O guru de Campos é Bornhausen

Eduardo Campos chuta o balde ao atacar Dilma

por Ricardo Kotscho, no R7

“O Brasil não quer mais Dilma”.

“Dilma já está de aviso prévio”.

O autor dos disparos acima é o presidenciável Eduardo Campos, do PSB, que nos últimos dias resolveu mudar de tática e resolveu chutar o balde ao atacar diretamente a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição.

Há meses empacado nas pesquisas, o candidato da chamada “terceira via”, que vinha fazendo uma dobradinha de oposição light com Aécio Neves, do PSDB, resolveu deixar de lado seu jeitão de nordestino cordato, sempre disposto a aparar arestas políticas com uma boa conversa. No último fim de semana, viajando pelo interior de Pernambuco, Eduardo mostrou a nova face da sua campanha.

Em Nazaré da Mata, o governador pernambucano foi direto ao assunto: “Não dá mais para ter quatro anos de Dilma que o Brasil não aguenta. O Brasil não aguenta e o povo brasileiro sabe disso. É no Brasil inteiro”. Para ele, a adversária que lidera as pesquisas “acha que sabe de tudo, mas não sabe é de nada”.

Eduardo Campos subiu ainda mais o tom ao falar  na manhã desta segunda-feira para um auditório lotado na Associação Comercial de São Paulo, tradicional reduto conservador. ”O arranjo políitco de Brasília já deu o que tinha que dar (…). Eu poderia esperar até 2018, mas acho que nosso país não aguenta esperar”.

Bastante aplaudido, o candidato repetiu críticas que os empresários vêm fazendo ao governo: “Para os agentes econômicos fica a impressão de que falta um olhar de longo prazo. Para onde estamos indo, o que vamos fazer?, perguntou, sem dar nem esperar respostas.

Até aqui vendido pelos marqueteiros como candidato da “nova política”, uma opção à velha disputa entre PT e PSDB, Eduardo Campos foi apresentado aos empresários paulistas por ninguém menos do que Jorge Bornhausen, o mais vistoso símbolo do que há de mais reacionário na política brasileira, ex-expoente da Arena, do PDS e do PFL, um cacique que foi ministro de Fernando Collor e tinha muita força no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Hoje sem mandato, Bornhausen é agora o mais forte aliado de Eduardo Campos, depois de Marina Silva, que deve ser a sua vice da chapa do PSB. Se Marina já rodou o xale ao saber que Ronaldo Caiado estava na aliança, dá para imaginar como deve ter gostado da chegada do companheiro Bornhausen e da adesão de Roberto Freire, Heráclito Fortes, Inocêncio de Oliveira, etc. Nova política? Assim, o que vai sobrar para Aécio Neves?

O novo estilo belicoso do presidenciável socialista, que rompeu recentemente com o governo do PT, certamente tem muito a ver com a forma Jorge Bornhausen de fazer política. Pelo jeito, a guerra eleitoral já começou.

Folha mente, descaradamente

E não é que a Folha de S. Paulo foi pega em flagrante “traduzindo” a entrevista de Lula ao jornal italiano La Repubblica ao seu gosto, para dizer que o ex-presidente achava mais importante ter emprego do que baixar a inflação?
Leia o que publicou o jornal da ficha falsa, entre aspas, atribuindo a Lula:
“Do ponto de vista macroeconômico, qual outro país, além da China, criou as condições de crescimento do Brasil? Nossos críticos dizem que o melhor é reduzir a oferta de emprego para reduzir a inflação, mas para nós a defesa do emprego é mais importante que a inflação”.
Agora leia o que disse Lula, na gravação distribuída pelo Instituto Lula, que você pode também ouvir, para tirar a prova dos nove:
“Nossos críticos querem que tenha um pouco de desemprego para poder melhorar a inflação. Eu não quero que tenha desemprego para melhorar a inflação. Eu quero melhorar a inflação com pleno emprego.”
Que coisa feia, Dona Folha…
E não vai sair uma correção, um esclarecimento, um pedido de desculpas?
Vão deixar para a ombudswoman fazer, domingo que vem, se fizer?
Ou a Folha é uma bugia? Não sabem o que é bugia?
Aí em São Paulo tem tanto italiano, quem sabe alguém ensina ao jornal o ditado:
Non dirò una bugia per tutto l’oro del mondo.
Alscotare, Foglia, ciò que Lula ha detto:

por Fernando Brito

Leonel Brizola - o que podia ter sido e não foi

A passagem mais interessante que conheço de política une as figuras opostas de Leonel Brizola e Roberto Marinho na cinematográfica sala de RM na sede da Globo.

