por Joana Monteleone e Adriano Diogo
Ontem, na avenida Paulista, alguns poucos paulistanos carregavam um gigantesco pato de borracha. O Pato faz parte de uma campanha da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) contra a volta da CPMF sobre as transações financeiras. Nos últimos meses ele tem frequentado não apenas a avenida Paulista, mas também as praias cariocas, a esplanada dos ministérios e outros cenários turísticos do país. Apesar do apoio massivo de publicidade e assessoria de imprensa, ninguém estava dando a menor bola para o Pato de borracha cego dos olhos.
Nas manifestações deste dia 13 de dezembro de 2015, no entanto, o pato da Fiesp acabou por se tornar símbolo do pedido de impeachment da presidenta Dilma.
Esse movimento não tem nada de ocasional. Da mesma maneira que o ato convocado para hoje, 13 de dezembro, rememora o Ato Institucional número 5 que prendeu, torturou e assassinou os que se opunham ao regime ditatorial, o Pato símbolo do impeachment lembra a todos o papel da Fiesp no golpe militar – um papel do qual a Fiesp, pode-se ver hoje, se orgulha, quando deveria envergonhar-se.
Da mesma maneira que em 1964 a Fiesp pagou para que os golpistas se organizassem e derrubassem o presidente eleito João Goulart – comprando armas, alugando petroleiros, pagando viagens de oficiais das forças armadas –, hoje a Federação das Indústrias de São Paulo está aliada ao ainda presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na tentativa de derrubar a presidente Dilma Rousseff.
Com o Pato na rua, a aliança da Fiesp com os golpistas ficou mais do que clara – ficou evidente, óbvia, escancarada. Só não vê quem não quer. As poucas pessoas que rodeavam o Pato não apenas sabiam dessa ligação espúria, mas a apoiavam e aplaudiam os feitos e o dinheiro gasto para planejar o golpe hoje curso.
O Pato da Fiesp é o nosso Cavalo de Troia, traz dentro de si o que há de pior na política brasileira. Um Pato que não é só um Pato: todos os dias a Fiesp, contrariando a lei da cidade limpa, faz propaganda contra o governo federal, num show de luzes brega montado no próprio prédio pelo senhor Paulo Skaff. Prédio este, aliás, erguido com muitas facilidades governamentais na década de 1970, os anos mais sanguinários do regime militar.