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É o que parece

Engraçado como no sexo as coisas são exatamente o que parecem ser.  Um artigo no site americano The Daily Beast compilou uma série de pesquisas sobre hábitos sexuais.  Vou adiantar algumas das principais conclusões para os debates:
  1. Você acha que pessoas que bebem e fumam fazem mais sexo que as demais? Acha mesmo? Pois é exatamente isso. Bebida é afrodisíaco e cigarro, embora não seja, revela que a pessoa é mais propensa a correr riscos.  Quem fuma e bebe é 200% sexualmente mais ativo do quem não faz nenhuma das duas coisas.
  2. Todo mundo é levado a crer que quem frequenta missas faz menos sexo que os ausentes. Pois uma pesquisa mostra que é isso mesmo. Carolas têm 31% menos sexo que os demais.  O sentimento religioso de culpa inibe o desejo.
  3. Você pensa que negros são mais ativos que brancos? Hahaha. São mesmo. Um estudo mostra que ele fazem sexo com uma frequência 8% maior.
  4. O pensamento convencional diz que artistas e poetas são mais abertos sexualmente. Pois então. Fique sabendo que são mesmo. Uma pesquisa mostrou que artistas e poeta têm 233% a mais de parceiros sexuais que os demais ao longo da vida.
  5. Homens com 70 anos são mais ativos que as mulheres de 70. É a impressão que temos todos, não é? Pois bem. É a realidade. Os setentões, segundo um estudo, são 215% mais ativos sexualmente que as setentonas.  A menopausa faz as mulheres se sentir fisicamente feias, ao passo que os velhotes ainda acham que têm algum amor a dar.

Lições para vida inteira

Segundo especialistas o fracasso, a derrota, os erros que cometemos são os nossos melhores professores. Confira abaixo as principais lições que podemos aprender com eles:




1. Independência: o fim de um relacionamento, por exemplo, pode trazer sofrimento, mas depois nota-se que é possível ser feliz sem depender de uma única pessoa.

2. Ponderação: desenvolver uma análise mais apurada antes de agir por impulso ajuda, por exemplo, a para saber se você está comprando algo mais por carência afetiva do que por necessidade real.

3. Eficiência: quando o desempenho em um processo seletivo é abaixo do esperado, é o fracasso que ensina a parar e analisar se a forma de estudo está correta, para assim recomeçar de outra maneira.

4. Sensatez: o fim de um relacionamento é sempre a chance de reavaliar valores e pensar sobre que tipo de pessoa desejamos para partilhar a vida.

5. Precaução: atitudes que culminam em erros e resultados negativos, servem para nos deixar mais cautos no futuro.

6. Respeito às escolhas pessoais: Fazer algo só porque está na moda pode levar a um fracasso, mas serve para 'que consigamos identificar o que realmente nos diverte e motiva', diz Marisa.

7. Persistência: pessoas de grande destaque já sofreram ou sofrem derrotas todos os dias. A diferença é o que cada um faz com isso: desistir ou se esforçar para atingir o objetivo?

8. Autocuidado: fumar demais, beber demais e ficar doente ensina que sem cuidados essenciais para o corpo é mais difícil viver pelo tempo que desejamos.

9. Criatividade: quando o planejamento traçado não é efetivo, é momento de buscar novos recursos, pensar em novas estratégias e buscar apoio de pessoas diferenciadas.

10. Perdão: fracassos que envolvem atos ruins ou até mesmo ilícitos, podem gerar baixa autoestima. "Ajudar grupos de pessoas necessitadas pode ser a lição ideal para quem precisa se perdoar", diz Marisa.




11. Tolerância: fracassos ensinam que as pessoas não mudam pelos outros. É preciso aceitar o jeito de cada um e buscar e aproveitar as melhores características, relevando o que for ruim sempre que possível.

12. Fortaleza: acreditar que o fim de um namoro, uma demissão ou doença são superáveis é a grande lição de todo fracasso. 'Com isso nos moldamos e aprendemos a viver de forma diferente daquela que achávamos que era a única correta', diz Calderoni.

13. Humildade: o que foi planejado nem sempre sai conforme o desejado e ninguém sabe tudo ou pode controlar absolutamente tudo.

14. Otimismo: todo mundo em algum momento da vida vai fracassar. Entender isso já é metade do caminho para encarar os problemas de forma mais positiva.

Experiências comuns também são capazes de produzir felicidade, por Ron Lieber

Em julho, passei um dia numa biblioteca pela primeira vez em mais de 20 anos. Eu estava lá para trabalhar, mas parecia que era o único fazendo isso. Os outros entraram para escapar da chuva lá fora e ficaram olhando as prateleiras incontáveis de jornais e revistas ou conferindo as aquisições mais recentes de ficção.

Meu trabalho me alegra, mas à medida que olhava em especial os frequentadores mais velhos, fui vencido por uma única emoção: inveja. Fazia tempo demais desde que experimentara o prazer simples e profundo de me perder nas estantes de livros. Eu queria sentir aquilo novamente.