Roberto Marinho era Roberto Marinho e Brizola era o governador do Rio, eleito mesmo com a trapaça – o caso Proconsult — que a Globo montou para desrespeitar a escolha do povo pelas urnas.

Batiam-se por mundos diferentes, e se detestavam abertamente. Roberto Marinho convidou um dia Brizola para um almoço, na tentativa de selar uma trégua.

Deu a Brizola – gaúcho — a vista mais linda do Rio e do Brasil, aquela que se tinha de sua sala, e se sentou do outro lado.

Depois de um breve tempo, Roberto Marinho disse: “Está provado que o senhor não gosta mesmo do Rio, governador. Eu lhe dei esta vista e o senhor não se dignou a olhá-la.”

Brizola imediatamente retrucou: “O senhor estraga qualquer vista, Doutor Roberto Marinho.”

Este era Brizola.

Fiquei tocado ao saber que seu nome foi gritado na avenida no Carnaval do Rio por pessoas inconformadas com a bajulação abjeta que a Beija Flor fez em seu desfile a Boni e, por extensão, à Globo.

Brizola venceu, mais uma vez.

A Beija Flor depois de muitos anos ficou fora do desfile das campeãs.

Brizola foi, ao lado de Getúlio Vargas, o maior político da história do Brasil.

Sabia que, para reformar o país, era preciso desmontar o símbolo supremo da iniquidade nacional – a Globo.

“O que é bom para a Globo é ruim para o Brasil”, disse.

Corajoso, Brizola tentou convencer seu cunhado Jango a resistir militarmente ao golpe, a partir do Rio Grande do Sul, estado do qual ele fora governador.

Jango era menos combativo, e entendeu que a causa estava perdida: muitos brasileiros morreriam numa guerra civil, e a presença americana do lado dos golpistas impediria qualquer chance de evitar a queda da democracia.

Mas Brizola não se rendeu. Recebeu, durante algum tempo, recursos de Cuba para montar uma operação de resistência.

Documentos mostram que ele anotava, num papel, como era empregado cada centavo. Não, a direita não teria ali a chance de dizer que ele se apropriava dos fundos cubanos para tachá-lo de corrupto.

Era um brasileiro íntegro, um político visionário, um apóstolo da justiça social, e é uma imensa pena que não tenha, com a redemocratização, chegado à presidência.

Buscaram prejudicá-lo o tempo todo. A sigla que ele simbolizava como ninguém, o PTB, foi entregue a uma descendente inexpressiva de Vargas, e ele teve que inventar o PDT para continuar na vida política.

Votei nele em 1989, e foi para mim o fim da era da inocência política. Fiquei arrasado quando, por escassa margem de votos, ele não passou para o segundo turno.

Nunca mais senti o mesmo quando algum candidato em que votei foi batido.

Brizola disputou a segunda colocação, voto a voto, com Lula.

A vitória apertada de Lula como que selou o nome de quem representaria, dali por diante, a esquerda nacional.

Num exercício tolo, às vezes me pergunto o que teria ocorrido se Brizola tivesse ido para o segundo turno, em vez de Lula.

A Globo teria coragem de favorecer Collor e meter medo no oponente, no debate decisivo, com uma mala em que supostamente estavam denúncias?

A mala – com denúncias imaginárias – foi vital para que Lula tivesse um desempenho sofrível no debate. Cada vez que Collor se aproximava dela, Lula tremia.

Brizola, presumivelmente, teria denunciado a mala a todos os brasileiros em pleno debate, caso o mesmo golpe baixo fosse tentado contra ele.

A mim parece claro que, para o Brasil, a vitória de Brizola teria sido melhor que a de Lula em 1989.

Brizola teria enfrentado a Globo, para começo de conversa. Não por não gostar das novelas, ou da voz de Cid Moreira, ou das piadas de Faustão, mas por compreender que a Globo é a Bastilha brasileira, o símbolo da desigualdade e dos privilégios.

Enquanto a Globo não for desmontada pouca coisa se fará no avanço social brasileiro, porque a Globo é a guardiã dos privilégios com o esquema de controle que montou para monitorar a Justiça e o mundo político.

