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Miriam Leitão: Bolsonaro pode transformar o Brasil na Venezuela de Chávez



 Miriam Leitão publicou hoje (23) em O Globo, artigo alertando os leitores que a eleição de Jair Bolsonaro é o "início de um processo de cerco à democracia, que na Venezuela do coronel Hugo Chávez começou pelo enfraquecimento do Judiciário".

A jornalista escreveu que além dos filhos terem ameaça do STF, o próprio Bolsonaro "sempre foi associado ao pouco apreço às instituições democráticas."

Segundo Miriam, o PT, sempre foi associado ao "risco Venezuela", mas por outro motivo: o partido poupava críticas e até elogiava quando Chávez prometeu, depois de eleito, fazer uma "revolução socialista" no País.
Bolsonaro, por sua vez, também já elogiou Hugo Chávez no passado, mas por motivo oposto: porque o ditador usou apoio de parte das Forças Armadas para tentar um golpe de Estado.
"Hugo Chávez tentou um golpe no estilo clássico, em fevereiro de 1992. Alegava ser contra a corrupção. Conseguiu o apoio de uma parte das Forças Armadas, mas fracassou. Esse Chávez é que recebeu elogios de Jair Bolsonaro." 

"O coronel foi preso, indultado, mas, em 1998, chegou ao Miraflores pelo voto, dizendo que faria uma revolução socialista. E foi esse Chávez que recebeu o apoio do PT."
Miriam ainda anotou que "não existe ditadura do bem" e que o medo, com Bolsonaro, não é de um golpe aberto como aconteceu no Brasil dos anos 1960, mas de ver os pilares da democracia serem minados por um governo "populista e autoritário". A ditadura seria por aproximação dos ideais autoritários.
"A inaceitável fala do deputado Eduardo Bolsonaro não surge do nada. Ela reflete o ambiente político no qual seu pai sempre esteve imerso, de defesa do regime militar. Era ele atrás do pai, repetindo em mímica, o nome do torturador homenageado durante o voto do impeachment. Essa é a sua formação", enfatizou.
Leia a coluna completa aqui.

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Política: Democrata ou Ditador?


Depois de três mandatos na presidência da República, não é que o sujeito resolve se candidatar outra vez? Isso mesmo: ele quer ser presidente pela quarta vez consecutiva, assim, na maior cara de pau. Me diga, como você classificaria esse político: democrata ou ditador?
Veja o que ele costuma fazer para se eleger:
Numa cidade do interior do país, 349 funcionários foram convocados para fazer o levantamento da preferência eleitoral dos candidatos e muitos daqueles que declararam que não pretendiam votar no candidato do governo perderam o emprego. Em outro distrito exigia-se que os trabalhadores votassem num senador que apoiava o presidente; os que se recusaram foram excluídos dos seus empregos. Os funcionários filiados a outros partidos que não o do presidente, eram avisados que teriam de trocar suas filiações partidárias se eles quisessem se manter empregados.
Cartas foram enviadas aos empregados instruindo-os a doar 2% do salário para a campanha se eles quisessem manter seus empregos e comerciantes eram requisitados a oferecer dinheiro para a campanha.
A distribuição de empregos aumentou dramaticamente no ano eleitoral e foram distribuídos “vales-emprego” com duração de dois meses, tempo da fase final da campanha.
Um homem que recebia um bom salário em um emprego burocrático foi transferido para outro cargo, para trabalhar com uma picareta numa mina de calcário, depois de ter se recusado a mudar sua filiação para o partido do presidente candidato.
Volto a perguntar: um presidente, depois de completar o terceiro mandato, quer ainda o quarto, e faz esse tipo de pressão junto à sociedade para ser eleito, como deve ser classificado? Democrata ou ditador?
Bem, a classificação vai depender do país onde ele vive e do nível de comprometimento da imprensa que divulga o fato. Se ele viver na Venezuela e seu nome for Hugo Chávez, será considerado um ditador. Mas se o presidente-candidato em questão viveu nos Estados Unidos e o seu nome era Franklin Roosevelt, ele é o símbolo maior da democracia nas Américas, eternizado com a esfinge na moeda de US$ 0,10.
Pois é: o candidato e a situação descrita acima são de Franklin Roosevelt e essas informações foram levantadas por investigações junto ao Senado dos Estados Unidos em 1938 e reunidas no livro How Capitalism Saved America: The Untold History of Our Country, from the Pilgrims to the Present, de Thomas DiLorenzo. Leia mais