O desejo permaneceu comigo, ajudando-me a reconhecer a importância de uma pesquisa da edição de junho de "The Journal of Consumer Research" que deve ajudar muitos a relaxarem enquanto analisam o pé-de-meia para a aposentadoria. O artigo principal informava que idosos costumam se sentir felizes tanto com experiências comuns – como um dia na biblioteca – quanto com as extraordinárias.

Para quem não poupou o suficiente ou raspou a poupança porque perdeu o emprego ou vivenciou crises de saúde, os achados dão alguma esperança. Se conseguir bancar as despesas básicas, a busca por coisas baratas do dia a dia que reconfortam e satisfazem podem levar à mesma felicidade que realizar viagens internacionais aos 70 ou 80 anos.

Doce rotina: atos corriqueiros como relaxar lendo algo interessante no tablet podem gerar mais felicidade do que fazer uma viagem
Os autores do estudo, Amit Bhattacharjee e Cassie Mogilner, se conheceram quando o primeiro fazia doutorado na Escola Wharton, da Universidade da Pensilvânia, onde a segunda é professora-assistente de marketing. Quando decidiram trabalhar juntos, os dois não pretendiam fazer pronunciamentos grandiosos sobre o envelhecimento. Em vez disso, estavam tentando ajudar a responder uma das grandes questões no campo emergente dos estudos da felicidade.

Estudiosos do tema já estabeleceram que as experiências costumam deixar as pessoas mais felizes do que as posses. Ao que parece, o que fazemos tem maior potencial para satisfação duradoura e criadora de lembranças do que aquilo que temos. Porém, Bhattacharjee, que agora é professor-assistente visitante de marketing da Escola Tuck de Administração de Empresas da Faculdade de Dartmouth, e Mogilner queriam saber que tipo de experiência deixava as pessoas mais felizes e por quê.

Para descobrir isso, realizaram oitos estudos nos quais perguntavam aos participantes sobre suas lembranças de planejar ou sonhar com várias experiências produtoras de felicidade. Eles também conferiram que tipos de coisas os envolvidos publicavam no Facebook. As definições dos pesquisadores para experiências comuns e extraordinárias, quando pediram que as pessoas discutissem uma ou outra, eram simples e focadas na frequência; as experiências comuns acontecem com maior frequência e transcorrem no decorrer do dia a dia enquanto as extraordinárias são muito mais raras.

Para Bhattacharjee, de 32 anos, as descobertas ajudaram a esclarecer algumas coisas sobre seus próprios pais. Em parte, ele se sentiu atraído por pesquisar as crenças morais e o bem-estar por causa da criação em um lar de imigrantes indianos no qual se falava bengali.

"Durante minha vida inteira, senti que estava tentando destrinchar esses padrões culturais conflitantes", ele explicou. "O que é bom? O que é desejável? Existem tipos de padrões muito diferentes".

Quando o irmão mais jovem entrou na faculdade, os dois deram aos pais cartões-presentes de restaurantes e ingressos de cinema para que pudessem se divertir com a liberdade dos deveres em tempo integral da criação dos filhos.

"Eles não tinham interesse algum. Gostavam das coisas comuns. Em determinado momento, parei de lutar contra isso. E quando comecei a trabalhar com esta questão, o tema ajudou a cristalizar o fato de que seu conceito do que é valioso é diferente."

No mínimo diferente do que um jovem teria esperado. Os pais nunca tiveram uma queda por longas viagens ou veículos.

"Conto às pessoas que compro um Mercedes novo e o jogo despenhadeiro abaixo a cada dez ou 15 anos", contou Arun, pai de Bhattacharjee, a respeito dos esforços dele e da esposa para pagar os estudos superiores dos filhos.

Agora que Arun Bhattacharjee, de 73 anos, já está aposentado há mais de cinco anos, se dedica-se a ler o jornal, livros e a caminhadas regulares nos arredores da casa da família em Audubon, na Pensilvânia.

"Dou a volta no quarteirão algumas vezes. Todo mundo me conhece. Quer chova ou faça sol".

Cuidar das plantas: satisfação pode ser a mesma de fazer uma viagem ao exterior
A esposa, Ratna, de 63 anos, ainda trabalha como engenheira. Ela e Arun vão à Índia quase todo ano para visitar sua mãe. Os quatro viajaram em férias para Las Vegas pouco tempo atrás.

"Não perdi o interesse por esse tipo de atividade", disse Arun Bhattacharjee. "Contudo, não preciso dessas coisas o tempo todo para me dar prazer. Sinto prazer com coisas simples".

Por que será? Bhattacharjee e Mogilner exploraram alguns dos fatores por trás da frequência que separa experiências comuns das extraordinárias e se concentraram numa em particular: a tendência das experiências extraordinárias definirem a si mesmas de alguma forma. Uma forma de pensar nisso é ponderando sobre as várias aventuras que os jovens perseguem para se encontrar.

"Esse tipo de exploração para ver o que combina e tem a ver com você pode ser o processo pelo qual se pode começar a decidir que tipo de vida comum construir", afirmou Bhattacharjee.

Quando você se conhece, a busca deliberada por coisas mais comuns pode então proporcionar o mesmo nível de felicidade. Pouco interfere o fato de que se pode gostar muito mais do comum quando se está ciente do número decrescente de anos que se tem a desfrutar.