Lula fugiu da luta, e isso ficou claro quando compareceu ao enterro de Roberto Marinho – o homem da mala do debate com Collor – e fez ali uma eulogia vergonhosa. Completou o serviço decretanto luto oficial de três dias.

É uma pena que Lula seja pouco cobrado por um gesto pusilânime e oportunista que atrasou tanto o combate à desigualdade social.

Fosse cobrado, teria talvez caído em si, e a sociedade quem sabe ganhasse o prêmio de uma regulamentação de mídia que impeça uma só empresa de ter tanto poder em tantos meios.(Até o México enquadrou a Televisa, a Globo local.)

Voltei no tempo ao ler que gritaram o nome de Brizola na avenida, em repúdio ao endeusamento da Globo.

Por minutos, era um jovem jornalista de 33 anos, como em 89, e talvez meus olhos míopes tenham ficado marejados com a menção de Brizola, tanto tempo depois.

Detesto Carnaval, mas como eu queria estar naquele momento na avenida para gritar, com o povo, o nome dele, por tudo que podia ter sido e que não foi quando ele perdeu – Brizola, Brizola, Brizola.

Sobre o Autor

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Eduardo Campos defende o defende o desemprego

"O Brasil precisa melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. É essa a cobrança nas ruas. E é necessário melhorar com mais educação, transporte, lazer e saúde, com menos burocracia. Por outro lado, temos o desafio da produtividade. Não tem mais como crescer pela quantidade [de trabalhadores] no mercado de trabalho. Temos de encarar esse desafio"...

FHC não faria melhor.

Para cobrar da Google fisco tem que cobrar da Globo

O Brasil demorou a se mexer para cobrar satisfações do Google – um dos casos mais notórios de sonegação de impostos no mundo moderno.

O DCM escreveu várias vezes sobre os esforços tenazes de governos de países como Estados Unidos, Inglaterra e França para acabar com a farra fiscal do Google.

A França está processando o Google. Pede uma reparação de 1 bilhão de euros.

Calcula-se que o Google fature na França, sobretudo com anúncios, cerca de 1,5 bilhão de euros, uns 4 bilhões de reais.

Em 2012, o Google pagou a miséria de 6,5 milhões de euros em impostos na França. Fez o que faz em toda parte: canalizou o grosso do faturamento para paraísos fiscais.

Importante: o Google não é um delinquente fiscal solitário. Muitas multinacionais fazem exatamente o mesmo, e hoje enfrentam problemas de imagem e de justiça em muitos países por isso. Apple, Starbucks, Microsoft e Amazon são algumas delas.

O que o governo brasileiro está fazendo de errado, fora a eterna falta de transparência quando se trata de imposto: não são fornecidos números que permitam ver o tamanho do suposto golpe que o Google está aplicando.

Ficamos agora sabendo – e pelo próprio Google, o que é uma aberração, uma vez que a informação tinha que vir à luz pela Receita – que o Google pagou 733 milhões de reais em impostos em 2013.

É pouco? É muito? É justo?

Isto só se sabe quando se tem o faturamento da empresa. Pode ser muito, e pode ser nada. Sem referência, é um número jogado no ar, ao acaso.

A indústria da mídia calcula que o Google no Brasil já é o número dois em receita publicitária, atrás apenas da Globo.

Fala-se em 3 bilhões de receita anual para o Google. Se é isso, o Google estaria pagando pouco mais de 20% de imposto no Brasil.

Importante: você só sabe se isso é muito ou pouco se, primeiro, conhece as leis e, dois, tem ciência de quanto os demais pagam.

Por isso, para que este debate não seja uma conversa nas nuvens, os brasileiros têm que saber – é um caso de enorme interesse público – quanto o líder paga.

A Globo bate recorde após recorde em receita de propaganda mesmo com uma audiência que despenca vistosamente.

Em 2013, ela faturou mais de 12 bilhões de publicidade.

Quanto pagou?

Enquanto não se souber isso, não haverá como avaliar a qualidade dos impostos pagos pelo Google.

No Brasil dos privilégios, a questão fiscal é protegida por um sigilo do qual a guardiã é uma velha amiga da Globo, a Justiça.

O governo, se quiser lidar com o caso do Google com seriedade, tem que quebrar este sigilo no caso da Globo.

