[...] Perdoar é apenas um gesto oportuno que beira o simbólico para demonstrar superioridade e alguma compreensão. Perdoar fica para passagens bíblicas, para a frase de efeito de "perdoai, Pai, pois eles não sabem o que fazem". Conversa! Quem faz maldade, perversidade, sacanagem, comete violência gratuita sabe muito bem o que faz e faz de ruim, pela índole, pelo caráter, pela falta de escrúpulos. Há muito tempo, fui atingido pelas consequências de uma frustração alheia e senti a dor da picada traiçoeira que doeu fundo por muito tempo.
A dor já passou e o tempo ajudou a fazer adormecer a vontade de vingança, de retaliação, tudo dentro de um contexto de ódio puro, de ira santa. Deixei a infeliz pra lá. O destino se encarregaria de apresentar alguma cobrança por mim. E apresentou, e bateu nela, mas não aquietou a minha cicatriz, o "esquecer" passou longe. Pior que ela existem muitos, os que se aproveitam de um momento de fragilidade alheia e se armam de oportunismo barato para tirar uma vantagem pobre e se esquecem que o mundo gira, que a Terra é redonda e não adianta apressar o dia porque ele só nasce na hora certa e o sol se põe apenas quando a tarde acaba.
Meu limite vai até "desculpar" quando aceito os argumentos de uma ignorância pura ou a infelicidade de uma casualidade que machucou. A covardia embasada na velhacaria de uma atitude ou um gesto proposital, com intuito de prejudicar e ferir gratuitamente não encontra compreensão no meu coração.
Falso é aquele que diz que nunca teve vontade de esganar um assassino perverso (como se existisse um assassino sem ser perverso), de sangue frio, que atira covardemente, mesmo que a vítima não reaja, que demonstre medo ou subserviência diante das suas ameaças. Agora mesmo (quinta-feira), leio no jornal que um animal que atende pelo nome de Francisco Antonio da Silva Souza, agrediu e abusou sexualmente de uma senhora de noventa anos.
Não tenho conhecimento do tipo de assistência que alguma autoridade tenha prestado a essa senhora quase centenária, mas os direitos desse dejeto humano estão assegurados. Devo ter alguma herança genética distante que me liga a Talião, aquele do "olho por olho, dente por dente".
Por mais devoto que sejam os familiares dessa senhora, por mais alienados que possam ser por conta das lavagens cerebrais que lhe fazem alguns pastores oportunistas, não acredito que tenham, nem que seja por um breve momento, vontade de esganar esse "coisa". Para essa senhora eu não sei, mas para esse bandido não faltara um advogado com fome de aparecer ou buscar alguma atenuante por conta de um possível momento de embriagues ou coisa que o valha. Já fiz coisas das quais me arrependo... bem poucas, a bem da verdade, mas nunca pedi ou esperei que me perdoassem. Preferi confessar, com humildade, que me sentia profundamente arrependido. Nunca me ajoelhei diante de homem nenhum para pedir perdão e procurei conforto numa penitência regada a dezenas de "ave-Maria".
Não! Fiz, ficou feito, é preciso arcar com as consequências e não posso fugir do preço que se me cobrem. "Errar é humano, mas perdoar é sublime..." - fico apenas com a primeira frase. Errar faz parte da vida porque ninguém detém o conhecimento da Pedra Filosofal, mas aceitar essa coisa de perdoar assassinos frios, bandidos sedentos de violência, deixei procuração para os que se acham bons demais. Esta foi uma semana confusa, cheia de notícias ruins e de ameaças veladas de policiais oportunos que farejam brechas para ameaçar justo a população que deveria encontrar nelas um mínimo de segurança. Foi o que se ouviu nas gravações dos bandidos fardados da PM baiana. Como se não bastasse tudo isso, morre Wando, cercado de milhares de calcinhas perfumadas de seu público cativo, mesmo chamado de brega.
Wando viveu bem, aproveitou bem a vida, principalmente porque já sabia que as suas fãs mais ardorosas, ao lhe entregar a peça tão íntima já lhe dava o recado explícito de que estava pronta para o que desse e viesse. "Que foi isso, romântico? E as estrelas? Apagaram como o Wando?" Não, não é que no meio de toda essa confusão eu vi de longe o rosto feio de uma bruxa ruim. Moça, me espere amanhã..."
por A. Capibaribe Neto