Os idosos não têm seu estilo fechado nem deveriam querer isso e seria um equívoco pensar que nos conhecemos bem o bastante para ter certeza de que ele nos dará mais satisfação quando estivermos velhos. A aposentadoria é apenas o tipo de ponto de transição que leva muita gente a buscar novas aventuras e a experimentar novas maneiras de ser e estar no mundo. Se possível, essa oportunidade não deveria ser negada.

Todavia, muita gente não terá dinheiro para ir a lugares distantes ou pagar para saltar de aviões. Experiências extraordinárias de baixo custo podem muito bem estar por perto, mas pode ser mais reconfortante o fato de que as coisas do dia a dia, que nada ou pouco custam, podem proporcionar o mesmo nível de alegria. Uma horta. A refeição elaborada que brota dela e o tempo livre para inventar as receitas. A retomada de um instrumento musical abandonado. Assinaturas com acesso total ao Netflix e Spotify, com listas do que ouvir e assistir durante anos.

No meu caso, mal entrei na meia-idade, mas tenho quase certeza de que a primeira coisa da minha lista de desejos para a aposentadoria será um cartão de biblioteca novinho em folha.


Ser pai é um exercício profundo

Hoje, pela primeira vez, pensei na minha mãe como uma pessoa que, assim como eu, está fazendo o que pode para viver uma vida boa, significativa.
Se ela também está nessa busca, isso significa que, em um nível profundo, nós somos pares. 

Você não tem vergonha não?

Quantos de nós já ouviram essa pergunta? Da mãe, do pai, da professora, do namorado, do amigo decepcionado. Você não tem vergonha de: bater no seu irmãozinho, tirar essa nota, fazer isso comigo depois de tudo o que eu fiz pra você, estar tão gordo, magro, não cuidar dos dentes, sentar dessa maneira e por aí vai…
Montagem do New York Times com políticos americanos envergonhados
Podemos ficar aqui por muitas horas lembrando de todas as perguntas que começam com essa frase. Quantos de nós, ao ouvir a tal indagação, desejaram com todo o coração que a terra se abrisse e fosse possível desaparecer sem deixar rastros?
Não é só prerrogativa dos tímidos e introvertidos. Vergonha é confundida com civilidade e educação. Emoção universal, instala-se permanentemente em nossas vidas. Não importa quanto tempo depois, se alguém toca naquele lugarzinho onde ela está escondida, ela ressurge com toda fúria, novinha em folha.
Outro dia estava na casa da minha mãe e ela me disse que era melhor eu não levar o pedaço de bolo que havia sobrado para casa porque eu estava gorda. Durante semanas, aquela afirmação feita na frente de toda a família (supostamente pessoas com quem tenho intimidade) me perseguiu implacavelmente. E eu achava que já não tinha nenhuma necessidade de aprovação da minha mãe, com a minha idade…
Eu achava

Amor não significa exclusividade

...para os adeptos de relacionamentos abertos

Maria Fernanda Geruntho Salaberry, de 28 anos, e Regina Faria, de 44, são amigas e têm gostos parecidos. As duas vivem uma relação amorosa com Marcelo Soares, de 24, que também se relaciona com outras e outros, em Porto Alegre (RS). Ciúme, exclusividade e casamento não fazem parte do vocabulário. Eles preferem liberdade e respeito.
Defensor do "relacionamento livre", uma vertente extrema do relacionamento aberto, o trio acredita que a monogamia fracassou e os relacionamentos convencionais, a dois, estão sentenciados a acabar.

Reprodução/GShow
Clara polemizou edição do BBB por ter um casamento aberto e se envolver com Vanessa

As relações não monogâmicas voltaram a ser discutidas durante a última edição do BBB, com a formação do casal de participantes Clara Aguilar e Vanessa Mesquita - a primeira é casada e tem o aval do marido para viver experiências extraconjugais com mulheres.
Ao sair com o terceiro lugar, na terça-feira (1º), Clara falou que não abandonaria a companheira e até pediria ao marido para incluí-la no casamento dos dois.
Para psicólogos e psicanalistas ouvidos pelo Delas, amar duas, três ou mais pessoas ao mesmo tempo e de diferentes gêneros tem se confirmado como uma tendência das relações modernas.
"Relacionamentos para mim têm uma duração. Não dá para negar que o tesão tem um tempo pré-determinado”, diz a jornalista Regina, relembrando a experiência do casamento monogâmico que durou 15 anos. Ela garante, no entanto, que foi feliz, mas viver várias relações simultâneamente aumentam as chances de alcançar a felicidade.
O encontro

) Papo de homem

Conversas que tocam o chão
Barbatuques no espetáculo "Corpo do som"
Barbatuques no espetáculo “Corpo do som”
Ontem conversei com uma amiga que está vivendo complicações no namoro. Ao ouvir seus relatos e reclamações, além da ausência de rede, percebi um entrave fundamental para qualquer tentativa de pacificação: eles não conseguiam tocar o chão.
Tentei descrever para ela o que entendo por “tocar o chão”; e agora abro o papo aqui. Escrevo de coração para registrar e ouvir de vocês sobre esse processo que para mim infelizmente ainda é muito raro. Vou focar no contexto de uma relação de casal, mas é bom manter em mente que isso se aplica a todas as outras relações, entre amigos ou em uma empresa, por exemplo.