por Cesar Maia

[...] RISCOS DE UMA COMISSÃO DA VERDADE NO BRASIL!

1. O Informe da Comissão da Verdade e Reconciliação do Peru cobre 20 anos, de 1980 a 2000. Em agosto de 2003, foi entregue ao presidente Alejandro Toledo. O relatório foi transformado no documentário "Para que Não se Repita", dividido em 12 blocos, com seis horas de duração. O escopo do informe e o período que cobre foram amplos: "Esclarecer as violações contra os direitos humanos cometidas pelo Estado e por grupos terroristas entre maio de 1980 e novembro de 2000". Cada "comissão" criada na América Latina tem um escopo e um período de análise diferentes.

2. O relatório mostra a complexidade de uma comissão desse tipo. Foram 69 mil vítimas no período: 90% de mortos e 10% de desaparecidos. O informe destaca o Sendero Luminoso/Partido Comunista Peruano, apresentando-o como um grupo terrorista. Também trata das causas históricas da violência no Peru, a discriminação de índios e negros e as diferenças sociais. Após sublinhar as características democráticas dos ex-presidentes Fernando Belaúnde e Alan García, relata ações repressivas do Exército e da polícia tidas como terroristas.

3. Em Ayacucho, base do Sendero onde lecionava seu líder, Abimael Guzmán ou "presidente Gonzalo" (preso desde 1992), concentrou-se a violência, passando depois a Lima. O governo de Alberto Fujimori, que liquidou o Sendero, tem seus méritos minimizados e, nesse caso, associa-se a ele a repressão e o terrorismo da polícia e do Exército. Destaca-se ainda o papel das milícias locais (rondas), armadas pelo próprio Exército e atuando em cada região com independência. Mesmo informando casos de terror praticados pelos "ronderos", o relatório tenta realçá-los como autodefesas das comunidades, e que teriam tido papel básico.

4. Para concluir, o informe condena a passividade da Justiça e do Ministério Público, que deveriam ter tido papéis ativos, mas seriam responsáveis, por omissão, por crimes contra os direitos humanos. O documento "esquece" o MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru), ostensivamente financiado pelo tráfico de drogas e responsável pelo sequestro múltiplo na Embaixada do Japão, desintegrado pela inteligência policial em operação cinematográfica e ao vivo, no período Fujimori.

5. De tudo o que mostra o relatório/documentário, o mais importante é o risco do trabalho de comissão similar passar a cumprir um papel político, ter uma abrangência sem limites e igualar ou encobrir excessos de forças heterogêneas. Uma comissão de tal tipo pode terminar servindo para atirar em qualquer direção e, assim, incorporar riscos de excitar e deformar a memória. Por isso, nunca poderá ser governamental nem ter cor ideológica. Deve ter foco específico e detalhado em um período.

Chavez e Kadafi

Dizem que Chavez apoiará Gaddafi até o fim. E os dois têm identidade fortíssima. A prova está aqui: vejam o traje que o líder líbio usou ao discursar para os fiéis seguidores em Tripoli.
Reparem no chapéu de Gaddafi. É um sinal da aliança com Chavez, como prova a imagem abaixo…
Para escapar da gentalha que tenta derrubá-lo, Gaddafi precisará de muito mais apoio. Não basta Chavez. Nem Chapolim Colorado.

