Sair pela rua ralando os joelhos também é coisa de menino.
Meninas brincam em casa, evitam o tranco das aventuras a céu aberto.
É mais ou menos essa caricatura à qual fomos expostos durante esse tempão que a humanidade vem fazendo suas coisas humanas.
O Bruno Passos fez, há pouco tempo, um texto falando sobre as origens da separação cultural de gêneros na infância, utilizando as cores das roupas como objeto de análise. Acredito que o raciocínio também se aplique aos brinquedos.
Eis então que chegamos ao meio dos anos 80 e à criação do exame pré-natal, em que era possível saber o sexo do bebê antes que ele nascesse. Claro que isso mudou novamente o curso das coisas.
A indústria entendeu que aquela era uma ótima oportunidade mercadológica, afinal, os pais tinham que comemorar de alguma forma a notícia antecipada que teriam um menino ou uma menina. Então, nada melhor do que voltar a diferenciá-los com cores.
Assim, as compras feitas antes do nascimento — fossem as fraldas rosas das meninas ou o enxoval azul dos meninos — seriam ainda mais especiais pois se tornariam mais pessoais, personalizados e únicos, e o mercado de produtos segue aqui uma lógica infalível de raciocínio que perdura até os dias de hoje: quanto maior o significado de um produto, maior é o número de suas vendas.