O cumpadi e a preferênça
Era uma vez dois cumpadi. Um, muito rico, podre de rico; o outro, mísero roceiro, cheio de filhos pequenos. Sua esposa era magricela, como toda muié de roceiro pobre. Mas, apesar da diferente situação financeira, os dois cumpadi se amavam. Eram amigos pra valer. A única diferença estava naquilo que fala a verdade: o dinheiro.
Eis que um fatídico dia o cumpadi pobre tem lá um ataque qualquer e cai fulminado… mortinho mesmo. No velório, estava lá a viúva, acompanhada de mais uns cinco bruguelos, todos chorosos. O cumpadi rico, aos prantos de clamor exagerado, dispara ali, pra todo mundo testemunhar:
Cumpadi rico (para o defunto):
– Cumpadi Zeca! Aqui, diante da sua muié e de todos os seus filhos, eu quero fazer um juramento. Daqui pra frente, onde meus filhos estudam, os seus vão estudar também. Vou preparar uma boa casa pra sua família morar. Vou mandar todos os meses, através de um capataz, carnes e alimentos gerais. Hei de respeitar sua memória, meu cumpadi. E ninguém há de proceder mal com a sua muié!
Pois bem. Assim o cumpadi rico falou, assim cumpriu religiosamente. Ficou uns três anos sem ver aquela família. Lá um belo dia resolveu nosso cumpadi fazer uma visita à cumadi. Qual não foi a sua surpresa ao ser atendido por uma mulher recauchutada, linda que só vendo. Linda de fazer qualquer homem virar o dito juízo.
Cumpadi rico (emocionado, oiando pra foto do falecido na parede)
– Cumpadi! Quero aqui repetir a promessa que fiz: Hei de respeitar sua memória, meu cumpadi. E ninguém há de proceder mal com sua muié! Mas no dia em que ela resolver proceder mal, que eu tenha a preferência!
Colaboração enviada por Daniela Vieira Bacelar