A reeleição voltou a ser a conversa mole mais conhecida da política brasileira. Aparece sempre que um candidato a reeleição exibe chances reais de ganhar um novo mandato. Na falta de argumento melhor, os adversários dizem que o direito a reeleição favorece o uso da máquina e deve ser abolido.
Aécio Neves foi o primeiro a tocar no assunto. Agora, a conversa ingressou nos argumentos de aliados de Marina Silva.
É um argumento destinado acima de tudo a vitimizar seus candidatos, à margem de qualquer debate político real.
Uma mudança desse porte não se improvisa de hoje para amanhã. Envolve uma operação de vulto, como se viu no esforço para aprovar a reeleição — em 1997 — que incluiu até a compra de votos em plenário.
Estamos falando de uma sucessão de casuísmos. Há 17 anos, a reeleição era parte do sonho tucano de ficar 25 anos consecutivos no Planalto. Mas o projeto naufragou, permitindo a posse, em 2003, de um governo comprometido com a distribuição de renda, a proteção do emprego, os direitos do trabalho. Nada revolucionário, vamos combinar. Apenas o bom e velho reformismo, a busca do Estado de bem-estar Social, que raras vezes se praticou neste país, e por isso gera benefícios tão relevantes. Mas nem isso se admite, nós sabemos.
Ao se verificar que a reeleição pode servir as grandes maiorias da população, o novo casuísmo fala em revogar este direito.
É uma tentativa de ganhar simpatias do eleitor reforçando um estereótipo negativo sobre a democracia e os políticos eleitos, apresentados como aproveitadores que só pensam em manter seus cargos e colher os benefícios correspondentes. Despolitização máxima.
Em 2014, o debate sobre a reeleição pretende questionar um segundo mandato para Dilma Rousseff. Em vez de discutir virtudes e defeitos de seu governo, tenta-se dizer que a continuidade é ruim em si e que a alternância é boa em si.
Sem motivos mais consistentes para pedir voto, pede-se um revezamento, numa visão absurda da Presidência da República, que não é programa de calouros, concorda?
No fundo, estes argumentos pretendem sugerir que, em caso de vitória, Dilma não será reeleita pelo voto do povo. Mas pela máquina do Estado.
Já se pretende, em caso de derrota, colocar uma sombra na legitimidade de seu novo mandato. Dá para entender como a oposição pretende se comportar nos próximos anos, caso venha a enfrentar uma quarta derrota consecutiva.
A realidade é que a campanha está mostrando que é muito mais difícil fazer críticas ao governo do que seus adversários imaginavam. Por isso eles não conseguem disfarçar a própria decepção na medida em que a eleição entra na reta final.
O massacre dos meios de comunicação é real e duradouro, como revelam — enfaticamente — os números do Manchetômetro, mas o efeito é relativo. A população reconhece as melhorias ocorridas no país desde que Lula chegou ao Planalto. Tem críticas, como se viu nos protestos de junho de 2013. Mas nem por isso embarcou na visão de que é preciso mudar de qualquer maneira. Valoriza as melhorias realizadas.
As pesquisas mostram que no momento atual da campanha Dilma recuperou não só a liderança nas pesquisas, mas no debates político.
Marina finge que críticas políticas são ataques a sua pessoa. Aécio não consegue convencer o eleitor a prestar atenção no que diz.
A experiência ensina que, como tudo na vida, a reeleição é uma faca de dois gumes. Tudo depende da capacidade exibida pelo governante durante o mandato. Se mostrou-se competente, atendeu a maioria dos eleitores e exibiu uma razoável eficiência como administrador, tem boas chances de se reeleger. Se, pelo contrário, fez seguidas demonstrações de incapacidade e passou uma borracha nos principais compromissos de campanha, a reeleição torna-se uma armadilha e um fardo a carregar.
O essencial, numa eleição, é defender a soberania popular, que envolve, acima de tudo, o direito de escolher os governantes. Outras iniciativas, no sentido contrário, são puro atalho para questionar a primazia dos direitos do povo. É até falta de respeito.