Terá coragem para isso?

Adoraria dizer que sim, num rasgo de otimismo.

Mas num ano eleitoral, e com o medo que caracteriza a relação do PT com a Globo, fico com Wellington: quem acredita que o imposto pago pela Globo virá à luz acredita em tudo.

PS- Nos sentimos recompensados ao ver, na página da Globo na Wikipédia, que as dúvidas em relação à lisura fiscal da empresa tinham como base um texto do DCM. Isso — ser referência num assunto de intenso interesse público — reforça nosso compromisso de combater o bom combate por um Brasil justo.

Sobre o Autor

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fernando Brito - A eleição começou. E se ilude quem imagina que será fácil

É verdade que a oposição brasileira, mesmo com o monopólio de mídia de que dispõe, facilita as coisas, pela sua puerilidade.
Mas que ninguém subestime seu potencial nas eleições que se aproxima, apesar dos índices pífios que as pesquisas lhe atribuem.
Existe uma onda conservadora em alta em toda a América Latina e isso é facilmente observável em todos os processos político- eleitorais acontecidos de um ano para cá: Argentina, Equador, Venezuela…
O Chile de Michelle Bachelet é o ponto fora desta curva, mas lembremos que, no caso, havia o carisma de uma presidenta bem-sucedida e o desgaste de um governo conservador, o de Sebastián Piñera.
A questão política, portanto, transcende o desempenho pessoal dos governantes e até mesmo o nível de carga ideológica e de mobilização que estes possuam ao seu favor, embora, como estejamos vendo na Venezuela, isso conte muito nos momentos de confrontação.
Mas não é o que está no horizonte do Brasil, embora não se possa ainda assegurar que a direita – com a ajuda de uma subcultura pequeno burguesa que se crê de esquerda – não vá provocar confrontos.  Talvez só a Abin não acredite que se vá tentar. Não há sinais, porém, que o “gelo” que a classe média já deu a estas manifestações vá se reverter.
As candidaturas de oposição – ou estas “postas” ou algo que surja, vão crescer, e isso é inevitável.
Não é, portanto, o momento de desprezar alianças ou aliados que possam retirar base formal e tempo de televisão desta oposição.
Mas, ao contrário do que aconteceu em 2010, também não será possível legitimar estes aliados com a “anistia” do “está com Dilma”.
Isso é particularmente grave no Rio de Janeiro, onde Sérgio Cabral  amarga níveis de rejeição que beiram a repugnância. E onde Eduardo Paes avança velozmente pelo mesmo caminho, perdido como uma barata tonta.
Mas não é assim em São Paulo, onde se travará a batalha decisiva que da eleição nacional.
É ali o centro da questão da aliança entre PT e PMDB e onde se jogarão as fichas da decisão peemedebista.
É ali que o PMDB vai pedir alto pela continuidade da aliança, e vai levar.
Alckmin assedia Paulo Skaf de todas as formas, mas o governador paulista já teve dias melhores. E talvez os tenha piores, com a falta d´água que começa esta semana em São Paulo e com a evolução do caso do “trensalão”
Já Sérgio Cabral pode chiar a vontade. Morreu.

Fernando Antoni

Os bobos alegres dão pulos e socos no ar de pura alegria. “Pegamos os poderosos corruptos da nação!”

Parvos!
Os verdadeiros poderosos, os que detêm o poder econômico, estão morrendo de rir destes idiotas... Enquanto isto os verdadeiros corruptos e corruptores se apresentam como impolutos cidadãos e empresas.

Pobre República incapaz de criar os mecanismos para cercear estes vilões.

Mais pobre ainda por ter cidadãos tão parvos...

Fernando Antoni

Os bobos alegres dão pulos e socos no ar de pura alegria. “Pegamos os poderosos corruptos da nação!”

Parvos!
Os verdadeiros poderosos, os que detêm o poder econômico, estão morrendo de rir destes idiotas... Enquanto isto os verdadeiros corruptos e corruptores se apresentam como impolutos cidadãos e empresas.

Pobre República incapaz de criar os mecanismos para cercear estes vilões.

Mais pobre ainda por ter cidadãos tão parvos...

