no Diário do Nordeste - Coluna É
Apenas um até breve!
Estava a caminho de Guarulhos para o retorno a Fortaleza quando recebi mensagem informando a partida do amigo, companheiro e mestre Dedé de Castro, o melhor jornalista que conheci. José Edmundo de Castro saiu das Uruburetamas para lutar por um mundo melhor e mais justo, e fez isso dando algumas lições básicas, tais como "não abrir a guarda jamais" e defender com unhas e dentes aquilo a que se tem direito, sustentando que não somos melhores nem piores do que ninguém e que o Brasil só chegava ao ponto permitido por nós.
Desprendimento
Uma marca de Dedé é a alegria em dividir conhecimento, enquanto muitos outros ingressam na profissão para acumular prestígio e, principalmente, bens materiais. Nunca falava na 1ª pessoa. Sim ao coletivo, ao individual, não.
Dádiva
Tão logo Dedé ingressou neste Diário, nos tornamos grandes amigos. Para mim, um achado, espécie de "universidade exclusiva", embora tenha ele sido mestre de tantos. Todavia a nossa afinidade me ofertava mais tempo ao lado dele.
Cidadão
No início da década de 1980, um irresponsável dirigia bêbado nas imediações da Igreja do Pequeno Grande. Dedé viu a cena e apontou o homem a um policial, que tirou o corpo fora, alegando não pertencer ao extinto Batalhão de Trânsito. Dedé disse: "Mas você é um policial, não é, seu bestão"?
Lição
Jamais esqueci o conselho que me deu: "Você, Nenô, (era assim que me tratava) fazendo uma coluna como esta, vai ser muitas vezes tentado a se corromper. E quando isso acontecer, pense somente numa coisa: para que precisa disso se está sobrevivendo do jeito atual?
Pena brilhante
Nos veículos onde trabalhou, Dedé de Castro produziu pautas sensacionais, verdadeiras obras-primas. Seu texto é riquíssimo, embora em momento algum fuja da simplicidade. Já aconteceu de a pauta superar a matéria.
"Não entendo um jornalista passar toda a existência na atividade e jamais ser contestado judicialmente pelas verdades pronunciadas"
Dedé de Castro
Jornalista
Sobremesa
Certa vez, Dedé estava na chefia de Reportagem quando entra na redação um homenzarrão gritando com quem encontrava pela frente, muito bravo por ter sido citado como receptador de carros roubados. O sujeito estava possesso, a ponto de agredir alguém fisicamente.
Dedé, de corpo franzino, aproximou-se do homem que disse haver adquirido os veículos (em torno de 15) sem saber que eram roubados. Dedé perguntou-lhe: "Quantos anos o senhor tem"? - Tenho 32, respondeu. E o tarimbado escriba, coçando o ralo bigodinho, disparou: "Engraçado, eu tenho quase o dobro da sua idade e até hoje nunca me ofereceram um carro roubado". Posso garantir que o sujeito murchou.