Sei que o assunto é sério. Mas não resisti…
Sobre Gaddafi e suas estranhas declarações, confiram a análise de Luiz Carlos Azenha, no “VioMundo
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Hugo Chavez e a pílula alucinógena de Gaddafi
por Luiz Carlos Azenha

Quando a gente acha que já ouviu de tudo na vida, aparece o Muammar Kadafi dizendo que a Al Qaeda e pílulas alucinógenas são as razões para a revolução na Líbia. As pílulas, pelo que entendi, teriam sido distribuídas aos jovens rebeldes (será que ele está falando do ecstasy?).

De acordo com Fidel Castro, haveria por trás da revolta o interesse da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de controlar a Líbia. Será que o comandante também tomou a pílula?...

Bem, a teoria de Fidel não é completamente inverossímil, se considerarmos que a Líbia é um importante fornecedor de petróleo para a União Europeia e os Estados Unidos. Porém, tenho comigo que estava todo mundo feliz com o Kadafi no mundo. O ditador líbio tinha se dedicado em anos recentes a restabelecer suas relações políticas e comercias com o Ocidente. Como integrante da OPEP, jogava pesado em defesa do valor do petróleo (nesse campo, em aliança estratégica com a Venezuela). A Líbia fez investimentos em vários países da África, rompendo o isolamento geográfico do Saara e, com isso, Kadafi fez muitos amigos no continente.

Aparentemente quem não estava contente com ele era uma parcela considerável dos próprios líbios.

Quem é vivo sempre aparece

José Serra - No vale-tudo, calúnia e distorção da história...

Como jura que não está em campanha porque não é candidato a presidente do PSDB, a prefeito de São Paulo em 2012 e a presidente da República em 2014, José Serra ressurge do nada e afirma em seu twitter que o ditador da Líbia, Muamar Kaddhafi foi mimado pela diplomacia lulista.

Corajoso na capacidade de perpetrar mais uma completa distorção histórica, nessa 3ª ele colocou no microblog duas mensagens. "Khaddafi, da Líbia, foi terrorista internacional: derrubou vôo de passageiros da Pan Am sobre a Escócia. Amigo do PT e de Lula", afirmou Serra em um dos posts. Em outro, o derrotado à Presidência em 2010, escreveu "Sempre mimado pela diplomacia lulista, o ditador Khaddafi poderá cair, apesar e por causa dos massacres que está promovendo."

O PT informou que o partido nunca teve relações formais com qualquer entidade na Líbia. No mais, vamos à verdade dos fatos: o que consta no site do nosso Ministério das Relações Exteriores é que as relações entre Brasil e Líbia ganharam "densidade" nos anos 1970, na ditadura militar, com visitas bilaterais e participação de empresas brasileiras em projetos na Líbia.

José vai perder a 3ª eleição presidencial

Em abril de 1992 (governo Collor), após os atentados, com suposto envolvimento líbio, que levaram à queda de aeronaves da Pan Am na Escócia, o governo brasileiro acatou e colocou em vigor as sanções contra a Líbia recomendadas pela ONU. As sanções foram suspensas em 1999. Governo de quem? Início do 2º governo FHC - e de José Serra, seu ministro do Planejamento e da Saúde.

Aliás, em outubro de 2000, um general líbio, Mustapha Kharoubi, enviado por Khaddafi, visitou o Brasil e foi recebido pelo presidente FHC.  Em março de 2003, o filho de Khadafi, Al Saadi Muamar Kadhafi, visitou o Brasil e, em dezembro de 2003, o então presidente  Lula visitou a Líbia para participar da Cúpula da União Africana (OUA).

E agora José? Serra continua o mesmo. Para ele vale tudo, de calúnia a distorção dos fatos históricos. Tudo para atingir seu objetivo de desqualificar o adversário. Vai perder de novo a qualquer coisa que concorrer. Já perdeu duas eleições presidenciais (e uma de prefeito de São Paulo) e perderá a 3ª se for por esse caminho.

