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Eleições 2014 - Rio Grande do Sul opta entre século 19 e 21 na disputa entre Ana Amélia e Tarso


Por Miguel Enrique, de Veranópolis,

especial para o Escrevinhador


Dois episódios estiveram no centro dos debates no Rio Grande do Sul nas últimas semanas: as manifestações racistas de torcedores do Grêmio contra o goleiro santista Aranha e as objeções à realização de um casamento homoafetivo em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG).
Sem vínculos diretos com partidos ou com candidatos, os dois casos são ilustrativos do verdadeiro debate que está colocado nas eleições para o governo gaúcho.
No caso do racismo, após os primeiros protestos e o expurgo literal da torcedora, do seu emprego e do clube, ganhou espaço nos meios de comunicação um discurso em que agressora passou a vítima. Com direito a choro na televisão, apelou para se tornar símbolo anti-racista e finalmente ganhou um emprego na Central Única das Favelas (CUFA).
Já os protestos contra o casamento homoafetivo deixaram a retórica e ganharam a forma de um coquetel molotov jogado contra o Centro de Tradições poucos dias antes da cerimônia, obrigando a sua transferência para o fórum local.
Logo, surgiu o discurso relativista do “não é bem assim”, “não é que a gente seja contra o casamento gay…” a ponto de um Promotor de Justiça publicar um artigo onde afirma textualmente que se os homossexuais querem respeitar seus direitos “que respeitem o espaço e as tradições dos demais”.
No ano passado, o filósofo Vladimir Safatle já havia alertado para a prática de inversão que racistas e preconceituosos operavam, ao alegar que eles, sim, eram “perseguidos pela implacável polícia do politicamente correto”. A “nova moda” é travestir racismo e preconceito de “afirmação rebelde da liberdade”.
Pois bem, o conservadorismo que não tem vergonha de dizer seu nome e que justifica suas ideias como a defesa da liberdade (do mercado, diga-se) encontra-se bem encarnado na candidatura que lidera as pesquisas no estado, a senadora Ana Amélia Lemos (PP).
Ex-editora da sucursal de Brasília do grupo RBS, braço da Globo no sul do país, a senadora é considerada porta-voz legítima dos interesses do agronegócio, não apenas gaúcho. Portanto, sua candidatura apoia-se em duas mais poderosas forças do estado, o maior grupo de comunicação da região e um dos setores economicamente mais ricos.
A plataforma de governo de Ana Amélia é simples: liberalização absoluta e retirada do Estado de todos os setores. Em bom português: Estado mínimo e privatizações. No entanto, sua candidatura não é alavancada por suas ideias, mas pela popularidade obtida pela presença diária na televisão e no rádio por décadas. Neste sentido, ainda que não seja seu colega de chapa, sua candidatura equivale ao candidato ao senado Lasier Martins (PDT), também apresentador do jornal diário do grupo RBS.
Dessa forma, os rompantes de sinceridade de sua chapa cabem ao deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP), candidato à reeleição, conhecido por um vídeo que circulou na internet no ano passado onde declarava que o gabinete do ministro Gilberto Carvalho reunia “quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta” (veja aqui). No lançamento da candidatura de Ana Amélia, Heinze não resistiu e abriu o coração: “bom mesmo era na ditadura militar, quando nós da Arena é que mandávamos”.

Tarso Genro - constrangimento capital

As declarações do Prefeito eleito de Nova York,  Bill Blasio, afirmando que vai  combater as desigualdades sociais da “big apple” cobrando impostos mais elevados dos muito ricos para custear os gastos decorrentes do seu programa de governo, tem causado muita angústia na crônica neoliberal do nosso país.  Afinal, que prefeito é esse que, substituindo uma administração republicana, dinâmica, “moderna” – e mais ainda, dirigida por um “big boss” do capital financeiro – aparece dizendo que os ricos devem pagar mais impostos? Nós, aqui no Brasil, já não demonstramos que falar em aumento de impostos gera perda de “competitividade”?

Talvez a resposta tenha sido oferecida, ainda que de forma involuntária, pelos dados publicados na imprensa tradicional, através de matéria na Folha de São Paulo. A outra face do capitalismo americano, que normalmente não é considerada importante para visitar nos momentos de crise, é bastante amarga: nela, 90% das famílias americanas detém 54% da renda e os outros 10% detém  o resto, ou seja 46%.  Nova York conta com 400 mil milionários, 3 mil multimilionários, mas 21,2% por cento da população está abaixo da linha da pobreza, com 52.OOO pessoas sem domicílio fixo: um número proporcionalmente maior do que a população de rua de Porto Alegre, considerando o número de habitantes de cada uma das cidades.

Este “outro lado” é composto por um pessoal  assalariado de baixa renda, precários, intermitentes, subempregados sem registro – principalmente negros e “chicanos” -  que são os sofredores da crise do modelo industrial do capitalismo pós-guerra, com a destruição das garantias tradicionais da força de trabalho da “big society”.  Ao mesmo tempo, esta  massa de assalariados  empobrecida  ajuda a  compensar  a “queda tendencial da taxa de lucro”, albergando a continuidade da acumulação, agora garantida pela produção de riqueza artificial, através das jogadas no mercado financeiro: os ricos e muito ricos não ficam  sem saída.