Gaudêncio Torquato

2014: Uma eleição cheia de postes

A ideia lançada por Lula pegou. A eleição de outubro deverá ser a mais povoada de “postes” nesses tempos cheios de surpresas, reviravoltas e maquinações no terreno político. No Maranhão, Ceará, Pernambuco e Bahia, candidatos tirados do bolso do paletó dos chefes do Poder Executivo começam a “iluminar” o ambiente regional, na esteira da nova liturgia que se instala na paisagem: a elevação de perfis ao altar de governador de Estado sem os escolhidos passarem pelo longo corredor de mandatos parlamentares e, na maior parte dos casos, sem terem obtido um voto popular sequer em suas trajetórias.
O fato não chega a ser propriamente novidade, eis que tanto a Chefe da Nação como o prefeito da maior cidade do país tomaram seus assentos sem nunca terem se submetido ao sufrágio universal.
Coisas novidadeiras numa cultura política escrita com o lápis de caciques e sob a tradição de costumes passados de pais para filhos, cuja expressão de modernidade é mais a idade dos novos coronéis do que pensamento compromissado com reformas na seara política.
Nos férteis terrenos eleitorais do PT, feitos extraordinários costumam ser creditados ao “feeling” do ex-presidente Luiz Inácio, que escolhe e impõe nomes ao partido, como ocorreu com a presidente Dilma e o prefeito Haddad.
Maior liderança popular e mais forte cabo eleitoral do país, “respirando política pelos poros”, como se costuma dizer dele, sua vontade é ordem e sua orientação, lei. Não sobra perfil capaz de contrariá-lo.
Seguindo essa vereda, os governadores Cid Gomes, Roseana Sarney, Eduardo Campos, pré-candidato à presidência, e Jaques Wagner, entre outros, dão mostras de que o modo lulista de escolher candidato é “a invenção da vez”. Pode ser até uma forma menos democrática por privilegiar o recorrente mote: “quem é dono da flauta dá o tom”. Mas, inegavelmente, é medida prática.
Evita discussões prolongadas entre aliados, acelera a formação de parcerias, antecipa o jogo eleitoral, na medida em que os preteridos passam a seguir outros rumos, enquanto eventuais dissabores passam a ser administrados no balcão de recompensas.
Afinal de contas, qual o significado desse novo modus faciendi?
Sobressai, primeiro, a sensação de um sopro de renovação na esfera política. Algo como: se a reforma política está emperrada no Congresso, a sociedade, à sua maneira, pavimenta o caminho de novas lideranças, elegendo perfis assépticos, não contaminados pelo vírus da corrupção, particularmente quadros técnicos com experiência na administração pública.
À inércia do poder centrífugo (Legislativo, Executivo), reage o poder centrípeto, a força social organizada, que identifica na planilha de nomes aqueles com capacidade de representar as demandas populares. Portanto, o novo ordenamento condiz com o clima social.
Há muito a comunidade clama por partidos com programas claros e consistentes; representantes mais próximos às comunidades; um sistema de votação que contemple quadros de maior expressão eleitoral, sem puxar para a Câmara candidatos de parca votação; figuras que desfraldem os valores republicanos.
As imagens são inescapáveis: o copo de águas sujas transbordou. Ou ainda, não há mais como jogar por baixo do tapete o lixo acumulado pela velha política. O eleitor se mostra cansado de ouvir as mesmas lorotas. A cada legislatura, recorre-se à pregação da reforma política. Às vésperas do pleito, o saldo é zero. Como ir às urnas respirando os ares poluídos que, há décadas, contaminam os pulmões da República?
Pouca coisa muda e, ante a inação do Poder Legislativo em matéria eleitoral, as decisões, mesmo homeopáticas e de pouco empuxo na escala dos avanços, acabam sendo tomadas pelo Judiciário.
Os últimos retoques no reboco do velho casarão das urnas acabam de ser dados pelo Tribunal Superior Eleitoral, que proibiu o uso de telemarketing em campanhas eleitorais, obrigando, ainda, a adoção de legenda ou a língua de sinais (libras) nos debates a serem promovidos pela TV.
Por falta de densidade (responsabilidade do Legislativo), a Justiça Eleitoral usa o pincel para uma rápida camada cosmética. Mais uma questão de lana-caprina.
E assim as frustrações das camadas sociais vão se acumulando e disparando os mecanismos de cognição dos conjuntos eleitorais. O primeiro movimento é na direção das caras novas no palco da política. Na parede dos velhos retratos, a atenção se volta para a última foto, a figura desconhecida, o sinal diferenciado no painel da mesmice. “Quem sabe esta pessoa não faria melhor do que o fulano (quem foi mesmo?) em que votei na última vez (quando mesmo)”? É a dúvida do eleitor.
Portanto, os dirigentes tirados da cartola por Lula da Silva e os “postes” que tentarão exibir suas luzes nos próximos meses são, na verdade, extensões simbólicas do ciclo que se abre na política por força de uma nova disposição social, cuja inspiração é a de querer romper com velhos paradigmas. Para chegar à presidência da República, não há mais necessidade de longa carreira política, como a que teve Jânio Quadros.
Eleito suplente de vereador, em 1947, assumiu o mandato com a cassação de vereadores; depois, foi o deputado estadual mais votado (1951), em seguida, prefeito de São Paulo (1953), governador do Estado (1955), deputado federal pelo Paraná (1958, mas não exerceu o mandato), presidente da República (1961) e novamente prefeito de São Paulo (1985).
A par dos traços de assepsia política, presentes nos perfis dessa nova geração de dirigentes, o feitio técnico complementa a identidade, a denotar sua agregação à esfera da administração planejada e consequentes programas com foco em prioridades, ações balizadas por critérios racionais e de pouco comprometimento com populismo eleitoreiro.
Esse é o dilema que enfrentam, pois a modelagem técnica das gestões nem sempre resulta em urnas fartas. O consolo é constatar que o voto começa a deixar o coração do brasileiro para chegar à cabeça.

Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato

Rodrigo Vianna

Militares já falam em "eventual intervenção": Democratas tem de reagir

Reproduzimos artigo de general que  pede apoio civil a uma intervenção militar. Trata-se de clara incitação ao golpe, um ataque frontal à Democracia:
“Não basta pedir uma atitude dos militares, é preciso que os civis esclarecidos e convencidos do perigo ostentem massivamente suas posições e opiniões e que contribuam para magnetizar a agulha que definirá o novo rumo a ser tomado”.
Cinquenta anos depois, a pregação autoritária se espalha pelas redes sociais. E não são apenas generais que defendem o golpe. É preciso reagir. (Rodrigo Vianna)

Na causa da democracia, quem está dispensado?

por general de brigada Paulo Chagas, na página da Revista Sociedade Militar
A debacle da Suprema Corte, desmoralizada por arranjos tortuosos que transformaram criminosos em vítimas da própria Justiça, compromete a crença dos brasileiros nas instituições republicanas e se soma às muitas razões que fazem com que, com frequência e veemência cada vez maior, os Generais sejam instados a intervir na vida nacional para dar outro rumo ao movimento que, cristalinamente, está comprometendo o futuro do Brasil.
Os militares em reserva se têm somado aos civis que enxergam em uma atitude das Forças Armadas a tábua da salvação para a Pátria ameaçada, quando não são eles próprios os alvos do clamor daqueles que já identificam nas imagens dramáticas da capital venezuelana a cor fúnebre do nosso destino.
Ao exercerem seu direito legal de opinar e criticar, os militares da reserva diferem entre si na forma, na intensidade e na oportunidade de uma eventual intervenção militar que venha a dissuadir as pretensões mais ousadas dos dissimulados adeptos da versão “bolivariana” do comunismo de sempre, todavia, são coincidentes e uníssonos no rebatimento de acusações mentirosas que, divulgadas de forma criminosa, visam a criar na sociedade o receio de ter os militares como fiadores da democracia.
Entre os civis esclarecidos é fácil perceber a confiança no discernimento e no patriotismo dos soldados. Todos querem que os Generais “façam alguma coisa”, mas ainda são poucos os que se dispõem a fazer o que está ao seu alcance. Poucos são os que adotam atitudes concretas e manifestam-se pública, individual e coletivamente, em defesa dos governos militares, escrevendo para os jornais ou protestando contra a hipocrisia e as más intensões das “comissões da verdade”.
No momento atual, a causa da democracia não dispensa o concurso de ninguém. Seria portanto uma importante contribuição se todos os civis que têm as Forças Armadas como última razão da liberdade e a garantia dos fundamentos constitucionais pusessem suas opiniões a público, em artigos, manifestações, textos, “cartas do leitor” e outros recursos do gênero e não apenas em comentários restritos à leitura dos poucos profissionais da mídia que ainda ousam remar contra a correnteza ou dos escribas de mídias sociais que, mesmo comprometidos com a causa, têm apenas seu limitado e débil sopro para tentar enfunar as velas da embarcação.
A opinião pública está dispersa, contudo não é difícil identificar o que rejeita. Também não é fácil definir com quem está e o que quer. Falta-lhe um “norte confiável”. As pessoas de bem, informadas, estão com medo do futuro, acuadas até para reagir e para manifestarem-se pacificamente. Não basta, portanto, pedir uma atitude dos militares, é preciso que os civis esclarecidos e convencidos do perigo ostentem massivamente suas posições e opiniões e que contribuam para magnetizar a agulha que definirá o novo rumo a ser tomado.
As “Marchas da Família com Deus Pela Liberdade”, programadas para o mês que se inicia, são um bom começo para esta soma de esforços e para reafirmar o que, há cinquenta anos, fez com que o Brasil fosse visto e admirado como a “Nação que salvou a si própria”!

