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Você ainda fica com as bochechas vermelhas depois?...

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“Você não mudou nada. Sempre com cara de criança. Sempre calado. Pensativo. Às vezes eu tinha que fazer a pergunta e a resposta para que nossas conversas não morressem.”
Pedro arregalou os olhos e encarou Márcia. Fazia cinco anos que não a via, mas parecia que estivera com ela na noite anterior. Fora a roupa, agora muito mais elegante, ela não mudara nada. Os cabelos pretos como uma noite siberiana de inverso continuavam a escorrer pelas suas costas como uma capa de super-herói.
Os óculos pretos de aro fino, antes sem marca, agora Armani, ainda lhe davam o ar ingenuamente sexy de professora. Os grossos lábios vermelhos sem batom – batom para quê? Um fêmur deslocado aos 15 anos deixara a perna direita de Márcia ligeiramente menor que a esquerda. Pedro adorava vê-la caminhar. Ninguém se movia com tanta graça, achava. O maior espetáculo da Terra. Márcia vestia um tailleur rosa de executiva. Subitamente passou pela cabeça de Pedro a idéia absurda de dizer coisas assim: “Ei, você sabe que eu prefiro você de jeans e camiseta branca, como no passado? Você ainda fica com as bochechas vermelhas depois do sexo? Você pode me deixar ver, pela última vez, aquela tatuagem de golfinho na virilha direita?”
Quantos anos ela já tinha? Trinta? Não, 31. Era quatro anos mais nova que ele. Pensou na Sofia de Machado de Assis. “O tempo, como um escultor vagaroso, a ia esculpindo ao correr dos longos dias.” Uma vez, no primeiro aniversário do dia em que alugaram um apartamento e foram morar juntos, escrevera isso no cartão em que lhe dera as obras completas de Machado em três volumes. Quando o deixou, ela não as levou. Os livros de Machado jaziam desprezados numa estante do pequeno apartamento em Pinheiros. Pedro se perguntou o que Márcia teria feito do cartão. Provavelmente o jogara fora, pensou. Ela jamais guardara nada, ao contrário dele.
Ele era médico pediatra, ela gerente comercial de uma editora de revistas. Ele fora um aluno dedicado e em certos anos brilhante, ela estudara sempre apenas o suficiente para passar. Às vezes, nem isso. Mas é possível que ela fosse mais inteligente que ele. A pior parte da vida de médico, para ele, era ser chamado de doutor. Doutor Pedro. Achava pomposo, achava ridículo. Pedia a todos que o chamassem simplesmente de Pedro. “Você deve ter achado estranho eu aparecer depois de tanto tempo, não é, Pedro? Telefonar e marcar um almoço exatamente nesse restaurante.”
Esse restaurante. A cantina Speranza, na Bela Vista. Freqüentavam com assiduidade nos bons tempos. Um restaurante charmoso e barato, bom para gente de dinheiro contado como ele ontem e hoje e para ela ontem.
“Você nunca quis ir a outros restaurantes. Sempre a Speranza, sempre a lazanha à romanesca, sempre a Coca-Cola, sempre a musse de chocolate. A primeira coisa em que eu reparei hoje foi o seu pedido. Lazanha e Coca. Se pelo menos fosse Coca zero. Quase que eu falei quando o garçom anotou o pedido: e musse de sobremesa para ele. Pedro, Pedro, você nunca vai mudar?”
Pedro achou no tom de voz de Márcia alguma coisa que sugeria que ela podia estar à beira de lágrimas ou gargalhadas. Não estava preparado para lágrimas. Preferia gargalhadas. Era mais fácil enfrentá-las.
“Eu precisava dizer certas coisas. Coisas que não foram ditas.”
Pedro fez um gesto com as mãos como dizendo que não, ela não tinha que lhe dar satisfação nenhuma. Algumas palavras talvez tivessem importância num passado já remoto, não agora.
“Quando eu decidi ir embora, sabia que não conseguiria falar com você. Olhar para você e dizer adeus. Mas imaginava escrever uma carta que explicasse tudo. Aí eu peguei a caneta e… e nada. A gente pensa que certas coisas são mais fáceis de escrever do que de dizer, mas isso é uma ilusão.”
Passou rápido por Pedro a lembrança de que Márcia jamais fora, mesmo, uma boa redatora. Estudara jornalismo, mas depois se fixara no departamento comercial de uma revista. Vendia anúncios com competência, mas tinha problemas sérios com o português. Tinha o maior atributo de um bom vendedor: a simpatia instantânea.
Ela tirou os óculos e os pôs na mesa. Era um sinal, Pedro sabia, de que estava emocionada. Era como se a vista turva a ajudasse a enfrentar melhor certas situações difíceis. Pedro sentiu uma súbita e absurda vontade de pedir a ela que caminhasse pelo restaurante, para ver aquele andar inigualável e majestoso em sua leve oscilação, mas tinha noção do ridículo de tal pedido e permaneceu calado.
“Não sei quantas vezes iniciei um bilhete de explicação e rabisquei tudo. No fim desisti. O silêncio era mais digno do que uma carta vulgar de despedida, cheia de lugares-comuns e de erros de português.”
Uma amiga de Márcia lhe telefonou, um dia, para dizer que ela decidira sumir um pouco para pensar na vida. Deixar o emprego, deixar o namorado, deixar a cidade, deixar tudo. A amiga disse que ela fora viajar para ninguém sabia onde. Pedro dormira depois, algumas vezes, com essa amiga. Aprendeu ali que o sexo pode ser sinônimo de desespero. Naqueles dias, Pedro só se sentia vivo quando estava dentro de uma mulher.
Alguns meses depois da partida de Márcia, Pedro a viu numa coluna social, mulher de um homem 20 anos mais velho que ela, Luciano. Ele era um figurão do mundo publicitário. Conquistara leões de todas as espécies em Cannes e era sócio de americanos numa grande agência. Márcia era sua segunda mulher. Pouco mais de uma ano depois, leu também numa coluna social que Márcia e Luciano tiveram um filho. Quase desesperara ao sabê-a perdida, perdida para sempre, mas um dia atendeu uma criança com leucemia e compreendeu que seu problema até que era pequeno. Não sabia como dizer àqueles pais pobres e desesperados que em dois anos seu filhinho estaria morto.