States - Jovem britânico banido por ofender Obama via email

Amigos internautas, lembram do jornalista que fez uma reportagem contra o presidente Lula no começo do governo dele?...
Lembram da cobertura que o PIG fez?...
O presidente foi taxado de Ditador, Autoritário o escambau, etc e tal [Recordando]...
Pois bem, leia abaixo o que aconteceu nos States e como um dos muitos jornaiszinhos do pig publicou a matéria. Prestem atenção ao tom. Cadê a indignação?...

O Globo
Um adolescente britânico de 17 anos foi banido para sempre dos Estados Unidos por, após uma bebedeira, escrever um email para o presidente Barack Obama repleto de ofensas, como informa nesta segunda-feira o diário "New York Daily News".
A mensagem foi enviada por Luke Angel, da Inglaterra, no último sábado - quando os americanos lembravam os nove anos dos atentados do 11 de Setembro - e acabou interceptada pelo FBI, a polícia federal dos EUA.
O adolescente então recebeu a visita das autoridades britânicas em sua casa em Bedfordshire, na Inglaterra, e admitiu ter enviado o email para a Casa Branca, embora ainda não consiga lembrar o que escreveu.
- Ele enviou um email para a Casa Branca com uma linguagem totalmente ameaçadora e abusiva - disse um porta-voz da polícia britânica.
Além disso, Luke, que não foi detido e não enfrentará qualquer processo criminal, foi informado de que não poderia nunca mais entrar nos EUA.
- Eu realmente não me importo com isso. Sei que meus pais não estão muito felizes. A polícia veio aqui, tirou uma foto minha e disse que eu estava banido dos EUA - contou à imprensa britânica o jovem, que explicou que enviou a mensagem após ver um programa na TV sobre o 11 de Setembro.

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Afasta de mim esse cálice

Impulsividade de Lula e assessores
tresloucados transformam uma questão
prosaica criada por reportagem do
New York Times em uma grande crise

Leandra Peres

AP

Lula e a bebida
O lance final de uma semana agitada
O "Índice Ieltsin" de álcool e poder
Leia reportagens diárias sobre o governo Lula

Na semana passada, o governo conseguiu provar que é capaz de transformar até seus melhores momentos em crises de grandes proporções. Isso requer um certo esforço. Depois que o jornal The New York Times, o diário mais influente dos Estados Unidos, publicou reportagem de meia página, em sua edição de domingo 9, dizendo que o consumo de bebida alcoólica pelo presidente Lula virara "preocupação nacional", o governo viveu um raro momento de unanimidade. Até os adversários se levantaram em defesa do presidente. "Conheço o Lula há trinta anos e não vejo nenhuma razão para o jornal fazer tal suposição", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que classificou a reportagem de "leviana". "O presidente tem nossa total solidariedade. A reportagem é injusta e maldosa", disse o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin. Na terça-feira, quando o interesse pelo assunto já estava minguando e quase ninguém mais parecia interessado no mexerico, o Palácio do Planalto anunciou a decisão de expulsar do país o autor da reportagem, o jornalista Larry Rohter, 54 anos, que trabalha no Brasil desde os anos 70.
Com a reação autoritária e exagerada, o governo virou o jogo contra si de forma espetacular. Até os aliados reagiram mal. "Não foi a melhor resposta", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, que, junto com outros senadores, formou uma comitiva para apelar ao presidente para que retrocedesse. Em vão. Numa cena que só a esquizofrenia petista parece capaz de exibir, até o assessor de imprensa de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho, deu entrevista dizendo que, por disciplina, acatava a decisão do governo, mas confessou abertamente que não concordava com ela. Os principais jornais do mundo ignoraram a peça de Rohter e não comentaram os hábitos etílicos do presidente. Por obra e graça da reação descabida do governo, o assunto acabou ganhando dimensão planetária. Na terça-feira, segundo um levantamento preparado pelo próprio Planalto, o assunto saíra sem muito destaque em apenas sete jornais, a maioria da América do Sul. Na quarta, após a decisão de expulsar o jornalista, a notícia estava em 26 jornais. Até noKhaleej Times, dos Emirados Árabes Unidos. No dia seguinte, aparecia em 38 títulos, inclusive na Xinhua, a agência de notícias da China, para onde Lula embarcará nos próximos dias. Em todas as reportagens estrangeiras ouvia-se o eco de uma indagação constrangedora – e ela não tinha nada a ver com a questão de quanto e com que freqüência Lula bebe. A indagação era bem pior: será que o Brasil retrocedera ao estágio de uma republiqueta latino-americana dirigida por um ditadorzinho caprichoso e impulsivo?

