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Carlos Chagas: Trotski, Dilma e o cachorro


Leon Trotski foi tão importante quanto Lênin, nos preparativos, na deflagração e nos primeiros anos da revolução bolchevique. Tanto que uma vez conquistado o poder, o  novo regime voltou-se para ele quando  doze países capitalistas mantiveram ou enviaram tropa armada para apoiar russos brancos, cossacos e generais  dissidentes  na tentativa de estrangular aquele fantasma erigido pela miséria  e a revolta.  Lênin sugeriu que depois  de chefiar  a delegação enviada a Brest-Litowski para obter o cessar fogo com os alemães, Trotski fosse nomeado Comissário da Guerra e assumisse o comando do  recém formado Exército Vermelho.    Durante três anos, a bordo de um trem-blindado, ele percorreu as múltiplas frentes de batalha,  estimulando a resistência.   As forças invasoras dispunham de grandes  recursos  e contavam com o apoio da mídia européia e  americana da época, que enviavam  correspondentes e repórteres para acompanhar  a tentativa de sufocar o governo  sediado em Moscou. Como sempre, os jornalistas exageravam.
                                                        
Numa das batalhas onde os bolcheviques levaram a pior, os telegramas mandados para as principais capitais mundiais davam  conta  de que Trotski fugira a poucos minutos de ser derrotado,  não conseguindo  levar no trem o seu cachorro de estimação, que os adversários haviam  capturado.
                                                        
Depois de a História haver encenado  mais uma de suas tragédias,   vitorioso militarmente mas perseguido por Stálin e obrigado a refugiar-se no México,  Trotski escreveu em suas memórias: nunca me preocupei em desmentir aquelas notícias, até porque, jamais tive um cachorro...
                                                        
O episódio se conta a propósito do exagero repetido todos os dias  pela chamada grande imprensa a respeito das dificuldades enfrentadas pela presidente  Dilma na condução do governo. É claro que o mar não está para peixe.