“Quando nós fomos morar juntos, eu pensei que era para sempre, Pedro. Mas tudo mudou, depois. Você, Pedro. Você mudou, cada vez mais monomaníaco. Primeiro ouvia músicas variadas, depois só Nirvana, depois só o Acústico do Nirvana, depois só My Girl. Deus, às vezes passo dias sem conseguir tirar essa maldita música da cabeça.” Cantarolou um trecho, desafinada como sempre. Ninguém é perfeito, pensou Pedro.
Ocorreu a ele que não poderia haver prova de amor maior do que gostar de ouvir cantar uma mulher desafinada. E ele gostava de ouvi-la. “My girl, my girl / Don’t lie to me / Tell me where did you sleep last night.”
A história da música, sabia Pedro, era a história deles dois, a história de milhares, milhões de casais, aqui, ali, em todos os lugares. A falência de um romance, a tristeza, o desamparo, a perplexidade. Sempre a mesma história. Ridícula achar que um caso de amor possa ser especial, quimera vã e despropositada de amantes pretensiosos. Ocorreu a Pedro que Márcia entrara no restaurante acusando-o de não ter mudado em nada e agora o acusava de ter mudado em tudo. O que poderia chamar de caso sem solução.
“Depois foram os livros. Você lia tudo, me fez ler até Guerra e Paz. Demorei seis meses, mas consegui. Depois só Machado de Assis, depois só conto, sei o nome, Um Capitão de Voluntários. Quantas vezes você leu esse conto? Cento e oitenta, 320? E ainda dizia que era um conto menor do Machado de Assis. Menor! Eu comecei a ficar com medo. Eu tinha medo de você. Ainda tenho. Você pode imaginar o que é, de repente, descobrir que o homem com quem você dorme é um desconhecido? Um… um… um lunático?”
Márcia olhou para um jovem casal numa mesa ali perto. Estavam completamente entretidos um com o outro. Por baixo da mesa ela tocava os pés dele. De tempos em tempos ele se erguia parcialmente sobre a mesa para beijá-la.
“Parece que estou vendo a gente alguns anos atrás. Acho que um relacionamento começa a terminar quando as conversas começam a terminar. Aquele casal ali. Parece que eles poderiam conversar dias, anos sem parar. Sabe do que eu mais sinto saudade? Das nossas conversas do início. Eu gostava tanto do som da sua voz dizendo meu nome.”
Márcia fez uma pequena pausa como para se lembrar de alguma conversa que tivera, no começo, com Pedro. Depois prosseguiu. “Que coisa mais absurda ter 20 anos e acreditar em palavras tolas e sem sentido como amor. Ora, o amor. Devia estar escrito assim em todos os dicionários. Amor: o mesmo que ficção. E cuidado ao usar porque machuca.”
Márcia começou a chorar baixinho. Pedro pensou em abraçá-la, confortá-la, mas viu o absurdo de confortar quem vencera o embate entre os dois, a parte vitoriosa, a mulher que o abandonara para crescer na vida. Ele era, ali naquela mesa, o derrotado. Ao fim de alguns segundos, ela já se recuperara. Os olhos verdes estavam levemente avermelhados. E só.
“Não sei se isso tem importância, mas eu só comecei a namorar o Luciano depois que deixei você. Enquanto nós estávamos juntos, sempre fui fiel.”
Fiel. Que palavra mais ridícula, pensou Pedro. Ninguém é fiel a ninguém. As pessoas só são fiéis a si próprias. Às vezes, nem a elas mesmas. Pedro achou pelo tom de voz de Márcia que ela pronunciara a palavra fiel como se julgasse merecer uma condecoração.
“É verdade: nunca dormi com ninguém quando estávamos juntos. Eu… eu simplesmente não tinha a menor vontade.”
Era a Márcia de sempre, pensou Pedro. Usava “dormir” como sinônimo de copular. Podia ser pior, ele sabia. Márcia podia preferir “fazer amor”. Falava de Luciano como se fosse um velho conhecido de Pedro.
“Não podia terminar bem. Você parecia não gostar mais de nada, só de ler Machado de Assis e escutar o Nirvana. Eu tinha uma festa, você não ia. Queria ver um filme, você não ia. Pareço está ouvindo o que você dizia de cinema. Cultura de preguiçoso. Quem não tem preguiça de lê livro. Quem tem vê filmes. Você sempre foi tão cínico. Mesmo agora. Eu falo essas coisas todas, tão importantes para mim, tão duras que levei cinco anos para conseguir dizer, e você me olha impassível, com um sorriso pregado no canto dos lábios. Eu nunca atingi você, não é, doutor Pedro?” Ela acentuou a palavra doutor. “Me pergunto quantos dias você demorou para perceber que eu tinha ido embora.”
Pedro achou que não era o momento de falar no quanto sofrera. Não ia falar no dia em que pegara uma tesoura e, num acesso de fúria, rasgara todas as fotos do dois. Como sempre, quem precisava falar era ela, não ele. Reparou que ela não tocara na comida, uma salada de salmão acompanhada de água sem gás. Tudo bem, Márcia não fora ali para comer.
“Ainda no dia anterior eu esperei alguma coisa, um gesto, um sinal que mostrasse que eu tinha alguma importância pra você. Que você me achava tão importante quanto My Girl e um Capitão de Voluntários. Mas nada. Você tinha se refugiado num mundo no qual eu não conseguia entrar. A sua indiferença me magoava mais do que tudo. Mais do que as espinhas que eu tive aos 14 anos. Mais do que a tentativa de estupro que eu sofri de um primo meu aos 16.”
Pedro demorara algum tempo para entender que essa indiferença fingida era apenas uma autodefesa errada e inútil. Sabia que perderia Márcia, algum dia, para alguém mais adequado que ele. Um homem que a levasse para dançar, para viajar, que a fizesse sorrir. Alguém como Luciano. Pedro sempre olhara Márcia de cima para baixo, uma perspectiva que só poderia mesmo levar o casal ao colapso. Márcia e Luciano parecem feitos um para o outro. Dois vitoriosos, que se olhavam de igual para igual. Pareciam tão felizes, os dois, nas fotos das colunas sociais.
Por saber que a perderia, Pedro construíra um mundo ao qual Márcia não pertencia. Uma tolice, sabia agora, mas a vida é exatamente isso, uma sucessão interminável de tolices. E a gente só percebe que cometeu um erro grave num relacionamento depois que já é muito tarde para corrigi-lo.