Joedson Alves/AE
O PORTA-DISPARATE
Singer, o porta-voz que defendeu o arreganho autoritário do governo: ele enxerga miragens

Sintomaticamente, nenhum ministro veio a público defender o governo. José Dirceu, que fala até do que não deve, silenciou. Antonio Palocci ficou calado com receio de trair em público sua convicção de que a medida foi absurda. O ministro Luiz Gushiken foi o mais empolgado defensor da expulsão por ver, delirantemente, na reportagem de Rohter a peça de uma vasta conspiração da Casa Branca contra o Brasil e Lula. A análise de Gushiken não é apenas lisérgica. Ela embute uma visão de mundo em que não parece existir lugar para a imprensa livre e independente. O New York Times seria o último jornal americano a fazer algum tipo de dobradinha com o governo de George Bush. O jornal faz oposição sistemática e declarada ao ocupante da Casa Branca. Nos últimos meses, em reportagens e artigos de seus colunistas, entre outros adjetivos pejorativos, descreveu George W. Bush como "iletrado", "desorientado", "maria-vai-com-as-outras", "bélico" e "o maior responsável pela onda de antiamericanismo que se espalha pelo mundo". Gushiken insistia na quarta-feira: "No Japão, se um jornalista ofendesse o imperador também seria expulso". Outro defensor da expulsão do jornalista foi o porta-voz da Presidência André Singer. Na quinta-feira, em artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, Singer teceu uma antologia de disparates e, como quem acredita em miragem, disse que o governo tinha de restaurar um "ambiente de responsabilidade" no país.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em viagem à Suíça, deu entrevista dizendo que só falaria do caso quando voltasse ao Brasil e tomasse pé dos detalhes. Era puro disfarce. Na verdade, desde o primeiro momento, o ministro empenhou-se nos bastidores em negociar uma saída honrosa para ambos os lados. Ao saber que o escritório de advocacia Pinheiro Neto fora contratado pelo New York Times para tratar do assunto, Thomaz Bastos entrou em ação. De Berna, na Suíça, ligou para seus velhos colegas do Pinheiro Neto e começou uma negociação que duraria três dias. De início, combinou-se que os advogados escreveriam uma petição ao Ministério da Justiça solicitando a reconsideração do cancelamento do visto do jornalista americano. A petição foi escrita em São Paulo, submetida aos advogados do jornal em Nova York e ao ministro em Berna. Nada menos que seis versões percorreram o circuito São Paulo–Nova York–Berna. Na última versão, o ponto que interessava ao governo era o item 7.

Celso Junior/AE
O JAPÃO NÃO É AQUI
Gushiken, o ministro que já deu lições à imprensa e defendeu a expulsão do jornalista: ele acha que estamos todos no Japão

