Pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e publicada pela Rede Brasil Atual informa que o setor metalúrgico está perto de retomar os níveis de emprego do fim dos anos 80, quando ocupava 2,4 milhões de trabalhadores. Segundo o Dieese, as empresas do setor abriram 900.000 vagas ao longo da última década.
O levantamento revela que a metalurgia ocupa hoje 2,1 milhões de pessoas. E que, de 2002 a abril de 2010, a expansão do emprego foi de 60%. A manter-se o ritmo atual, prevê o Dieese, o recorde registrado no biênio de 1987-1988 será batido ao longo do próximo ano.
A situação só não é melhor por causa da crise econômica internacional que afetou o Brasil a partir de setembro de 2008 e até o fim do primeiro semestre do ano passado. Durante o Governo Lula, o mercado de trabalho no setor vinha se expandindo mensalmente, mas, entre outubro de 2008 e julho de 2009, se retraiu fortemente.
O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Carlos Grana, acusa os empresários de aproveitarem a crise para demitir trabalhadores mais antigos, aumentando a rotatividade e recontratando a valores mais baixos.
“Houve um exagero. E seria um caos se tivéssemos entrado na onda de alguns empresários que, em janeiro de 2009, queriam reduzir jornada e salário”.
Os cortes não foram maiores, na avaliação de Grana, porque o Governo Lula reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e criou ou dinamizou linhas de crédito do BNDES.
INDÚSTRIA NAVAL
Ao analisar o mercado de trabalho na metalurgia por áreas de atuação, o Dieese concluiu que a única que manteve fôlego, mesmo durante a crise, foi a indústria naval. O estudo prevê que o quadro vai melhorar ainda mais nesse segmento, com expectativa de que os investimentos cresçam 58% entre 2010 e 2013, na comparação com 2005-2008.
O Dieese lamenta que a década de 1990 tenha tido efeitos terríveis sobre o mercado de trabalho na indústria naval. O Brasil perdeu a posição de vice-líder mundial, quando gerava 40.000 empregos. Para a entidade, a recuperação em curso é fundamental pelo enorme potencial empregatício da atividade, que gera quatro vagas indiretas para cada uma direta, com efeitos em toda uma rede de suprimentos.
A retomada da indústria naval ao longo dos últimos anos é explicada pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota, que em sua primeira fase registra a encomenda de 26 navios e a liberação de R$ 6,2 bilhões em financiamentos para construção e modernização de embarcações.
SALÁRIOS
O cenário positivo para a metalurgia tem resultado em ganhos para os trabalhadores. O aumento salarial real acumulado entre 2004 e 2009 é de 14,21%.
A disparidade regional, ainda que grande, vem diminuindo. O salário médio no Norte, que em 2005 correspondia a 60,3% da média do Sudeste, agora representa 64,9%, ou R$ 1.571,74. Oscilação parecida foi registrada no Sul e houve um aumento maior no Nordeste, que ainda tem o salário médio mais baixo entre os metalúrgicos, de R$ 1.241,05.
Para os sindicatos, essa redução nas desigualdades é fruto de campanhas por acordos coletivos e pela fixação de pisos salariais em regiões de menor remuneração.
Agora, a categoria espera pressionar o Congresso pelas aprovações da redução da jornada de 44 horas para 40 horas semanais e da convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tenta colocar freio às demissões injustificadas. O Dieese elenca como desafio a redução da rotatividade, que ainda gira em torno de 30% na média do setor metalúrgico.