Leon Trotski foi tão importante quanto Lênin, nos preparativos, na deflagração e nos primeiros anos da revolução bolchevique. Tanto que uma vez conquistado o poder, o novo regime voltou-se para ele quando doze países capitalistas mantiveram ou enviaram tropa armada para apoiar russos brancos, cossacos e generais dissidentes na tentativa de estrangular aquele fantasma erigido pela miséria e a revolta. Lênin sugeriu que depois de chefiar a delegação enviada a Brest-Litowski para obter o cessar fogo com os alemães, Trotski fosse nomeado Comissário da Guerra e assumisse o comando do recém formado Exército Vermelho. Durante três anos, a bordo de um trem-blindado, ele percorreu as múltiplas frentes de batalha, estimulando a resistência. As forças invasoras dispunham de grandes recursos e contavam com o apoio da mídia européia e americana da época, que enviavam correspondentes e repórteres para acompanhar a tentativa de sufocar o governo sediado em Moscou. Como sempre, os jornalistas exageravam.
Numa das batalhas onde os bolcheviques levaram a pior, os telegramas mandados para as principais capitais mundiais davam conta de que Trotski fugira a poucos minutos de ser derrotado, não conseguindo levar no trem o seu cachorro de estimação, que os adversários haviam capturado.
Depois de a História haver encenado mais uma de suas tragédias, vitorioso militarmente mas perseguido por Stálin e obrigado a refugiar-se no México, Trotski escreveu em suas memórias: nunca me preocupei em desmentir aquelas notícias, até porque, jamais tive um cachorro...
O episódio se conta a propósito do exagero repetido todos os dias pela chamada grande imprensa a respeito das dificuldades enfrentadas pela presidente Dilma na condução do governo. É claro que o mar não está para peixe.