Ontem, vencido pelo cansaço não fiz uma análise do debate na Rede TV. Melhor assim, agora posso fazer com mais distanciamento. Claro que não é pelo alcance “numérico” que se deve analisar o resultado daquele programa de televisão, mas pelo resultado político.
Já teria sido excepcional se Dilma tivesse atravessado este debate numa situação de equilíbrio, sem grandes deslizes ou desempenho sofrível. É dela o favoritismo e, a esta altura da disputa, manter o que já se tem, do ponto de vista dos analistas e marqueteiros, seria o mais seguro e indicado.
Para isso, e já sabendo que se usaria contra ela a tentativa de criminalizar sua campanha com o caso do sigilo e, agora, com esta história da Veja, devem tê-la aconselhado a reagir a isso com ironia, dando pouca importância, dizendo que “era coisa de campanha”. Um tom blasé, tenho certeza, deve ter sido o que recomendaram.
Mas não foi isso que aconteceu. O que vimos, ontem, foi uma Dilma com a soberania de si mesma, e as poucas gaguejadas vieram mais de falta de traquejo oratório do que de qualquer sentimento de insegurança. Sem alterar-se, reagiu de maneira firma e indignada às acusações e mostrou convicção. Sua defesa de Erenice Guerra foi correta e equilibrada como tem de ser a de um governante: nem se associa como um oportunista à agressão e, não condena nem absolve previamente qualquer pessoa, deixando que as instituições façam seu trabalho.
Outra coisa que me pareceu bem foi o fato de ter dosado corretamente a sua característica de continuadora de Lula com sua própria natureza. Ao contrário do que ocorreu lá atrás – vejam como 40 dias são uma eternidade numa campanha – no debate da Band, agora já está fixado quem é quem, quem está em que campo.
Aí está o que considero o grande ganho de qualidade na imagem de Dilma no debate de ontem: ela firmou-se, diante dos olhos de seus eleitores, como alguém com luz própria, com identidade, preparo, firmeza e habilidade, sem que nada disso a afaste do caminho de continuidade com avanço que a condição de candidata de Lula lhe dá.
José Serra, ao contrário, foi, na minha opinião, um desastre. Podem dar a bala de prata que quiserem, que com um atirador destes não mata nem mosquito. Não apenas está perdendo a eleição. Está perdido na eleição.
Não tem uma idéia a defender. No primeiro debate, mesmo com a apelação das Apae, procurou se firmar como “o candidato da saúde”. Já ali lhe faltava o discurso do “vamos fazer o bolo crescer, aí a gente o divide” que sustentava o projeto de Brasil da direita tradicional e o da “neodireita” que veio com o tucanato.
Puxe pela memória e tente lembrar de algo que ele tenha dito que vai fazer? Acho que tirando aquela história da Defesa Civil Nacional – eu adoraria poder ter dito que concordava com a idéia e que ela ia ajudar muito em situações como a do Jardim Romano, em São Paulo – que ficou dois meses debaixo d´água – não tem nenhuma idéia, nenhuma proposta.
A pergunta da jornalista Renata Lo Prete – quero aplaudir publicamente sua demonstração de que perguntas podem ser incômodas sem serem grosseiras sobre o “atraso” de sua indignação com a quebra do sigilo, sabida há meses, de sua filha acabou com qualquer possibilidade de ele apelar para isso. Aliás, nem sei se funcionaria, pois tudo em Serra soa falso, frio e artificial, talvez mesmo porque seja esta a única verdade: tudo nele é mesmo falso, frio e artificial.
Ao contrário de Dilma, Serra apenas desqualificou-se diante dos seus cada vez mais parcos eleitores. Como sustentar, com aquele desempenho, o discurso de que ele é o mais preparado, o mais experiente, o mais qualificado pessoalmente? É ruim, hein, como diz o pessoal aqui no Rio…Serra mostrou que só impera quando tem na mão o cetro do poder: aí pode mandar. Se tiver de enfrentar, em igualdade de condições, vira um animalzinho assustado, que mostra os dentes na esperança de que os outros vão tremer de medo, quando é ele que mal (e bota mal nisso) consegue disfarçar seu pavor.
De Plínio e Marina não há muito a falar.
Plínio achou que podia repetir seu desempenho simpático do primeiro debate e quis ser histriônico. Acabou sendo ridículo, especialmente na resposta sobre a Petrobras. Não saber a importância de construir no Brasil ou lá fora dezenas de plataformas de exploração, que custam centenas de bilhões de reais e geram uma multidão de empregos não é aceitável para um candidato a vestibular, quanto mais a um candidato a presidência. Ficou batendo tanto na tecla de um desafio a um pacto com Dilma que eu lhe perguntaria: Mas, ô Plínio, porque você não pergunta se o Serra também topa este pacto?
De Marina, ficou clara a estratégia de “pescar” os votos da direita desiludida com Serra. Mas – perdoem-me seus simpatizantes, porque isso é uma crítica ao desempenho político, não à pessoa – ela passa uma imagem muito arrogante e autoritária, ainda que o teor do discurso não o seja. Consegue perder no quesito que apontavam como calcanhar-de-aquiles de Dilma: simpatia.
O debate de ontem abre uma nova etapa e fixa um novo alvo para nós. Dos tais “formadores de opinião” nos quais o Datafolha apostava para a tal “virada” serrista, não virá nada. As próximas pesquisas do Ibope e do Datafolha ampliarão a vantagem. A vitória por dois terços dos votos válidos passou a ser uma possibilidade real. Vamos cobrir Dilma com a legitimidade que ela precisa ter para fazer o aprofundamento dos novos rumos que o Brasil tomou.
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