para desfrute e entretenimento de uma sociedade hipócrita, ou, tampouco, como meras máscaras a serem utilizadas pelos falsos virtuosos, os hipócritas, que pululam por aí, em eternos carnavais, nessa nossa sociedade farsesca, de duas faces e pouca moral. Para que estes “heróis” de um triste e catártico espetáculo não mais se esbaldem em sua débil e fugaz alegria, que não mais se assumam e celebrem a sua mediocridade foliã apenas no carnaval – de qualquer maneira, a qualquer tempo.

Quem sabe um ou outro ministro, de preferência um dos mais novos, imune aos vícios e pretensas virtudes dos velhos, traga um pouco de luz àquela Corte de sombras?

Quem sabe um destes não diga para a sociedade toda ouvir, agora, para valer, em caráter definitivo, em alto e bom, a verdade que já não pode calar: que o país necessita de uma reforma política URGENTE; que o financiamento privado de campanhas manieta e criminaliza a política – pois as instituições, os políticos, a mídia, os jornalistas, os promotores, o Judiciário inclusive, são, muitas vezes, tratados como meros títeres do poder econômico.

Pois a realidade, a verdade tarda, mas chega. Algum dia. Por vezes, logo depois de breve “desconforto”, ou mesmo ressaca de um “porre” de civismo, como nas Diretas Já. Mas vem acompanhada/seguida de irrefreável e libertadora alegria.

Pode até tardar, demorar aos olhos e expectativas dos mais impacientes, mas sempre há de vir o sol, por mais longa e tenebrosa que tenha sido a noite.

E, com ele, sempre chega a luz, que a tudo ilumina, esclarece, redime.

Como a inadiável, inconveniente e inexorável alvorada de uma quarta-feira de cinzas.

Aécio Neves - o debochador

Quer dizer que você debocha do “pleno emprego de dois salários-mínimos”, não é?
R$ 1.448, nem 1.500 reais, uma merreca, não é? Menos do que gasta numa boa “balada”…
Não dá para trocar os pneus de seu carro.
Mas é o que muita gente tem – e dá graças a Deus – para se sustentar e juntando com o da mulher ou o do marido, tem uma vida minimamente digna e muito dura.
Muito, muitíssimo mais digna  e certamente menos dura do que a que tinha com o mentor de Aécio, o FHC, quando este era o país do “pleno desemprego” e o último salário mínimo que ele fixou  era de R$200.
Em dinheiro de hoje, Seu Aécio, R$ 420. Isso mesmo, corrigidinho pela inflação do IPCA.
72% de aumento real.
Dois salários? R$ 840, pouco mais que um só de hoje
E tinha gente, muita gente, desesperada por um salário destes, para não passar fome.
Se o senhor esqueceu, o trabalhador lembra.
Por isso, não reclame quando os que ganham dois salários mínimos acharem que o senhor acha o emprego deles uma porcaria.
Sabe, eles são apenas três entre cada quatro trabalhadores  brasileiros.
São as domésticas, os operários de construção, os balconistas, as caixas de supermercado, os auxiliares de escritório, os carregadores, os boiadeiros e os lavradores, os zeladores, os faxineiros, os escriturários, os pintores, os bombeiros hidráulicos, os frentistas de posto de gasolina, a imensa maioria dos servidores públicos.
Inclusive os professores estaduais de Minas Gerais, com nível superior, em início de carreira.
(Mentira minha, senador, eles ganham mais. Sete reais e trinta centavos a mais que dois salários mínimos: R$ 1455,30.)
Como o senhor vê, Senador, um bocado de gente.
E um bocado de gente com os empregos que o senhor acha desprezíveis.
E que os empresários, seus amigos, acham “muito caros”, um desastre para a “competitividade”.
São uma multidão que um fia foi chamada de  ”os marmiteiros”…
O seu avô Tancredo não lhe contou esta história?
Pois o Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da direita, a UDN, após a derrubada de Getúlio Vargas, teria dito que não precisava do voto dos marmiteiros.
Meu avô, aliás, era um marmiteiro, que saía de trem de madrugada de Realengo, na “zona rural” do Rio de Janeiro, para pintar paredes na Zona Sul carioca, levando a marmitinha de metal embrulhada num pano de prato.
Pois não é que os marmiteiros fizeram o Brigadeiro despencar, quando esta história se espalhou?
Na sua cabecinha elitista não passa que o problema não é ganhar dois salários mínimos, mas o salário mínimo ainda ser baixo.
Embora esteja subindo, senador, como jamais subiu desde que o velho Getúlio o instituiu.
O Brasil, senador, não é uma rua do Leblon, onde o senhor farreie.
O Brasil é um país de gente mal-paga, simples e trabalhadora, como era meu avô, marmiteiro.
Que precisa e está trabalhando, empregada.
No pleno emprego de dois salários-mínimos, ou até menos, onde ele pôde formar a filha numa escola Normal e ela, com seu salário de professora, pôde comprar a primeira geladeira da casa modesta.
Pois fique sabendo, Senador, que são os marmiteiros do pleno emprego que vão eleger o Presidente da República.
E que, por isso mesmo, não será o senhor.
PS. Aliás, nem agora, nem em 2018, quando a gente vai botar o retrato do velho outra vez, botar no mesmo lugar.
por Fernando Brito