Luis Nassif

Os verdadeiros poderosos

O estado de direito no país está ameaçado pelo desequilíbrio que o julgamento da AP 470 trouxe para o sistema jurídico brasileiro.
 
O deslumbramento dos Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) com o julgamento, o atropelo de princípios consagrados no Código Civil para atender aos reclamos das ruas e da mídia, contaminaram todo o tecido jurídico brasileiro - e vai pegar a todos, não apenas o PT.
 
***
 
O PSDB estimulou essa " vendetta" e agora paga a conta e vai pagar mais ainda.
 
No momento, vê seu ex-presidente, Eduardo Azeredo - reconhecidamente idôneo do ponto de vista pessoal - ameaçado por uma condenação de 26 anos pelo crime de caixa dois. Assim como as penas da AP 470, são superiores aos piores crimes previstos no Código Penal. Ao exigir o mesmo tratamento a que foram submetidos suas lideranças, o PT faz o mesmo jogo de dar carne fresca ao leão.
 
***
 
Na Papuda, há uma perseguição implacável movida pelo juiz da Vara de Execuções - monitorado por Joaquim Barbosa - e pelo Ministério Público Federal de Brasília. E há um silêncio sepulcral das principais vozes da consciência jurídica do país, para não provocar o clamor da turba.
 
Em Poços de Caldas, para pegar um deputado do PSDB, um juiz de primeira instância aplicou os mesmos critérios elásticos de formação de quadrilha do STF - consagrados no primeiro julgamento da AP 470 - e colocou na cadeia, em prisão preventiva, dois médicos respeitados da cidade - cujos procedimentos foram avalizados por unanimidade pelo Conselho Regional de Medicina.
 
***
 
Há uma lógica perversa e hipócrita nesse jogo de punições ao largo da lei.
 
Sentenças de primeira instância já permitem prisões e ações penais não se guiam mais pela análise objetiva dos fatos, tudo para atender à sede de sangue, de punição.
 
Esta é a hipocrisia de um Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Luiz Fux e Celso de Mello, de fingir que os verdadeiramente poderosos são os réus do mensalão petista ou tucano.
 
O verdadeiro poder está nos grupos econômicos que têm cacife para se colocar acima da lei.
 
***
 
Poderoso é Daniel Dantas ao conseguir ficar fora do inquérito. Conseguiu ficar fora da AP 470, apesar de ter sido o principal financiador tanto do mensalão petista quanto do tucano.
 
Os recursos da Visanet foram aplicados em promoção da marca; os do Opportunity entregues a Marcos Valério sem a comprovação de nenhuma contrapartida. No entanto, o então Procurador Geral da República Antonio Fernando de Souza, retirou o Opportunity do inquérito. E, para justificar o montante movimentado pelo PT transformou a Visanet em empresa pública, deixou de lado a comprovação dos gastos publicitários efetuados com a verba.
 
***
 
No STJ (Superior Tribunal de Justiça), o Opportunity conseguiu brecar a Operação Satiagraha. Empreiteiras de São Paulo conseguiram brecar operações repletas de provas sob as mais diversas alegações - a de que as operações surgiram de denúncias anônimas e outros factoides.
 
***
 
Ao estimular a Justiça em suas vendettas pessoais, ambos os partidos estão dando carne fresca ao leão. E todo esse jogo de cena fornece o álibi para que a Justiça mantenha a impunidade sobre os verdadeiramente poderosos.