Nesse trecho, o jornalista Larry Rohter diz que "jamais teve a intenção de ofender a honra" do presidente e reafirma seu "profundo respeito pelas instituições democráticas brasileiras, incluindo a Presidência da República". Em seguida, a carta afirma que Rohter limitou-se a "veicular comentários" e não fez "nenhum juízo de valor" sobre os hábitos de Lula. Lamenta que a repercussão da reportagem tenha causado constrangimento ao presidente e, como costuma acontecer nesses entreveros internacionais, joga a culpa nos tradutores ao dizer que, na sua opinião, a versão do texto para o português não foi fidedigna – "o que pode ter causado a ampliação do mal-entendido". Na noite de sexta-feira, Lula decidiu aceitar a carta do jornalista, concordou em rever sua decisão e deu o assunto como encerrado. O desfecho do episódio mostra que, felizmente, Lula não tem apenas assessores tresloucados a aconselhá-lo. Márcio Thomaz Bastos esforçou-se com sucesso para não manchar sua biografia de jurista e democrata com a nódoa do banimento de um jornalista. O último caso parecido ocorreu em 1970, no auge da ditadura, quando o general Emílio Garrastazu Médici expulsou um correspondente da agência de notícias France Presse que publicara no exterior a lista dos presos políticos que um grupo guerrilheiro queria libertar em troca da soltura do embaixador suíço seqüestrado. Até a semana passada, nunca um governo democrático no Brasil expulsara um jornalista.
A decisão de Lula de considerar o assunto página virada esvaziou o lado agudo da crise. Outras facetas do episódio, porém, permanecem inalteradas. A principal é a de que claramente os mecanismos de decisão do governo Lula têm vários parafusos soltos. O governo conseguiu armar uma tempestade em copo d'água a partir de uma questão que poderia ter sido resolvida com elegância e até um pouco de humor. Que tal terem convidado Rohter para tomar uns drinques na Granja do Torto? Se fosse o caso de ser ferino, os assessores do presidente poderiam ter dito ao correspondente americano que um de seus ex-colegas, o notório Jayson Blair, também seria bem-vindo. Como se sabe, Blair é o jornalista que durante anos publicou matérias fantasiosas e inteiramente inventadas no New York Times, o que o levou a ser demitido e o jornal à maior crise de credibilidade da sua história. O Planalto, porém, agiu como se a reportagem tivesse pinçado um nervo exposto ao sugerir que a bebida interfere no discernimento do presidente Lula e que isso é uma preocupação nacional. Que não é preocupação nacional é fato. Os brasileiros de maneira geral davam a esse tema o mesmo grau de preocupação que destinam à diminuição do tamanho dos biquínis nas praias. Na elite, entre políticos e empresários, o assunto sempre foi comentado em tom de mexerico, sem que aparecessem histórias factuais que sustentassem essa versão. Também não existe nenhuma evidência de que a bebida consumida por Lula interfira na sua atuação como presidente.
Lula chegou ao topo da carreira política sendo em todas as fases uma pessoa que os brasileiros definem como "bom de copo". Para uma imensa parcela da população brasileira, isso equivale a um elogio tão formidável quanto "bom de cama". Como presidente, Lula tem bebido menos do que sua média histórica, que, como todos os seus companheiros e amigos sabem, ultrapassa sensivelmente o que se convencionou chamar de "beber socialmente". Além de beber bem menos agora, o presidente se preocupa com sua imagem. "Não sou nenhum alcoólatra, todos sabem que bebo prazerosamente. Bebo e fumo", comentou Lula na quinta-feira, ao receber a comissão de senadores que lhe pediu para voltar atrás na vendeta contra o jornalista americano. Em seguida, Lula tocou no ponto central: "Ninguém pode dizer que tomei uma decisão de governo porque bebi ou não bebi".

AP
SOBRIEDADE? ONDE?
Bush filho, tal como o pai, fez guerra no Iraque: ele venceu o alcoolismo, mas até parece que bebe umas