A Linha (Lula) a Agulha (Dirceu)

A agulha passa por vários estágios de sofrimento até aprender sua função: o forno abrasador da metalúrgica, o frio intenso da água em que é temperada, o peso esmagador da prensa que a faz atingir sua forma ideal.
A partir daí, precisa estar sempre dura, brilhante, e afiada. Depois de todo este aprendizado, ela encontra sua razão de viver: a linha.
E faz o possível para ajudá-la: enfrenta os tecidos mais resistentes, abre os buracos nos locais certos. Mas, quando termina seu trabalho, a misteriosa mão da costureira torna a colocá-la em uma caixa escura; depois de tanto esforço, sua recompensa é a solidão.
Com a linha, entretanto, a história é diferente: a partir deste momento, passa a ir a todos os bailes e festas.
by Machado de Assis

Um homem ridículo pode mudar a vida da gente.

Estava eu sentado em uma mesa de calçada, tomando meu café da manhã, quando passa por mim um homem ridículo.
Andando pela rua de forma confiante e decidida. Completamente ignorante do fato de ser tão ridículo. De estar tão fora do padrão, da regra, do correto. De ser tão feio, tão mal-vestido, tão tosco. O homem ridículo estava todo errado.
ão vou descrever o homem ridículo. Seria impossível descrevê-lo sem ser cúmplice de sua ridicularização, sem fazer vocês também o acharem ridículo.
Porque, um segundo depois, bateu a culpa, caiu a ficha, estourou a consciência.
E pensei: para uma ou mais pessoas, esse homem ridículo é a pessoa mais amada da vida, a pessoa mais importante do mundo. Para algumas pessoas idosas, ele sempre vai ser o bebê lindo que foi um dia, a criança cheia de promessa, o adolescente vigoroso e energético.
Que apesar dele estar passando pela rua a vinte metros de mim, de eu só estar enxergando-o por breves segundos, de eu nunca ter ouvido sua voz ou interagido com ele de qualquer maneira, de ele ser para mim só um figurante sem fala no ó-tão-importante filme da minha vida, de ele ser apenas uma figura de cartolina exemplificando o total oposto do padrão de beleza vigente….
Que ele era uma pessoa.
Caralho, uma pessoa.
Vocês entendem a enormidade disso?
Uma pessoa igual a mim. A MIM! Com os mesmos sentimentos. Que dá tanta importância a si mesmo quanto eu me dou. Que sempre viu tudo pelos seus próprios olhos. Que sempre sentiu todas as suas dores. Uma pessoa plena. Um homo sapiens adulto. Um indivíduo da espécie dominante do único planeta habitado que conhecemos. Por tudo que se sabe, ele é o ápice da evolução do cosmos. Ali, passando por mim, já se afastando. Tão ridículo.
Se esse homem ridículo morresse hoje, agora, fulminado por meu implacável julgamento, haveria gente sofrendo dor profunda, chorando, trabalhando o luto, relembrando melhores momentos compartilhados. Aquele homem ridículo deixaria um vazio talvez insuperável em corações que nem conheço.
Então, ele sumiu atrás de uma esquina, mas apareceu uma senhora de vestido verde, depois, uma adolescente patinadora, um ruivo e seu beagle, um gari de laranja, e foi quase que como uma sobrecarga de informação: todos pessoas. Cada um. Nenhum deles figurantes do filme da minha vida. Todos protagonistas de seus próprios filmes. Pessoas plenas.
Aí, finalmente, me dei conta: o único homem ridículo ali era eu.
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Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // todos os meus textos são rigorosamente ficcionais. // se gostou, mande um email, me siga nofacebook, compre meus livros, faça uma doação ou venha às minhaspalestras. e eu te agradeço.

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Quem tem medo de morrer?

“O impossível” (1940), de Maria Martins
As pessoas mais felizes, as que vivem no presente e aproveitam cada minuto, são as que menos têm medo da morte.
As pessoas que mais escuto falar em medo da morte são sempre aquelas que mal vivem.
Quem viveu quarenta anos felizes, lindos e intensos não tem medo de morrer, pois sempre terá tido quarenta anos felizes, lindos e intensos.