Crônica semanal de Luis Fernando Veríssimo

Um dia você se olhará no espelho e terá uma revelação estarrecedora. Sua mulher está dormindo com outro homem! Depois descobrirá que o que vê no espelho não é outro, é você mesmo. Só que, por uma razão inexplicável, você está mais velho.
Os espelhos são de uma franqueza brutal. Na era das relações públicas, é inadmissível que a sua imagem trate você com tanta crueza. É inaceitável que o espelho lhe diga “Você está com 50 (ou 60 ou, meu Deus, 70) anos assim, na cara, mesmo que quem diga seja a sua própria cara. E de manhã, na hora em que, ainda amarrotado pelo sono e antes de botar o rosto que usará durante o dia, você está mais vulnerável.
Se a cena pudesse ser confiada a um profissional da comunicação, seria diferente. Infelizmente, as piores notícias são sempre dadas por amadores. Num mundo mais justo, sua imagem no espelho poderia ser apresentada por um especialista em marketing e, em vez da sua cara no espelho revelador, você veria, por exemplo, a Patrícia Poeta.
— Patrícia! Você por aqui?
— Vim para lhe dizer que você ficará muito bem, com cabelo grisalho. Aumentará sua credibilidade. Será ótimo para os negócios.
— Eu acho que estou perdendo cabelos.
— E daí? Cabelo demais é desperdício. Os fios que ficam são os melhores.
— Será?
— As rugas realçarão seu caráter. E se um queixo já enfatiza sua masculinidade, imagine dois.
— Patrícia. Cabelos grisalhos, rugas, queixo duplo... Você quer me dizer que eu estou ficando... Velho?
— Maduro.
Ou então você deveria poder mergulhar de ponta-cabeça no espelho para descobrir como seria sua vida do outro lado dos 50 (ou 60 ou, meu Deus, 70). E se consolar com o fato de que ela não será muito diferente da vida que você leva hoje — com alguns reajustes. Você terá que evitar carnes brancas, morenas e mulatas, principalmente depois das refeições. E deixar de frequentar motéis com escadaria. Fora isso... Que venham as rugas!

Convite

Vamos olhar o nosso interior?
E se existisse um programa na National Geografic dos nossos mapas internos?
Em vez de microscópios, telescópios e câmeras 3D, e se tudo o que costumamos descrever de modo exteriorizado fosse investigado por dentro com tecnologias de primeira pessoa? A série colaborativa “Mundo interno” vai começar essa brincadeira.

Experimento e desafio inicial

Enquanto começa a leitura desse texto, você coloca seus dois pés no chão, leva sua mente até a ponta dos dedos, sente o calcanhar, o pé inteiro paralelo ao piso. (Estou fazendo o mesmo enquanto escrevo.)
Sem perder a atenção aos pés, você respira profunda e suavemente uma vez, sem pressa. Solta o abdômen, os ombros, os músculos do rosto, a mandíbula, a tensão na mão e nos dedos. Você decide desacelerar a leitura e repousar um único dedo sobre a seta ↓ do teclado, apenas para acompanhar estas palavras.
Você experimenta relaxar o máximo que der em apenas um ou dois segundos, como num bocejo. Depois sente a respiração acontecendo por si só, sem esforço. O ar entra e preenche todo o espaço do corpo. O ar sai e nos esvazia, nos ajuda a soltar.
(Se você não está fazendo isso realmente, apenas lendo à distância, pode confiar, este é um experimento coletivo super simples. Volte e deixe seu corpo ficar curioso.)
Enquanto olha para a tela, você observa seu próprio olhar para a tela, você se torna consciente de estar consciente. Observamos e relaxamos cada impulso de se mexer, de trocar de aba, de se agitar. Pés no chão, ar entrando, ar saindo, olhar sereno.
Não assim… Tente chapar os pés no chão | Foto: John Beton
Agora nosso desafio será escrever e ler sem que nossa mente saia dos pés e da respiração, sem perder contato com esses dois focos bem básicos, sem deixar que pensamentos nos levem para fora de nosso corpo, trancando nossa respiração e nos tirando do chão.
Se nos perdermos, basta pausar a leitura do texto (a escrita no meu caso) e voltar aos pés e à respiração, mesmo que tenhamos de fazer isso 90 vezes.
Topa o desafio? Ou melhor, seu corpo já topou o desafio?