O álcool se transforma em vício quando a pessoa não consegue parar de beber no momento em que deseja. Quando quer, Lula passa meses sem beber. Em outras ocasiões, bebe com mais freqüência e intensidade. Há três meses, durante um jantar na casa do presidente da Câmara, o deputado João Paulo, onde foram comemorados o 24º aniversário do PT e a posse da nova liderança do partido, Lula bebeu com gosto diversas doses de uísque com gelo. "O presidente não estava ali para falar de política, e sim para tomar cachaça e brincar", dizia o deputado Anselmo Abreu a quem perguntava se o presidente se excedeu na bebida. Na saída da festa, Lula foi fotografado dentro do Omega presidencial, já entregue ao sono, antes mesmo que o carro partisse rumo à residência oficial.
Um dos sintomas de que Lula "está dando um tempo" na bebida, como ele próprio diz, é seu apego aos exercícios físicos, especialmente à esteira. Quando deixa de se exercitar, é sinal de que passou a beber um pouco mais que o habitual. Na longa viagem que fez a diversos países da Europa no ano passado, Lula passou quase todo o tempo sem beber. Nem vinho ele aceitava nas recepções oficiais. Em todas as escalas mandou colocar uma esteira no quarto. Levantava cedo para fazer suas corridas. A dois dias do término da viagem, na última escala, na Espanha, o presidente abandonou a esteira. Bebeu vinho e uísque e chegou a reclamar de ressaca. Um senador do Nordeste conta que, durante a campanha presidencial, viu Lula beber alegremente antes dos comícios. Em um deles, excedeu-se na bebida e no entusiasmo. Sempre que se aproximava demais da beirada do palanque, um dos seguranças o detinha pela parte de trás do cinto, de modo que ele não corresse o risco de cair. Diversas vezes, na campanha de 2002, depois de recepções noturnas na casa de correligionários, Lula voltava ao hotel alterado pela bebida. Em uma dessas ocasiões, ele tirou os sapatos e se deitou em um sofá no hall do hotel. "Hoje, o Lula bebe muito menos do que bebeu em toda a sua vida adulta. Mas não precisa de ninguém para vigiá-lo ou para lhe dizer que não se exceda nas doses. Ele tem autocontrole", garante um dos mais antigos auxiliares do presidente.
A bebida nunca foi estranha à vida de Lula. Sua avó materna, dona Otília, tomava porres homéricos. Ficava quatro ou cinco meses sem colocar uma gota de álcool na boca, mas, de repente, punha-se a beber até cair. "Quantas vezes meus irmãos tiveram de pegar ela dormindo no meio do mato, na estrada, na beira do asfalto... Coitadinha. Não sei por que razão ela bebia. Mas bebia muito, muito", contou Lula em depoimento à jornalista Denise Paraná, autora do livro Lula – O Filho do Brasil, um retrato magistral da trajetória política, pessoal e familiar do presidente. O pai de Lula, Aristides, era abstêmio enquanto vivia no sertão nordestino, mas depois que migrou para São Paulo passou a beber de forma descontrolada. Batia nos filhos quando estava alcoolizado. Em Lula – O Filho do Brasil, um irmão do presidente, Genival Inácio da Silva, o Vavá, diz o seguinte: "Meu pai bebia sempre. Tomava pinga. Depois passou para o conhaque, que era melhor. Depois passou para a cerveja, que era melhor. Se ele pudesse beber cinqüenta pingas, ele bebia. Ele não tinha controle. Chegava em casa de fogo". Jaime, outro irmão de Lula, também teve problemas com alcoolismo.
Em sua militância em São Bernardo do Campo, como o próprio Lula já contou, a bebida também aparecia com freqüência. No sindicato dos metalúrgicos, costumava receber os amigos com "um cafezinho" ou "uma cachacinha". De tanto se falar em cachaça ou pinga, produziu-se o equívoco de que Lula gosta de aguardente. Não é verdade. Assim como o presidente Jacques Chirac, um francês que não gosta de vinho, Lula é um brasileiro que não é muito dado à cachaça. Prefere uísque. Da marca Logan. Por coincidência, a predileta do ex-presidente Fernando Collor. Quase todos os dias, quando chega ao Palácio da Alvorada depois do trabalho, Lula descarrega as tensões com uma ou duas doses de uísque. Nas ocasiões em que bebe um pouco mais que o habitual, o presidente fica mais emotivo do que em seu estado natural. Raramente, porém, se deixa vencer pela bebida. "Não fui eleito para santo", disse, ao tomar café-da-manhã na quarta-feira com líderes da base aliada na Câmara. À noite, em jantar com políticos do PL, partido do vice-presidente José Alencar, bebericou uísque, mas não passou da primeira dose.
Não é de esperar que Lula tenha com a bebida a mesma conturbada relação que teve com a garrafa seu colega americano. George W. Bush foi alcoólatra. Recuperado, não belisca um copo há vinte anos. "Se tivesse continuado a beber, a essa hora estaria não aqui com vocês, no Salão Oval da Casa Branca, mas em algum bar do Texas sem saber o que fazer depois", disse Bush a um grupo de deputados que o visitou no fim do ano passado. Lula teve mais sorte que Bush. Nunca foi alcoólatra e chegou ao Palácio do Planalto sem ter de se tornar abstêmio. O mais certo é que termine o mandato sem se ver forçado a abandonar suas doses de uísque e suas cigarrilhas holandesas que tanto conforto lhe dão. Que continue fazendo bom proveito.