Quem viveu setenta anos de freio puxado, eternamente adiando sua gratificação, sonhando sempre com um futuro que nunca chega, essa pessoa se péla de medo de morrer, pois a morte é justamente a negação concreta do futuro lindo que ela sempre se enganou que teria.
* * *
Antes de irmos mais longe: muita gente confunde “ter medo de algo” com “não querer que algo aconteça”, mas são coisas bem diferentes. Por exemplo, ninguém quer morrer em desastre de avião mas nem todo mundo tem medo de avião.
* * *
Eu não tenho medo de morrer. Minha vida foi linda e foi vivida intensamente, nos meus termos, do meu jeito. E o futuro, bem, o futuro nos reserva a todos a velhice, a decadência física, a dor, a solidão, a morte. Quem teve um bom passado e vive intensamente o presente não tem nenhum amor pelo futuro.
Quem tem mais medo de morrer são justamente aquelas pessoas que tiveram passados chatos e vivem presentes frustrantes, que depositam todas as suas esperanças em um futuro mítico, onde se mudarão para a casa dos sonhos, encontrarão o príncipe encantado, se aposentarão do trabalho chato, conseguirão escrever aquele livro… e aí tudo ficará bem, todas as promessas se realizarão, o futuro… finalmente… acontecerá em toda a sua plenitude!
Para elas, morrer não é somente o fim de um presente feliz (algo já desagradável em si), mas a negação de todos os sonhos que fariam seu presente tedioso valer a pena.
A morte, se acontecer antes do futuro prometido que lhes daria sentido à vida, roubaria suas próprias vidas de sentido.
Daí, tanto medo de morrer.
* * *
Guimarães Rosa sofreu um ataque cardíaco enquanto escrevia Grande Sertão: Veredas, um dos maiores monumentos da língua portuguesa. Depois de finalmente publicar o livro, em 1956, nunca mais empreendeu nada de peso, por medo de deixá-lo inconcluso.
Sua produção depois disso fica mais fraca, sem ambição: nada no nível de Sagarana ou Corpo de Baile, as obras anteriores ao seu grande romance.
Finalmente, como tinha previsto, morreu de ataque cardíaco em 1967.
Estou há seis anos escrevendo um romance chamado Cria de casa: histórias de empregadas & escravos. Já tenho duzentas boas páginas escritas e o livro vai ficar enorme. Seria bem chato morrer antes de terminar. Mas não seria o fim do mundo.
Maria Martins
* * *
Algumas pessoas duvidam que não tenho medo de morrer. Dizem que é claro que todo mundo tem medo de morrer! Óbvio! Como não?
Tenho vontade de abraçar essas pessoas. De lhes dar consolo e carinho. Porque, para elas, esse medo existencial é tão vasto e profundo, tão entranhado e constitutivo, que nem mesmo conseguem conceber a vida sem isso.
Que horror viver cheio de tanto horror.
* * *
Algumas pessoas justificam seu medo da morte por causa da prole. É como se elas mesmas não fossem razão suficiente para permanecerem vivas:
“Não posso morrer… O que seria dos meus filhinhos??!!”
Ou como se ter filhos de algum modo significasse que sua sobrevivência era mais importante que a dos outros pobres mortais:
“Me deixem entrar no último bote! Tenho três filhinhos pequenos!”, etc.
Ou como os filhos finalmente justificassem seu terror e os deixassem livres para chafurdar à vontade nos seus medo existenciais:
“Sim, tenho medo-pânico da morte… Fico acordado à noite pensando em como morrer deve ser apavorante… Mas não é por mim, sabe? É pelo Paulinho e pela Julinha!”
* * *
Já eu não tenho filhos. Não tenho nem funcionários, sócios, associados. Ninguém depende de mim. Nem mesmo o Oliver, meu cachorro, que seria disputado à faca por umas três amigas.
O mundo não precisa da minha presença. O mundo não sentiria minha falta. (Nos comentários, muita gente vai concordar e até vibrar.) Tudo continuaria igual, a terra ainda girando, nenhuma criança morreria de fome.
Existe nisso uma enorme alegria, uma grande liberdade, um profundo alívio.
* * *
Maria Martins
* * *
Todas as imagens desse texto são escultoras da impressionante artista brasileira Maria Martins. Até setembro, sua obra está em exposição no MAM-SP.
Alex Castro

