Tentei descrever para ela o que entendo por “tocar o chão”; e agora abro o papo aqui. Escrevo de coração para registrar e ouvir de vocês sobre esse processo que para mim infelizmente ainda é muito raro. Vou focar no contexto de uma relação de casal, mas é bom manter em mente que isso se aplica a todas as outras relações, entre amigos ou em uma empresa, por exemplo.
Mostrando postagens com marcador Gustavo Gitti. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Gustavo Gitti. Mostrar todas as postagens
Nós estaremos todos mortos
[...] em breve.
Este post é resultado de nossas práticas, diálogos e treinamentos na Cabana PdH. Quer entrar no Dojo?
Outros artigos escritos por Gustavo Gitti
Lembretes diários assim ajudam a sustentar a perspectiva da morte e direcionar a vida ao essencial. Afinal, não é muito inteligente esperar por um câncer para nos lembrar do que vale a pena.
Do mesmo modo que destila a vida, o olho da morte pode melhorar os relacionamentos. Para abri-lo, vamos observar o que acontece em um velório caricato.
Todos começam a conversar sobre sua conexão com o falecido. O filho fala do pai para o sócio, que descreve o empresário que só ele via. A namorada surpreende a ex-mulher com histórias que não parecem vir de seu ex-marido. O amigo do judô dá risada com o amigo da dança de salão. A diretora de uma ONG revela como ele a ajudou secretamente por décadas. Só conhecemos uma pessoa quando ela morre. Mas talvez possamos antecipar o processo.
O que vemos quando olhamos para esposas, namorados, amigos, filhas, funcionários?
O outro surge 100% como a identidade que foi construída pela relação. Começamos a enxergá-lo de um jeito e, em pouco tempo, não mais desconfiamos de que ele seja muito mais do que nos aparece, de que outros o ativem de outro modo, de que ele encarne diferentes risadas, olhares, gestos. A cegueira se evidencia quando o flagramos em outro mundo, reencontrando um amigo de infância ou palestrando. É como se fosse outra pessoa!
Nunca abraçamos alguém por inteiro — e nem deveríamos tentar. Sua esposa não é sua esposa. Seu namorado nunca foi nem nunca será seu namorado: ele é um homem que está vivendo com você. Conectar-se com essa pessoa livre, não apenas com suas identidades, é o melhor jeito de aprofundar a relação.
Conhecer o outro muitas vezes significa congelar o outro. Se você acha que ela não gosta ou nunca faria tal coisa, espere pelo próximo namorado… Para realmente conhecer alguém, é precisodesconhecê-lo, relacionar-se com o espaço onde surgem suas faces e histórias. Liberar o outro de quem ele é.
Impedimos as pequenas mortes e renascimentos quando silenciosamente, sem saber, exigimos que o outro encarne de novo e de novo o personagem com o qual estamos acostumados. Desejamos surpresas ao mesmo tempo em que as dificultamos. Ao controlar, tentamos garantir que a relação dure, que não sejamos abandonados, que o outro não seja assim tão livre:
“Mude, mas somente dentro das mudanças que eu espero.”
Podemos deixar os outros morrerem mais antes da última morte. Conhecê-los é alimentar sua imprevisibilidade, descobrir não tanto quem a pessoa foi ou é, mas quem não é, quem pode ser.
…
* Texto publicado na revista Vida Simples em de setembro 2011.
** Estamos concentrando num só lugar pessoas, práticas sugeridas, projetos, artigos de aprofundamento, conversas e experimentos coletivos focados em transformar nossa vida (corpo, mente, trabalho, dinheiro, relacionamentos…). Você está convidado.
Professor de TaKeTiNa, autor do Não2Não1, colunista da revista Vida Simples e coordenador do lugar (ex-Cabana). Interessado na transformação causada pelo ritmo e pelo silêncio. | www.gustavogitti.com
Outros artigos escritos por Gustavo Gitti
Assinar:
Postagens (Atom)