"Minhas fontes foram FolhaEstado e Globo"
O governo me chamou de "fonte sem confiabilidade". Foi o maior elogio que já recebi. Vou emoldurar e pendurar na parede. Imagine se eu fosse considerado um "homem de confiança" do governo. Eu mudaria de profissão. O único problema é que não sou uma fonte do New York Times. O correspondente do jornal não falou comigo. Apenas citou um artigo que publiquei em VEJA cerca de dois meses atrás.
Nesse artigo, eu mencionava algumas ocasiões públicas em que Lula apareceu com um copo de bebida na mão. Colhi as informações nas páginas de 
Folha, Estado e Globo. Esses jornais foram minhas fontes. Conseqüentemente, foram também as fontes do New York Times.
Além de pouco confiável, fui retratado como agitador a soldo dos americanos. O Jornal Nacional mostrou vinhetas de Chico Caruso em que apareço na redação carioca doNew York Times fabricando notícias contra Lula para acobertar as torturas de Bush dos prisioneiros no Iraque. Quando meus protetores americanos conquistarem o país, minha primeira providência será expulsar Chico Caruso.
Diogo Mainardi


Eles também expulsaram jornalistas
"A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que sonegam ou roubam, percebe onde lhe alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça." A frase de Rui Barbosa explica por que faz parte do manual básico dos ditadores cercear a liberdade de expressão e de imprensa – é dessa forma que eles tentam tapar os olhos dos cidadãos. E, quando não basta calar os jornalistas de seu próprio país, os tiranos expulsam correspondentes estrangeiros que reportam lá fora o que não lhes interessa que o mundo saiba. Em 1970, por exemplo, no governo do general Emílio Garrastazu Médici, o jornalista francês François Pelou, que chefiava a sucursal da agência France Presse no Rio de Janeiro, viu-se obrigado a sair do Brasil por ter noticiado as condições impostas pelos seqüestradores esquerdistas do embaixador suíço Giovanni Bucher. Médici figura ao lado do chileno Augusto Pinochet e do aiatolá iraniano Khomeini, entre as mais de duas dezenas de personalidades sinistras que expulsaram jornalistas estrangeiros do território de seu país nos últimos 35 anos.
Ditadores também podem lançar mão de outros métodos para livrar-se de correspondentes. É o caso do cubano Fidel Castro, que costuma infernizar a vida dos repórteres forasteiros que ousam incomodá-lo além da conta. Em todas as ditaduras, não importam a latitude ou a coloração política, o argumento para expelir jornalistas estrangeiros é sempre o mesmo: o profissional foi "irresponsável" ao dar esta ou aquela notícia ou promoveu "um ataque à soberania do país" ao descrever de maneira pouco agradável o ditador em questão. Infelizmente, as semelhanças com as palavras dos comissários de Lula, para justificar a cassação do visto do correspondente americano Larry Rohter, são mais do que uma coincidência. Revelam um viés autoritário de um governo eleito de forma democrática – viés que causou uma nódoa incancelável, independentemente do desfecho do episódio.

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