Mostrando postagens com marcador Cruzadas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cruzadas. Mostrar todas as postagens

Uma eleição ou uma cruzada? por Henrique Matthiesen


Resultado de imagem para tortura inquisição

As características apresentadas na eleição presidencial deste ano (2018) no Brasil. oferecem aspectos e contornos pavorosos, assustadores. O retrocesso, aliado ao fundamentalismo e o fascismo, infelizmente já são os grandes vencedores, independente do resultado final do pleito; Se é que podemos falar em vencedor nesse caso.

Pautada pela negação e ódio, congregada às mais baixas e reprováveis ações anticivilizatória, mergulhamos no abismo obscurantista, onde a irracionalidade e anulação, ou propriamente, o extermínio do oponente é a meta a ser atingida.
Retrocedemos ao século XIII onde as Cruzadas - em nome da fé e de “deus” - objetivavam a conversão cristã a força e, em nome de Deus, cometeram as mais atrozes selvagerias contra os que se opunham.
Nesta guerra quase santa, a primeira vítima é toda a sociedade brasileira enferma gravemente de ódio e rancores. O preconceito social aflora explosivamente na falta de argumentos.
Não dialogamos mais; apenas, insultos e agressões. Não admitimos mais as diferenças, não aceitamos mais a reflexão, não enxergamos mais a humanidade.  É preciso exterminar, eliminar, extinguir as ervas daninhas que ousam pensar diferente, ou que simplesmente, não comungam mais do meu credo.
“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” é o lema da cruzada de hereges que ameaça e contamina, com os mais perversos instintos primitivos, nossa sociedade.
Distorcem desonestamente as escrituras bíblicas, e se autointitulam higienistas da salvação; pregam a honestidade de um moralismo hipócrita a qual não têm; dissimulam valores os quais não praticam; ameaçam a civilização e as minorias com sua legião de acéfalos.
Fenômeno este já conhecido na história da humanidade, onde em nome da justiça, da probidade e dos valores da família elevaram verdadeiros tiranos ao poder como: Hitler, na Alemanha; Mussolini, na Itália; Franco, na Espanha; Salazar, em Portugal; entre outros.
Obviamente que a gênese desta cruzada se encontra na junção de inúmeros fatores como: o conceito exacerbado de um hegemonismo tolo, da covardia em não reformar as instituições de forma a garantir direitos pétreos, ou simplesmente se converter apenas aos projetos de poder.
A cruzada fascista no Brasil cumprirá seu rito - será elevada ao poder pela via democrática - com a cumplicidade doentia dos que sofrem a enfermidade do ódio e da negação.
Em nome de Deus, da família e da tradição mergulharemos no abismo de tempos sombrios; de uma era de incivilidade, retrocessos e de terror.
Muitos do que hoje vituperam contra seus dessemelhantes e congregam com os “iluminados da dita santidade de hoje” serão também vítimas desta marcha da insensatez para onde caminha hoje o Brasil.
Retrocederemos à barbárie, ao indigno e à face perversa e vergonhosa de nossa história.
Àqueles que acreditam na democracia e na liberdade só resta não serem cúmplices destes tempos nebulosos, porquanto, muitos não deixarão suas digitais nos gatilhos, ávidos aos disparos.
Que a misericórdia ajude o Brasil em tempos de Cruzadas.
Henrique Matthiesen - Bacharel em Direito. Jornalista 
***

É necessário resistir à Cruzada anti-corrupção

[de bens intencionados o inferno e igrejas estão abarrotados, que o digam os Cunhas, Magnos e Malafaias da vida]
por Guilherme Scalzilli - também publicado no Le Monde Diplomatique Brasil

Enquanto a esquerda brasileira busca novas agendas e programas, o tema da corrupção vem ganhando protagonismo cada vez maior nos seus debates. Vejo essa tendência com perplexidade e desalento, pois a considero um erro conceitual e estratégico grave, que pode mesmo inviabilizar a sobrevivência do progressismo organizado no país.
Chamo doravante de Cruzada o amplo repertório subjetivo que acompanha a pauta anticorrupção nos moldes atuais. O termo abarca tanto o viés místico da plataforma quanto seu imaginário bélico, ambos tendo como principal símbolo a operação Lava Jato, apesar de não restritos a ela. A qualificação busca espelhar também o uso sectário do programa, o hábito de desqualificar seus críticos por suposto apoio a alas “infiéis”.
Logo de saída notamos que o espírito da Cruzada guarda uma contradição insanável: precisa ser inflexível na propaganda, mas tolerante na aplicação. Levada a purismos extremos, ela jamais daria conta das minúcias irregulares da vida social, das instituições públicas e do setor corporativo. Por outro lado, admitindo sua inviabilidade prática, perde o sentido isonômico e universalista que a justifica, ou parece justificar.
Considerando que as próprias infantarias cruzadas sucumbiriam ao rigorismo total, apela-se para uma relativização seletiva. O alvo então se restringe à demonizada classe política, mais especificamente ao “outro” malfeitor que não desfruta das simpatias ocasionais dos fiscalizadores (partidárias, religiosas, performativas). E é exatamente esse farisaísmo que termina por arruinar os bons propósitos da empreitada.