Nossa mente exteriorizada

Mal acordamos e nossa mente já gruda em mensagens, vídeos, placas, números, fotos, pessoas, notícias, aparências de todo tipo. Colamos também em fenômenos internos: pensamentos, lembranças, projeções, névoas emocionais… Junto com nossa atenção, nossa respiração se obstrui (já ouviu falar de apneia causada por checagem de emails?), o fluxo das emoções se condiciona, todo o nosso corpo é envolvido por uma bolha, seja a de um namoro ou a de um trabalho.
Tudo parece OK até que alguma situação nos perturbe além do gerenciável — e aqui não preciso detalhar as várias crises da vida. Só quando dói é que começamos a olhar para dentro. Mas não sabemos como nem pelo que procurar! Estamos exteriorizados. Procuramos e sustentamos experiências internas manipulando condições externas.
Pés no chão, ar entrando, ar saindo, olhar sereno…
É assim que sabemos viver: o acesso ao mundo interno só parece possível de modo indireto, relaxando com alguma bebida ou sexo, se alegrando em alguma festa, sendo feliz por causa de uma narrativa que contamos a nós mesmos… Mexemos fora já que não sabemos mexer dentro.
A prova de que estamos operando assim é a incapacidade de voltar a respirar em meio a uma crise sem antes resolver o que pensamos ser o problema. Se alguém nos diz “Respire, relaxe, é isso o que você realmente quer”, nós respondemos: “Me ajude a reconquistá-la, me ajude a ganhar mais dinheiro…” Ou seja: “Me ajude a respirar e relaxar do único jeito que sei respirar e relaxar!”

Uma outra cartografia

Gravar macacos é fácil. Mas como gravar nossas vozes internas que distorcem a realidade? A voz do ciúme, da raiva...?
Gravar macacos é fácil. Mas como gravar nossas vozes internas que distorcem a realidade? A voz do ciúme, da raiva, do orgulho, da competição…?
Mas e se a gente começasse a viver com um olho fora e um olho dentro, percebendo a coemergência entre nossa atitude, nossa visão de mundo, nossas emoções, nosso corpo e as pessoas, os eventos, tudo o que experimentamos como se estivesse pré-definido, “lá fora”? E se a gente começasse a mapear as experiências internas que buscamos em cada movimento externo (viajar, trabalhar, gastar dinheiro, transar, exercitar o corpo, ouvir música, ler notícias)?
Estamos no momento de superar a ingenuidade. Ingenuidade de acreditar que chegamos a um mundo pronto, sem participar de cada fenômeno, sem responsabilidade por cada experiência que nos atravessa. Ingenuidade de achar que a compreensão do mundo externo é suficiente sem uma clareza direta do nosso mundo interno, desse mundo das aflições que nascem e vivem sei lá onde, dos pensamentos e não das sinapses, das relações e não do comportamento, da mente e não do cérebro, de tudo o que é não é mensurável pela ciência materialista, mas poderia ser investigado por outros métodos igualmente científicos, com instrumentos refinados de introspecção e contemplação.
Pés no chão, ar entrando, ar saindo, olhar sereno…
O que hoje mal conseguimos nomear, esses aspectos sutis, isso de ver nossa namorada onde tem apenas carne e osso (ou órgãos, sinapses e átomos), isso de sentir raiva ou orgulho ou alegria, “isso” constitui nada menos do que 100% do mundo vivido! Nossa experiência é sempre uma experiência em primeira pessoa. Nunca vivenciamos diretamente a realidade estudada por físicos, químicos, biólogos, economistas… Não pensamos sinapses. Não vemos átomos ou órgãos, vemos pessoas. Não sentimos reações químicas, sentimos ansiedade ou carência. Não processamos ondas longitudinais e eletromagnéticas, ouvimos sons e vemos cores.
Nossa experiência em primeira pessoa é tão óbvia e tão imediata que esquecemos de reconhecê-la, mal conseguimos descrevê-la. Não é um mero detalhe: ignorar o mundo interno é deixar escapar a própria realidade, o aspecto mais profundo das coisas. Somos como um peixe sem saber o que é água.
Link YouTube | David Foster Wallace sobre o mundo interno da fila do super mercado

Precisamos olhar com mais calma para tudo o que hoje virou uma questão de crença. Se não nos apropriarmos dessa ciência que ainda engatinha, se não jogarmos luz e incluirmos os processos internos em nossa visão da realidade, estaremos sujeitos a todo tipo de picareta e charlatão pseudoespiritual com suas mil teorias.
A compreensão do nosso mundo interno pode transformar qualquer experiência humana em todos os âmbitos: turismo, educação, arquitetura, ciência, relacionamentos, artes marciais, saúde, ecologia, administração, artes, política, religião, jornalismo…
Podemos nos familiarizar, investigar, mapear, explorar nosso mundo interno movidos pela mesma curiosidade com a qual viajamos para outros países, experimentamos bebidas, testamos softwares, vemos filmes, criamos projetos sociais, pesquisamos remédios, observamos comportamentos, estudamos leis e equações, debatemos opiniões, ouvimos notícias desse mundo aparentemente externo.
Pés no chão, ar entrando, ar saindo, olhar sereno…

Sobre a série “Mundo interno”