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Ligo ou não ligo?


Dia estressante no trabalho, tudo que podia dar errado deu era encomenda que não chegou, relatórios que quase no finalzinho perdi por conta de um vírus de computador e se para piorar não bastasse tudo isso ainda falta de luz não dando tempo para entregar tudo no prazo, Sai exausta e chateada das cobranças do patrão que até aceito!
Pois deveria estar tudo pronto para hoje.
Para relaxar liguei para Bia, queria tomar um chopp na saída, fiquei no Amarelinho esperando por ela, pedi um chopp enquanto ela não chegava, meu telefone toca e vejo a mensagem:
 " Desculpa amiga, mas o Dinho passou aqui no meu trabalho e vou para casa direto ".
Pronto, pensei eu: dia perfeito !
Quando é pra me fhuder, me fhodo mesmo !!!
Na verdade nem isso, já que o Murilo e eu brigamos por MSN hoje e com certeza não vai me pedir desculpas pela cabeça dura dele.
Paguei o chopp e resolvi ir pra casa...
Entrei no metrô, lotado como sempre afinal nesse horário é complicado.
Consegui, encostar na lateral perto da porta, bem no cantinho, como sou miudinha então caibo em qualquer lugar.
Foi quando o metrô parou na próxima estação e entrou uma enxurrada de gente...
Do nada apareceu uma morena linda, um pouquinho mais alta que eu, que ficou de frente para mim, tipo olhos nos olhos mesmo...
Nossa fiquei sem graça, pois fiquei ouriçada com a respiração dela...
Não sei bem o que senti,
Devido o empurra empurra os seios dela ficou de encontro aos meus, e não sabia se era ela ou o vai e vem do metrô que fazia aquele balanço roçando um biquinho no outro...
Nossa que sensação indescritível e gostosa, não conseguia disfarçar estava adorando aquele metrô lotado, Ela sorriu pra mim e disse: 
-Tá cheio né? Desculpa ficar colada em você mas é que não dá pra trocar de posição...E respirou profundo bem perto de mim, meu rosto estava tão perto do dela que dava para alcança-la com um beijo, fiquei inebriada com seu perfume amadeirado que entorpecia meus sentidos, balbuciei debilmente algumas palavras que na verdade só saiu um: 
- Não, está tudo bem, para mim tá confortável.
( Confortável, como pude dizer aquilo a uma estranha? Não sou lésbica, apesar de já ter ouvido dizer que toda mulher é umas em maior outras em menor grau, mas todas são, enfim fiquei envergonhada por dizer aquilo),
Ela sorriu maliciosamente e friccionou mais seus seios contra os meus...
Disfarçadamente como se ajeitasse ela passa de raspão sua mão pelo meu sexo, que sensação louca fiquei molhada na hora que acho que dei até um gemidinho, suspirei profundo, ela sorriu e me fitou nos olhos, a boca carnuda, vermelha, o cheiro do perfume,
Eu já não ouvia nada a minha volta, parecia ser apenas eu e ela, nunca senti tanto desejo...,
Interrompendo meus devaneios ela me disse: 
- Desço aqui, mas gostaria de te conhecer, o que acha?
Nervosamente meio que gaguejando disse: 
- Claro, meu nome é Mônica e dei meu cartão a ela.
Ela me olhou sorrindo e me deu o dela e desceu.
Cheirei o cartão o mesmo perfume que ela estava usando...
Seu nome era Alma das Rosas, Advogada.
Agora estou na dúvida. Ligo ou não ligo?

