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*Céli Pinto: onde estão os Partidos?

De tudo que Dilma disse nesta campanha eleitoral, talvez sua manifestação mais importante tenha sido a seguinte: “Marina ficou 27 anos no Partido dos Trabalhadores. Todos os seus mandatos ela obteve graças ao PT. Dos 12 anos aos quais ela se refere, oito ela esteve no governo ou na bancada do partido no Senado Federal. Eu acredito que não é possível que as pessoas tenham posições que não honram a sua trajetória política e tentam se esconder atrás de falas que não medem o sentido dos seus próprios atos durante a vida. A militância do PT e a história do PT foram fundamentais para a candidata chegar onde chegou”.

Não foi importante porque Dilma bateu em Marina, nem porque tenha significado qualquer virada nas projeções eleitorais, mas porque trouxe para o centro do discurso de campanha o partido político, no caso, o PT. Não se faz política sem partidos e o Brasil tem partidos fortes, bem estruturados, que estão por trás de cada candidato ou candidata. Aos críticos já respondo de imediato que sei que há 32 partidos no Brasil, que a maioria é inexpressiva, que alguns têm propósitos longe da luta política stricto sensu, que é preciso fazer uma reforma etc, etc, etc.




Isto posto, volto ao argumento: os partidos políticos importam, têm ideologias, interesses, passado, mesmo que alguns troquem de nome a cada nova oportunidade. Mas, nas presentes eleições, os candidatos e candidatas às eleições majoritárias, principalmente, se esforçam para aparecer como indivíduos excepcionais, lutadores, dotados de força interior, capazes de superar as maiores mazelas da vida. Isto é uma farsa. E essa farsa teve como condição de emergência o discurso repetido ad nauseam pela grande mídia: que os partidos são apenas espaços para falcatruas, que o importante é a pessoa. O tempo desta construção discursiva correspondeu, não sem malícia, aos anos de governo do PT na Presidência da República. Nas manifestações de rua de junho de 2013, a direita se juntou a uma juventude idealista que gritava contra os políticos, a política e os partidos, e as bandeiras partidárias eram varridas das ruas agressivamente pelos “jornadeiros”. Nada aconteceu por acaso.

O PT se acovardou e abriu mão de seu maior trunfo, o de ser um partido político que, mesmo com todos os seus problemas, teria muito para apresentar como estrutura partidária, como proposta partidária, como história. Ficou com medo da mídia, dos adversários, dos cartazes feitos com cartolina caseira das ruas. Dilma teria um capital político importante para pôr na roda: um partido que governou o país, muitos estados, muitas capitais, muitas cidades do interior. A cara deste país mudou, mesmo admitindo os grandes limites do PT. Entretanto, a candidata à reeleição caiu na esparrela de disputar beleza com Marina Silva, que também tem partido, também tem lado, mas precisa esconder. O programa de sua “injustiçada” Rede de Sustentabilidade nega tudo que sua campanha tem defendido atualmente.

Na campanha para governador do RS, Tarso Genro tem um partido que governou Porto Alegre por muitas vezes, bem como importantes cidades do interior, que já foi governo do Estado e tem um grande saldo positivo. Entretanto, também abriu mão de tudo isto e disputa beleza com Ana Amélia Lemos, que esconde, mas tem um partido, o PP, herdeiro direto da Arena do tempo do regime militar. Então eu pergunto: a quem interessa o desaparecimento dos partidos na campanha política?

O leitor poderá pensar que também interessa ao PT, porque há o mensalão a esconder. Esconder? Nada foi mais público, nada teve mais cobertura da mídia que o mensalão do PT, transformado, na boca dos jornalistas “imparciais”, no maior escândalo de corrupção da história do país. Dilma, Tarso ou qualquer outro candidato do PT não precisam ir para a TV humilhados pelo escândalo, que tem muito de corrupção, mas pouco de escândalo. Até porque, neste caso, o escândalo mora em outro lugar.




Temos duas semanas até o Primeiro turno das eleições, há tempo para que as campanhas recoloquem os partidos no centro, explorem suas realizações quando no governo, mas, principalmente, mostrem a partir de suas visões de mundo para quem vão governar. Para quem governaram quando estiveram no poder. Está mais que na hora de o PT, o PSDB, o PP e o PSB-Rede mostrarem a que vieram como grupos políticos que querem governar o país e os estados. O eleitor brasileiro não merece o festival de caras e bocas da presente campanha. Não estamos escolhendo a madre superiora do convento das clarissas descalças, nem a locutora do ano. Estamos escolhendo governantes.

* Cientista Política, professora do Departamento de História da UFRGS