Junto com as pessoas que participam do lugar e também com qualquer leitor ou leitora do PdH que quiser colaborar, vamos publicar uma série de textos com essa motivação de mapear nossos mundos internos.
A ideia é descrever em primeira pessoa, com algum tipo de introspecção e contemplação, processos que normalmente são abordados de modo exteriorizado. Podemos analisar nosso trabalho com a pergunta “Que mente estou cultivando ao fazer isso?”. Podemos investigar quais processos sistêmicos nos fazem adoecer bem antes dos sintomas, e o que nos ajuda a melhorar a saúde e o equilíbrio. Podemos iluminar qualquer realidade por dentro.
Em vez de testar mais um método de produtividade, como posso trabalhar diretamente com os processos sutis de distração, torpor e ansiedade? Se lá fora vejo uma balada, o que vejo quando olho para dentro (delas e de mim)? Qual o mundo interno de uma empresa? De uma propaganda? De uma avenida congestionada? De uma luta? De um site como o Facebook ou o PapodeHomem?  Quando aparentemente estamos aqui ou ali, onde estamos de verdade?
Pés no chão, ar entrando, ar saindo, olhar sereno…
Vamos aplicar às realidades sutis o mesmo fascínio que temos com documentários sobre o mundo externo, sobre cérebros, humanos se adaptando à natureza, animais, planetas e estrelas, bosons, quarks…
Sabe por que não temos uma série dessas em DVD? Porque não dá pra filmar a mente e o mundo interno... Precisaríamos de um time de artistas geniais e de cientistas comteplativos trabalhando juntos, algo raríssimo hoje em dia
Sabe por que não temos uma série dessas em DVD? Porque não dá pra filmar a mente e o mundo interno… Para descrevê-lo precisaríamos de um time de artistas geniais e de cientistas contemplativos trabalhando juntos, algo raríssimo hoje em dia

O que você deseja iluminar por dentro?

Nos comentários, conte onde está sua curiosidade.
Se você tivesse uma câmera que apenas captasse imagens sutis, internas, profundas, para onde a levaria? Em quais experiências da vida você gostaria de dar zoom, de ganhar clareza?
Pés no chão, ar entrando, ar saindo, olhar sereno…
Gustavo Gitti

Professor de TaKeTiNa, autor do Não2Não1, colunista da revista Vida Simples e coordenador do lugar (ex-Cabana). Interessado na transformação causada pelo ritmo e pelo silêncio. | www.gustavogitti.com

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Boa vizinhança

Dicas para ser um bom vizinho. Ponha em prática.

Lembro de quando eu era apenas um moleque magrelo, de mais ou menos uns 10 anos, morando com a minha mãe.
Nós vivíamos em um bairro distante, puramente residencial, de Belém. O lugar era bastante tranquilo, apesar das lendas urbanas que volta e meia surgiam assustando professores e obrigando-os a falar para tomar cuidado no caminho da escola pra casa. Isso nem era tão ruim, mas os domingos pela manhã eram infernais.
Belém tem o que chamamos de “aparelhagem”, sistemas de som que variam desde uma parede inteira até caminhões de caixas de som. Tom Zé, quando esteve na cidade, descreveu a sensação causada pela aparelhagem dessa forma:
“Estou como criança viajando no carro de Papai Noel. Parece incrível, toda a vida sonhei com uma coisa dessas, que o som por si só fosse uma palavra, uma vibração, uma ordem. E agora tenho ouvidos no peito, nas pernas, nos braços, no traseiro, em todo lugar.”
Esse vizinho tinha um brinquedo desses, que fazia questão de testar todo domingo de manhã. Tom Zé pode ter achado o máximo participar da festa e sentir a imersão sonora da forma que apenas volumes tão escandalosos conseguem gerar. Porém, anos assim geraram diversas tensões, não só entre minha família e nosso parceiro de cerca, mas também com várias outras das redondezas.
Anos depois, já como um rapazinho crescido, no auge da empolgação juvenil e do fervilhar dos hormônios, me mudei para um apartamento cujo condomínio era povoado por famílias, senhores e senhoras de idade, cachorros e uma síndica furiosa. Nesse período, eu fui o agente causador de incômodos, recebendo visitas, ouvindo e tocando música alta, enfim, sendo um idiota.
Claro que isso não só tornou a vida dos vizinhos como a minha própria em um inferno. Ninguém gosta de viver em uma vizinhança repleta de inimigos.
Depois de ver a felicidade que eles manifestaram quando chegou o dia de carregar o caminhão com minhas coisas e levá-las para outra residência, comecei a me preocupar mais com a relação de vizinhança.

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Como conquistar uma mulher?

O que é mais eficiente na hora da conquista, beleza, fama, dinheiro ou o vocabulário parecido com o dela?...

A pesquisadora americana Molly Ireland, professora do departamento de psicologia da Texas Tech University, nos Estados Unidos, aposta na quarta opção. A pesquisadora estudou diálogos entre pessoas em primeiros encontros e descobriu que os que vingaram e se tornaram em relacionamentos longos tinham muitas palavras em comum.

“Conversas entre parceiros românticos são um dos mais importantes diálogos da vida adulta”, disse Molly, que teve a cooperação de outros dois cientistas: Rich Slatcher, da Wayne State University, e James Pennebaker e Paul Eastwick, ambos da University of Texas. “Relações românticas têm uma imensa influência na nossa saúde e no nosso bem-estar, e eu acredito que a conversa é uma grande parte do que faz essas relações darem certo ou errado”.

Para chegar a esta conclusão, ela acompanhou os primeiros encontros de 40 rapazes e garotas heterossexuais, nos quais os analisou com programas de computadores feitos especificamente para avaliar a linguagem desses casais. “Nós ficamos surpresos em ver como a similaridade na linguagem prevê a estabilidade do relacionamento mais do que outras variáveis”, disse Molly.