Com um anjo ou seria um demônio?


- Alô Lucas vai me pegar no aeroporto mesmo? Chego no Rio por volta das 19 horas, vou dormir na sua casa tá?
- Claro minha amiga, ah e sem essa de dormir heim!... Quero saber de tudo ao vivo, pela net não vejo essa carinha sapeca sua...
- Ok, querido já vi que será uma noite longa, bjs baby...
( Lucas é meu amigo intimo, homossexual assumido e como ele mesmo se define uma pintosa, rs... Ah e ama saber todas as aventuras dos amigos, pra mim ele tá reunindo tudo e vai acabar escrevendo um livro de contos eróticos rs... )
- Aqui amiga, to aqui !!!
Vejo Lucas aos pulos no aeroporto, ele vem correndo e me abraça. Pegamos as malas entramos no carro e vamos conversando como foram os negócios da empresa onde trabalho e como foi a viagem a Portugal.
Chegamos no apartamento de Lucas em Copacabana, e disfarçando corro para um banho mas não adianta ele vem atrás de mim e começa a falar...
- Nada disso mocinha, não adianta disfarçar quero que me conte tudo sobre o tal anjo português que você conheceu nesta viagem.
- Ok baby, eu conto.
Tomo um banho rápido enquanto ele prepara um lanche e nós dois nos jogamos na cama...
- Foi assim Lú, depois que cheguei e me instalei no hotel que a empresa reservou tive que ir ao coquetel da fusão com os diretores brasileiros e portugueses, chegando lá fui apresentada a vários empreendedores, advogados e tudo mais e lá vi um anjo em meio a multidão, não estava social como os outros e se destacava com aquela jaqueta de couro e um jeans apertado, perguntei ao Carlos meu amigo de trabalho que vive lá e foi um dos responsáveis pela fusão da empresa quem era aquele gajo que me disse: - Aquele ali? Aquele é o Dy, fotógrafo da nossa coleção de lingeries.
Ele foi acenando para o Dy que veio sorrindo até nós.
- Dy essa é a Alma, nosso contato jurídico do Brasil. Ela quem cuida de toda papelada chata. Alma este é o Dy fotógrafo da nossa coleção que passa várias horas entediantes fotografando modelos lindas.
Carlos saiu e nos deixou a sós, conversamos um pouco sobre a fusão e moda da qual não entendo nada, rs... Mas num convite inesperado me chamou para caminhar lá fora, aceitei afinal estava um porre aquela festa. Andamos um pouco pelos arredores, a conversa estava animada e comecei a falar que não tinha coragem de tirar fotos de lingerie, ele sorriu e me perguntou porque se eu era tão bonita e coisa e tal, as palavras me deixaram vulneráveis nunca tinha conhecido um gentleman.
- Se deixares tiro fotos suas...
As palavras tocaram meu interior pois sempre tive vontade de um book sensual, faltava coragem e oportunidade. Não deixei escapar e aceitei, passamos no meu hotel para pegar minhas lingeries, e fomos de carro para sua casa, pra minha surpresa frente a uma praia linda, ele me mostrou o banheiro e me troquei meio sem jeito vim caminhando enrolada na toalha, ele estava só de jeans e me disse... 

- Espero que não se importe mas não consigo fotografar todo vestido. Fiz que não com a cabeça e ele veio até mim tirar a toalha, seu toque me deixou arrepiada ele notou e sorriu maliciosamente, me colocou em várias posições e fotografava sem parar, o clima me excitava mais e mais, toda vez que me tocava explodia por dentro. Tirou meu sutiã liberando os seios para uma foto mais ousada, não dava para disfarçar a excitação os biquinhos rosados estavam duros de tesão, quando se aproximou novamente num ato louco meu agarrei-o pela mão e fiz tocar meu corpo, ele veio e me beijou loucamente eu me derretia e fui como uma louca Leia mais>>>

Noite de horror


Impressionante! Impressionante, não: medonho. Aterrador.
Mesmo assim, Marquito Rosalvo – o Mascavo – trancou-se na sala de seu apartamento para assistir Piranha pela terceira vez. Nada o incomodaria. A mulher já se recolhera, junto com a pequena Rosicler – ambas mergulhadas em sono profundo.