Quando o Estado terrorista entra em cena

A economia norte-americana volta a ensaiar hábitos paquidérmicos para afastar seus concorrentes no comércio internacional
 
por Rui Daher
 
A economia norte-americana volta a ensaiar hábitos paquidérmicos para afastar seus concorrentes no comércio internacional
 
Ao assumir o Federal Reserve, banco central norte-americano, Janet Yellen foi clara: seu único objetivo será defender os interesses soberanos dos EUA. O que nunca deixaram de fazer, mesmo quando travestidos de invasores em defesa da democracia.
 
Assunto menor para momento tão importante, não mencionou que essa soberania inclui não pagar o que devem ao Brasil, após condenação na OMC (Organização Mundial do Comércio), em 2005, por irregularidades na concessão de subsídios aos produtores de algodão.
 
Não honrar passivos internacionais é algo que em passado não muito remoto fez brasileiros tremerem de medo. A Argentina o fez e até hoje é mal recebida em círculos diplomáticos e financeiros tradicionais. “Onde os fracos não têm vez”, por certo.
 
Depois de substituírem a Inglaterra na hegemonia mundial, colocarem a economia a seus pés com a II Guerra e o Acordo de Bretton Woods, e eliminarem a polarização da Guerra Fria, agora, os EUA se veem ameaçados de dividirem seu protagonismo com a China, em sua ascensão a maior economia do planeta.
 
Calma, americanófilos de plantão, sem pânico. Arsenais de guerra continuarão contando mais do que economias para manutenção de poder. Se você tivesse que escolher entre perder a casinha lá na Marambaia ou a vida, qual seria a opção?
 
Na última safra, o Brasil investiu forte na cotonicultura. Desestimulados com os preços do milho, os agricultores atacaram de soja e algodão. Enquanto a área de milho diminuiu 5%, soja e algodão aumentaram 7% e 22%, respectivamente.
 
Mesmo agora, com as segundas safras em plantio e enfrentando problemas climáticos pontuais, estão previstos redução na área de milho e aumento na de algodão. A meu ver, uma aposta equivocada. A manada produtora foi nessa direção e acredito que, muito cedo, o milho recuperará seus preços.
 
A produção brasileira de caroços e plumas concentra-se 85% nos estados de Mato Grosso e Bahia. A CONAB prevê o Brasil colher 2,5 milhões de toneladas de caroço de algodão e 1,6 milhão do produto em pluma.
 
Com a demanda interna de pluma estagnada nos últimos anos, próxima de 900 mil toneladas, efeito de câmbio defasado e importações prejudiciais às indústrias têxtil e de confecções, um volume significativo precisará ser direcionado à exportação.
 
É aí que os EUA entram em cena.
 
Em processo de tirar a cabecinha para fora do pântano que a sugou em 2007/2008, a economia norte-americana volta a ensaiar hábitos paquidérmicos para afastar seus concorrentes no comércio internacional.
 
Assim como, anualmente, o Brasil divulga seu Plano de Safra, o governo dos EUA acaba de apresentar, para aprovação no Congresso, o “Farm Bill”. Depois de ensaiar restrições a subsídios e incentivos para amainar os perrengues de lá, não é de duvidar que o plano venha cheio de traquinagens para trazer os perrengues para cá.
 
Um deles, no algodão. Segundo a ABRAPA, Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, mecanismos de garantia de preços e seguros podem causar distorções de até 15% nas cotações do produto.
 
Quer dizer, não pagam e ainda apertam o torniquete.
 
Há quem critique nossa dedicação ao Mercosul e a diversificação de nossos destinos de exportação, supondo verdadeira a pérola que fez inesquecível o embaixador Juracy Magalhães (1905-2001): “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
 
Ao Brasil foi dada autorização de retaliar os EUA em itens à nossa escolha. Temerosos, bonzinhos ou cordiais, vimos adiando cumpri-las, valendo-se de acordos e promessas, que se transformaram em prestações mensais, há cinco meses atrasadas. Casas Bahia?
 
Nesta semana, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, em reunião na CAMEX, Câmara de Comércio Exterior, considerou o momento ainda não adequado para retaliar. Depois de nove anos.
 
Desconsiderou, inclusive, duas sugestões enviadas por mim.
 
Na área de produtos, impor taxas altíssimas para importação de molhos barbecue. Quem sabe evitaríamos estragar o sabor de nossas carnes.
 
E, na área de propriedade intelectual, internarem os deputados federais Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP) numa comunidade Amish norte-americana. Por 30 anos.