Não li a publicação de Noblat. Mas, a resposta de Nassif evidencia que tratou-se de uma rude caricatura, que se pretendia desqualificar ao Lula, mereceu uma resposta que implodiu com o orgulho do caricaturista.
Há um aspecto da trajetória de Lula que sempre chamou-me a atenção e que pouco verifico as pessoas comentarem. O fato de que ele construiu-se como liderança incontestável sabendo a importância de fortalecer instituições: o Sindicato dos Metalúrgicos, o PT, a CUT, o cargo de deputado constituinte, de Presidente da República. Lula poderia ter-se eternizado em qualquer uma dessas instâncias. Por que não perpetuar-se na presidência de um poderoso sindicato como o de São Bernardo do Campo? Por que não usufruir tranquilamente do status alcançado? Para que deixar para um sucessor, Meneghelli, depois Vicentinho, depois Luis Marinho?
E quando o PT estava vivo? Por que deixar a presidência para o Olívio Dutra, ao invés de manter-se no cargo por várias gestões? Como o Ulisses era inconteste no PMDB, depois o Temer, Lula também era. Mas enquanto Ulisses só deixou o cargo quando morreu no mar, Lula organizou e assegurou sua própria sucessão. E não mais voltou à presidência do partido, senão na esfera do cargo simbólico e na força exatamente das suas opiniões expressas no debate partidário. Estive num evento do PT estadual (SP) em que Lula, apesar de ser Lula, foi derrotado pelos delegados partidários e em que submeteu-se ao resultado da votação, como qualquer outro delegado.
O mesmo se deu na CUT.
E, após a Constituinte.
E após a derrota para Collor, Lula poderia ter se candidatado a deputado novamente ou a Senador, mas não o fez.
E quando propuseram um terceiro mandato, do alto da popularidade de que gozava, Lula rejeitou e insistiu na sucessão.
Ao contrário dos muitos que acusam Lula de ser populista ou de pretender liderar pela força de seu carisma, Lula investiu sempre em fortalecer organizações e instituições.
O que conforma Lula ao papel de estadista, que Nassif sempre quer encontrar, não me parece ser o fato de tudo submeter à lógica do Estado, como ele aponta, mas de tudo submeter à uma lógica de proliferação e fortalecimento de instituições democráticas, num conceito de democracia extensivo às noções de justiça social, de accountability, de participação popular, primando pela obediência e aprimoramento do quadro normativo e legal, do respeito federativo, da concertação social.
Lula não apenas superou condições adversas para chegar ao status de maior mandatário do país, mas ao chegar lá, suplantou qualquer outro governante de nossa história não apenas por ter feito o melhor governo, mas por ter investido mais do que qualquer outro, na criação e fortalecimento de canais institucionais essenciais para a vitalidade da democracia.