Abastecido por generosa dose de uísque, ajeitou-se confortavelmente na poltrona, regulou a intensidade da luz, esfregou as mãos e disparou o dvd. A tela tingia-se de vermelho, eMascavo se contorcia, emitindo um ou outro gemido ao imaginar a dor de cada mordida. Anestesiava-se então com um gole da bebida, aliviado por estar a salvo em terra firme, a bordo de uma poltrona imune a qualquer tipo de catástrofe cinematográfica. Em seguida, como se fosse uma piranha voyeur, enchia-se de coragem e retomava com o olhar a devastação de cada cena do filme. Antevia com arrepios a surpresa dos banhistas, logo transformada em pânico pelo ataque do cardume.

Exceto pelo grito de uma sirene, a cidade já silenciara. Mascavo associava o ataque dos peixes à quantidade de ambulâncias mobilizadas para o atendimento às vítimas daquela tragédia. Logo surgiu um vozerio que, a princípio distante, foi crescendo até tomar a atenção do cinéfilo dedicado. Água, piranhas, vítimas, gritos – tudo afinal desapareceria ao som de violentos golpes na porta do apartamento de cima.

O funeral do xato


   Só falava de si, encontrava alguém em determinado lugar, e sem desejar pelo menos um bom dia, metralhava, porquê ele não falava normalmente como as outras pessoas:
 - Os bancários entraram em greve !
 - .....
 - É um absurdo ! Ganham mais do que eu, e ainda vou ficar com o meu dinheiro preso !
   Se preocupava consigo mesmo e com mais ninguém, quando lia uma matéria de jornal, fazia um exercício mental para verificar se a mesma teria algum impacto sobre a sua vida, em caso negativo, virava a página, se julgasse que lhe traria problemas, ia para a rua na busca de um incauto que não tivesse tido tempo de mudar o rumo para empreender uma fuga quando tivesse avistado o chato:
 - Viu o que Supremo decidiu !
 E de nada adiantava o interlocutor forçado, estar com compromisso agendado e insistentemente olhar para o relógio e quase suplicar para ir embora, o chato o segurava pelo braço, e só o soltava no término de suas conjecturas, que sempre eram prolixas.
   Se o time de futebol para qual ele torcia ganhava uma partida, mesmo que não decisiva, vestia a camisa do clube, e saia em busca não dos outros torcedores como ele, para confraternizar, procurava os do time adversário, para infernizar.
   Visitava diariamente na internet os blogs que emitissem alguma opinião, pelo puro prazer de fazer comentários contrários ao texto, estes eram longos, davam voltas e não chegavam a lugar algum, o que ele queria mesmo era reclamar.
   Se o dia estivesse ensolarado e quente, preferiria o frio, se frio estivesse, a sua preferencia recairia pelos dias de sol. Olhava para o céu azul e via tempestades a se aproximar, o mesmo céu se mostrando nublado, arrancaria o comentário de que o sol que viria  por detrás das nuvens, fritaria ovo no asfalto:
 - Sabe aquela nuvenzinha ali ...
   Não era diferente em qualquer assunto que fosse tratar, adoeceu e se submeteu a uma cirurgia de ponte de safena, mas recuperou-se, diziam as más línguas que apenas para atazanar a vida dos outros. Andava pelas ruas com os exames em baixo do braço, achando o interlocutor que quase sempre estava com pressa, mostrava todos os exames, explanando sobre os métodos e os parâmetros de máximo e mínimo, e explicava a cirurgia do preparatório até a alta médica:
 - Quase morri !
 - .....
 - Mas eu falei para o médico...
   Nem sempre tinha notícias novas e frescas, muitas vezes repetia a mesma história, modificando aqui ou acolá, e contava para a mesma pessoa que já o fizera semanas antes, e é claro em outra versão. Chegava ao limite de contar uma piada para a mesma pessoa que a tinha contado, e essa , com um sorriso sem graça, nada dizia, pois seria pior se dissesse alguma coisa.
   As pessoas conhecidas e os poucos amigos foram se afastando, andava pelas ruas falando sozinho, falando não, reclamando. Faleceu alguns meses depois, no velório, presentes apenas os familiares mais próximos, o assunto dominante era a ausência dos amigos que conquistara pela sua vida, pois a capela estava vazia.
   Alguns minutos antes de se iniciar o ritual de "encomendação" da alma do defunto, os amigos começaram a chegar, de início em pequeno número, para aos poucos lotarem completamente a capela, todos com as feições compungidas, com os olhares fixos no esquife em que repousava o corpo do chato.
   O que os parentes não sabiam eram as razões que levavam tanta gente ao seu velório, pois até esta sabia que ele era um chato irrecuperável, aceitaram a explicação de um sobrinho, de que a morte nivelava todos os seres, que esqueciam dos aspectos negativos do falecido. Mas na verdade, poucas pessoas tinham-se afeiçoado ao chato, e ali estavam para a última despedida,  a maioria esmagadora dos presentes fora para ver se ele estava morto mesmo, e relembrar estórias do defunto. Quando o sino tocou para sinalizar o cortejo derradeiro, um dos presentes, com uma feição entristecida, foi até o caixão, agora cerrado, e sobre ele colocou a bandeira do Botafogo Futebol Clube, o que foi seguido por uma salva de palmas de todos os que ali estavam, inclusive dos familiares, que tinham se esquecido que ele em vida era torcedor fanático do Flamengo Futebol e Regatas.

