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Exposição

O ouro dos Incas

Entra em cartaz hoje, no Espaço Cultural Unifor, a exposição Tesouros e Simbolismos da Colômbia Pré-Hispânica, que presenteia seus visitantes com o detalhamento de raras peças em ouro produzidas até há 2500 anos
A partir de hoje, quem for ao Espaço Cultural Unifor, com o intuito de ver valiosas peças de ouro, sairá de lá com a vitalidade de ter estado em contato com algo de valor imensurável, de fato. Mas não pelo vil metal dourado, mas sim pela riqueza do que tão pequenos objetos representaram para toda uma cultura. Colombiana e brasileira até, se ampliado o modo de se interpretar o acervo. Composta de 213 objetos, a coleção possui pingentes, palitos, peitorais, máscaras, tudo em ouro ou em "tumbaga", mistura de ouro e cobre. Há ainda vasos, estátuas e até instrumentos musicais feitos de barro. Em todos, surpreende o detalhamento com que foram produzidos.

Para além da sofisticação, lógico, está o ineditismo. Segundo o arqueólogo Eduardo Londoño, chefe de divulgação do Museu del Oro, do Banco da República de Bogotá, na Colômbia, as peças eram fundidas em uma única forma que, diferente das que utilizamos para a produção de estátuas em gesso, por exemplo, não possuíam abertura. "Para retirá-las da forma, depois de prontas, só havia um meio: quebrando o molde. Ou seja, essas peças são únicas", conclui o professor.

OrigensFoi por volta dos anos de 1930 que se fundou o Museu del Oro, de onde vieram as coleções para esta exposição. De acordo com Eduardo Londoño, após a independência do país, a Colômbia passa por um processo relativamente comum aos povos sul-americanos. Depois da partida de seus colonizadores, ficaram as dúvidas: o que somos? O que nos une? Qual a nossa herança? Assim, surge o interesse nas peças ancestrais, elaboradas por um povo anterior aos europeus.

O Museu, financiado pelo Banco da República de Bogotá, passou a adquirir e preservar peças em ouro, cobre e cerâmica, encontradas em geral por camponeses. "Em nosso museu não há peças conseguidas em escavações, porque esse tipo de prática é proibida por lei em nosso país. Os objetos são portanto encontrados por agricultores durante a colheita ou a preparação dos solos para plantio", explica Londoño.

A datação das peças varia de 500 a.C. a 1500 d.C. Durante o período pré-Hispânico, nenhum povo produziu tanto em ouro como os que habitavam a Colômbia. Suas peças, no entanto, não tinham apenas a intenção de adorno ou de exaltação da riqueza daquelas terras, mas de representar o sagrado. Depois do ano 1000, os elementos se tornaram mais sensíveis e houve um aumento na produção a partir da tumbaga. Em 1500, com as invasões espanholas, as comunidades indígenas não tiveram mais contato com o ouro e deixaram de produzir.

Xamanismo"Apesar do local atrair os visitantes pelo nome ´Museu Del Oro´, nossa riqueza está no simbolismo das peças", relata o arqueólogo. De fato, para os índios que produziram as peças do acervo, o ouro não tinha valor monetário, mas sim religioso, já que era uma representação do Deus Sol. Os artefatos vieram de comunidades comandadas por caciques, chamadas localmente de "cacicazgos". Diferente das sociedades de grandes civilizações pré-colombianas, como astecas, incas e maias, que possuíam, além de um lider, uma espécie de "polícia", uma força de controle social, os "cacicazgos" obedeciam apenas pelo poder xamânico que o cacique detinha, porque ele era o verdadeiro representante dos deuses.

Os xamãs eram responsáveis por manter o equilíbrio do mundo e por garantir que o mundo permaneceria, que aquela comunidade ficaria como herança para filhos e netos. Daí a força da representação do sol e o uso do ouro, por consequência. O sol era o astro que garantia a vida na terra, a chegada de novos dias. Outro preceito dos xamãs era a ideia de que minerais, vegetais e animais, todos eram seres humanos. Por isso as representações zoomórficas, de homens com bicos de aves ou com caldas de jaguar e asas de morcego.

Sobre o tema, o xamanismo pregava ainda a igualdade entre homens e mulheres. A mistura de cobre e de ouro, aliás, significava esse equilíbrio, tornando-se um símbolo de fertilidade. Para os incas, por exemplo, o Sol representava o homem e a Lua, com artigo feminino, a mulher. Nas comunidades pré-hispânicas da Colômbia, o cobre era a representação da mulher, por causa de sua cor avermelhada e de seu cheiro, que lembravam a menstruação das mulheres. Assim, peças em ouro e cobre simbolizavam a junção do homem e da mulher, a garantia da fertilidade e da consequente continuidade do povo.

"O xamanismo é uma prática religiosa de transformação e, apesar das diferenças entre as comunidades indígenas, ele se manteve entre elas, inclusive em tribos brasileiras", releva Eduardo Londoño. Por isso também a importância de tais artefatos para a compreensão da cultura indígena de algumas comunidades brasileiras e para se pensar ainda sobre as releituras do corpo.

Finalmente, surpreende na exposição o fato de que o que se sabe sobre as peças do Museu do Ouro são suposições elaboradas a partir padrões adotados por tribos indígenas da Colômbia ainda existentes. Ou seja: a verdadeira explicação para os simbolismos resguardados em peças tão pequenas ainda está na profundeza das tumbas seculares dos caciques, onde permaneceram por muito tempo, algumas dessas peças, prontas para acompanhá-lo na outra vida que viria, acreditavam, depois da morte terrena. 

Elementos em prataA presença Inca no sul da Colômbia também deixou seu legado. Para eles, a prata era mais importante do que o ouro e, por isso, apenas em Tumaco-Tolita, sítio arqueológico habitado pelos incas, se pode presenciar peças em prata. Curiosos é que, após a invasão espanhola, quando os índios já não tiveram contato com os metais para a produção de seus artefatos, algumas comunidades produziam seus peitorais e adornos com o metal extraído de moedas colombianas, como nesta imagem, feita já por volta de 1980.

MAYARA DE ARAÚJOREPÓRTER

MAIS INFORMAÇÕES
Exposição - "Tesouros e Simbolismos da Colômbia Pré-Hispânica". Abertura hoje às 19 horas, no Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321). Em cartaz de 8 de junho a 18 de setembro. Aberta ao público, de terça-feira a sexta-feira, das 8 horas às 22 horas; sábado e domingo, das 10 horas às 18 horas. Contato: (85) 3477.3319