Mais especificamente, o que tornou as conversas mais produtivas foi o uso das mesmas conjunções, preposições e outras palavras de ligação. Essas similaridades foram mais importantes até do que o conteúdo da conversa, segundo os pesquisadores. “Em relacionamentos e encontros, as pessoas focam em coisas superficiais como a aparência ou os assuntos que o parceiro está falando”, acrescentou ela. “Mas a verdade é que os primeiros encontros são sempre iguais. As pessoas falam do que gostam e do que não gostam – música, hobbies. Nada disso importa se você não estiver prestando atenção no que outro diz”.

Cena mortal de um jantar de família qualquer

Nostalgia de tiozão é uma merda 

Comida suficiente para alimentar um destacamento completo do exército, tias discutindo os últimos acontecimentos do folhetim das 21h, priminhos correndo num zigue e zague do inferno e tomando Coca-Cola como se fosse água. Mãe, pai, avô, avó e aquele namorado mal encarado da sua prima só se preocupam com a comida.
No meio dessa trama há, houve e sempre haverá aquele tio que você não vê com frequência, não conversa muito e nem tem intimidade suficiente. Vive nesse personagem – como se fosse um segundo coração a pulsar – a insistência em puxar os assuntos mais constrangedores nos momentos errados.
É dar espaço e ele vai dizer que está tudo acabado para o “cidadão de bem”, que a saída possível é amarrar todo mundo no poste e descer o porrete. Em dado momento da noite, ele – sempre ele – vai se ver no papel de dizer que “não tem preconceito, mas…”
No entanto, nada é tão frágil ou me atinge mais do que aquela velha muleta lógica “no meu tempo”, “na minha época”, “naquele tempo”. Esse gosto por amar o retrovisor é comum tanto na cena horripilante do jantar de família quanto no papo de boteco. Você não sabe de onde vem, mas em dado momento alguém saca do bolso as glórias de décadas que morreram de velhice.
Lembro do dia em que estava numa dessas festas de apartamento, conversava sobre cinema e televisão e um tiozão precoce, três ou quatro anos mais velho que eu, sacramentou: “Tá aí… Taxi Driver. Não se faz mais filmes assim!”
Fiquei incomodado.
Não pelo filme, um Scorsese fodão, puro sangue, coisa fina em todos os sentidos. Mas pela sentença prepotente, unilateral, rígida.
Retruquei: “Pô, beleza, mas o que você tem visto de novo?”
A resposta foi tão vaga quanto se podia esperar: “Ah, não tenho mais saco para esses filmes de hoje em dia”.

Por que temos tanto problema em ficar sozinhos?