O pinheiro de Saint Martin









Como maneira de agradecer o apoio recebido em 2010, e mantendo a tradição dos anos anteriores, estou enviando um conto de Natal que escrevi para as colunas que tenho em diversos jornais do mundo.

Que o universo conspire para que seus desejos se realizem em 2011.


Na véspera de Natal, o padre da igreja no pequeno vilarejo de St. Martin, nos Pirineus franceses, se preparava para celebrar a missa, quando começou a sentir um perfume delicioso. Era inverno, há muito as flores tinham desaparecido - mas ali estava aquele aroma agradável, como se a primavera tivesse surgido fora de tempo.

Intrigado, ele saiu da igreja para buscar a origem de tal maravilha, e foi dar com um rapaz sentado na frente da porta da escola. Ao seu lado, estava uma espécie de Árvore de Natal dourada.

- Mas que beleza de Árvore! - disse o pároco. - Ela parece ter tocado o céu, já que irradia uma essência divina! E é feita de ouro puro! Onde foi que a conseguiu?

O jovem não demonstrou muita alegria com o comentário do padre.

- Na verdade, isso que carrego comigo foi ficando cada vez mais pesado e à medida que eu andava, suas folhas ficaram duras. Mas não pode ser ouro, e estou com medo da reação de meus pais.

O rapaz contou sua história:

- Tinha saído hoje de manhã para ir até a cidade de Tarbes, com o dinheiro que minha mãe havia me dado para comprar uma bela Árvore de Natal. Acontece que, ao cruzar um povoado, vi uma senhora de idade, solitária, sem nenhuma família com quem comemorar a grande festa da Cristandade. Dei-lhe algum dinheiro para a ceia, pois estava certo que poderia conseguir um desconto na minha compra.

"Ao chegar em Tarbes, passei diante da grande prisão, e havia uma série de pessoas aguardando a hora da visita. Todas estavam tristes, já que passariam a noite longe de seus entes queridos. Escutei algumas delas comentando que sequer tinham conseguido comprar um pedaço de torta. Na mesma hora, movido pelo romantismo de gente da minha idade, decidi que iria dividir meu dinheiro com aquelas pessoas, que estavam precisando mais que eu. Guardaria apenas uma ínfima quantia para o almoço; o florista é amigo de nossa família, com certeza me daria a Árvore, e eu poderia trabalhar para ele na semana seguinte, pagando assim a minha dívida".

"Entretanto, ao chegar ao mercado, soube que o florista que conhecia não tinha ido trabalhar. Tentei de todas as maneiras conseguir alguém que me emprestasse dinheiro para comprar a Árvore em outro lugar, mas foi em vão".

"Convenci a mim mesmo que conseguiria pensar melhor o que fazer se estivesse com o estômago cheio. Quando me aproximei de um bar, um menino que parecia estrangeiro, perguntou se eu podia lhe dar alguma moeda, já que não comia há dois dias. Como imaginei que certa vez o menino Jesus deva ter passado fome, entreguei-lhe o pouco dinheiro que me sobrava, e voltei para casa. No caminho de volta, quebrei um galho de um pinheiro; tentei ajeitá-lo, cortá-lo, mas ele foi ficando duro como se feito de metal, e está longe de ser a Árvore de Natal que minha mãe espera".

- Meu caro - disse o padre - o perfume desta Árvore não deixa dívidas de que ela foi tocada pelos Céus. Deixe-me contar o resto desta sua história:

"Assim que você deixou a senhora, ela imediatamente pediu à Virgem Maria, uma mãe como ela, que lhe devolvesse esta benção inesperada. Os parentes dos presos se convenceram que tinham encontrado um anjo, e rezaram agradecendo aos anjos pelas tortas que foram compradas. O menino que você encontrou, agradeceu a Jesus por ter sua fome saciada".

"A Virgem, os anjos, e Jesus escutaram a prece daqueles que tinham sido ajudados. Quando você quebrou o galho do pinheiro, a Virgem colocou nele o perfume da misericórdia. À medida que você caminhava, os anjos iam tocando suas folhas, e as transformando em ouro. Finalmente, quando tudo ficou pronto, Jesus olhou o trabalho, abençoou-o, e a partir de agora, quem tocar esta Árvore de Natal, terá seus pecados perdoados e seus desejos atendidos".

E assim foi. Conta a lenda que o pinheiro sagrado ainda se encontra em St. Martin; mas sua força é tão grande que, todos aqueles que ajudam seu próximo na véspera de Natal, não importa quão longe estejam do pequeno vilarejo dos Pirineus, são abençoados por ele.
(inspirado em uma história hassádica)
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