O enfraquecimento do Estado e nova ordem imposta pelo capital

“(..).Essa revolução contínua da produção. Esse abalo constante, essa falta de segurança, distinguem a época burguesa de todas as precedentes.Tudo o que é sagrado é profanado,tudo o que é cristalizado com seu cortejo e ideias veneradas, tudo o que é sólido e estável evapora-se continuamente.” K.Marx.
Entramos numa nova fase do capitalismo, onde é necessário derrubar todas as barreiras geográficas e enfraquecer os Estados Nacionais, originariamente criados pela burguesia em ascensão desde os fins da Idade média. As elites capitalistas em expansão pelo mundo, necessitam disso.
As mesmas mãos que levantaram as grandes pilastras do moderno Estado Nacional, são as mesmas que vão derrubá-lo agora. Aquilo que foi erigido pelos grandes filósofos, incentivados pela burguesia em ascensão, criaram o Estado Nacional burguês no passado, mas hoje ele está com os seus dias contados.
Um Estado convenientemente erigido, com três poderes separados e distintos, para que o rei ou governante não pudesse ter o poder total em suas mãos e as elites pudessem intervir em qualquer um deles.
Com leis firmadas em uma carta magna, com justiça para resolver conflitos, com acordos para gerar consensos. Um Estado nacional organizado, com linhas geográficas firmemente traçadas, com uma língua nacional para homogenizar a cultura. Com um exército nacional e uma polícia, colocando “ordem” entre os conflitos de classe gerados pelo capital. Tudo isso, está em via de acabar, pois lentamente sem que nos déssemos conta, o capital internacional se introduziu via multinacionais, de forma massiva e contundente, enfraquecendo os poderes locais do Estado.
Um exército de adeptos se enfileiram e batem continência a esse novo poder. Um poder global, sem fronteiras, com uma única língua, uma só cultura, uma só religião. A democracia que até agora, serviu de instrumento para que o capital fosse estendido por todo o globo, agora não é mais necessária. A grande boca da mídia, apela aos governos de todo mundo que desativem suas polícias, seus exércitos ao mesmo tempo em que insuflam nos bastidores disputas entre o povo de toda ordem a tomar as ruas.
Entretidos pelo reality show que toma de assalto todos os setores da vida cotidiana, inclusive aqueles restritos a justiça, são televisionados e com torcidas organizadas a exigir justiça, esses escondem os reais interesses em questão, pois, as fronteiras delimitadas pela geografia e pela política, são agora os maiores entraves para o levantamento da viga mestra dessa nova ordem mundial, que se impõe pela violência, seja dos povos a culpar o Estado Nacional de todas as mazelas, seja através da orquestração de golpes mercenários.
A extinção da PM, tem um viés de mão dupla, se por um lado pode utopicamente ser humanizada, por outro, pode atar as mãos do Estado para liberar o espaço para as milícias fascistas. Vejam que na Ucrânia, a primeira atitude do presidente interino, foi extinguir a tropa de choque, agora só os fascistas do Svoboda e os neonazistas tem tropa de choque, enquanto a população está desarmada.
A ONU dá conselho aos governos, que eles suportem as manifestações, pois todos tem o direto de protestar, inclusive os fascistas, que os Estados repensem o poder de força que possuem.
Longe de defender as manobras do capital, da atuação da força bruta militar e policial, preocupa-nos o concerto de vozes vindas de um mesmo maestro e cujo coro de vozes vão da ultra-direita à suposta ultra-esquerda, pois não podemos entender que sendo esquerda, ela cante no mesmo tom da direita.
Os jovens foram escolhidos para esse último trabalho essencial e urgente da renovação do capitalismo, pois são mais maleáveis a tudo que é novo e não possuem a experiência do passado. Todos numa só voz, “não acredito mais em Estado”, “não acreditamos mais em nação”, “em pátria”,”em democracia e em justiça”. “Desculpem-nos o transtorno, precisamos destruir tudo o que foi construído, estamos mudando o país”.
O novo que quer nascer, precisa matar o velho. Presumo que veremos pela frente ditaduras formidáveis, pois, o velho pode se vestir de novo com máscaras atraentes para enganar e justamente para continuar existindo.
Por Mara Rocha no Facebook