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Eu vivo sozinha. Tenho vivido sozinha por mais de 20 anos. Não quero dizer somente que estou solteira – eu vivo o que para muitas pessoas está mais para “isolamento” que simplesmente para “solitude”.
Minha casa fica em uma região da Escócia com uma das densidades populacionais mais baixas da Europa, e eu vivo em uma de suas regiões mais vazias: a densidade populacional média do Reino Unido é de 674 pessoas por milha quadrada (246 por quilômetro quadrado); em meu vale, temos (em média) mais de três milhas quadradas para cada um.
A loja mais próxima fica a 10 milhas de distância e o supermercado mais próximo a mais de 20. Não há conexão de celular e há pouquíssimo tráfego na estrada de pista única que passa a um quarto de milha abaixo de minha casa. Às vezes não vejo uma pessoa o dia inteiro. Eu amo isso.
Mas há um problema, um problema cultural sério, em relação à solitude. Ser sozinho em nossa sociedade atual suscita uma questão importante sobre identidade e bem estar. Em primeiro lugar, a questão precisa ser perguntada urgentemente. E aí – possivelmente, cautelosamente, depois de um longo período de tempo – precisamos tentar respondê-la.
A própria questão é um pouco escorregadia, mas é mais ou menos assim: como nós chegamos, ao menos no relativamente próspero mundo desenvolvido, em um momento cultural que, mais do que nunca, valoriza autonomia, liberdade pessoal, realização, direitos humanos e, acima de tudo, individualismo, enquanto ao mesmo tempo aqueles que são autônomos, livres e autorrealizados têm medo de ficar a sós consigo mesmos?
Aparentemente, acreditamos que somos donos de nossos corpos e deveríamos poder fazer com eles mais ou menos qualquer coisa que escolhêssemos, de eutanásia a implantes de silicone; mas nós não queremos estar sozinhos com essas preciosas posses. Vivemos em uma sociedade que enxerga a auto-estima elevada como uma prova de bem estar, mas não queremos ficar íntimos dessa pessoa admirável e desejável.
Vemos convenções morais e sociais como inibições de nossas liberdades pessoais, entretanto tememos quem quer que se afaste da multidão e desenvolva hábitos “excêntricos”.
Acreditamos que todos possuem uma “voz” própria singular e, além disso, inquestionavelmente criativa; mas tratamos com suspeitas sombrias quem quer que use um dos métodos mais claramente estabelecidos de desenvolver essa criatividade – a solitude. Pensamos que somos únicos, especiais e merecedores da felicidade, mas temos pavor de ficar sozinhos.
Afirmamos que liberdade pessoal e autonomia são tanto um direito quanto um benefício, mas pensamos que quem exerce essa liberdade autonomamente é “triste, louco ou mau”. Ou os três de uma vez.
“Em 1980, o censo dos EUA mostrou que 6% dos homens acima de 40 anos nunca se casaram”, escreveu Vicky Ward em 2008 no tablóide London Evening Standard. “Agora, 16% estão nessa posição… ‘solteirões masculinos’’ – um apelido que significa, na melhor das hipóteses, que esses homens têm “problemas”, e, na pior das hipóteses, que eles são sociopatas.
“Teme-se por estes homens, da mesma forma que a sociedade tradicionalmente temeu as mulheres solteiras. Eles não podem ver quão solitários serão. Mas, a tempo de aliviar minha ansiedade, um amigo britânico veio à cidade… ‘Eu quero me casar,’ disse ele. Finalmente, um homem de valor.”
Na idade média, a palavra “solteirona” era um elogio. Uma “solteirona” era alguém, normalmente uma mulher, boa em fiar lã; uma mulher boa em fiar a lã era financeiramente autossuficiente – essa era uma das pouquíssimas formas pela qual uma mulher medieval poderia conquistar independência financeira. A palavra foi generosamente aplicada a todas as mulheres em idade para casar como uma forma de dizer que elas entraram livremente no relacionamento: por escolha pessoal, não por desespero financeiro. Agora é um insulto, porque nós tememos “por” tais mulheres – e agora também pelos homens.
Ser solteiro, ser sozinho – junto com fumar – é uma das poucas coisas que completos estranhos se sentem livres para comentar rudemente: é um estado tão desagradável (e provavelmente, assim como fumar, é sua culpa) que as exigências sociais de comportamento e tolerância são suplantadas.
Normalmente, nós somos delicados, até mesmo delicados demais, ao falar sobre coisas que consideramos tristes. Não nos permitimos comentar nada sobre muitos acontecimentos tristes. Damos voltas enormes para não falarmos sobre morte, não ter filhos, deformidades e doenças terminais.
Não seria aceitável perguntar a uma pessoa num jantar por que ela é deficiente ou desfigurada. É de se imaginar, eu suponho, que uma pessoa feliz em seu relacionamento acha que qualquer um que esteja sozinho está sofrendo tragicamente. Mas é mais complicado: o tom de Ward não é simplesmente compassivo.

desapegar das pessoas

by claudia regina

lembro que, não faz muito tempo, eu acumulava pessoas à minha volta. "todo mundo tem uma história", dizia eu para eu mesma, e por isso insistia em me relacionar com pessoas que nem sempre se encaixavam no meu momento de vida. eu vivia em situações em que, mais cedo ou mais tarde, pintava uma perguntinha na minha cabeça:"o que estou fazendo aqui?"
essa pergunta normalmente aparecia quando eu ouvia um comentário preconceituoso, quando se julgava negativamente alguém ou quando as conversas giravam em torno de pessoas, e não de ideias.
e eu, fingindo risadas de coisas que não achava graça e, pior ainda, repetindo comentários parecidos para não me sentir tão deslocada, terminava o dia sentindo vergonha de mim mesma e da minha carência.
a verdade é que sim, todo mundo tem uma história. mas para o dia a dia, para o relacionamento constante, é preciso que as histórias batam. que seja possível sentar com alguém e se sentir simplesmente… em segurança.
semana passada notei que no último ano essa pergunta não surge mais. notei que com um trabalho constante de desapego, é possível me manter rodeada de pessoas que acho interessantes (e, como dizem por aí, se você é a pessoa mais interessante da sala, procure mudar de sala.) pessoas que, muitas vezes, também já se fizeram a mesma pergunta.
eu podia ter notado isso em várias situações no último ano: podia ter sido durante as surubas vegetarianas com pessoas que não vou citar por respeito, durante as fotos nuas e peludas com o pessoal do coletivo além, ou ao usar a casa e as roupas da let enquanto ela gravava chamadas para seu programa de televisão. podia ter sido ao viajar pra ilha grande com amigos tão maravilhosos que nada que desse errado era um problema, podia ter sido ao participar de projetos de gente legal fazendo coisa legal (pessoal da tv folha, tv uol, espaço humus) ou podia ter sido durante os encontros com leitores do alex castro. podia ter sido na primeira, na segunda, ou na décima cama/sofá/colchão estranhos em que dormi em 2013, sendo hospedada por gente que é tão do bem que aceita estranhas da internet em casa e também podia ser ao encontrar tanta coisa em comum com a namorada de um amante (ou ex-amante? sei lá, pois todos vivemos relacionamentos livres sem muito começo ou fim.)
eu podia ter notado isso em várias dessas situações lindas, mas só parei para pensar nesta noite específica. uma noite em que eu, meu companheiro e duas pessoas lindas que acabávamos de conhecer estávamos livres para sentar e conversar.
e uma dessas pessoas lindas nos contou sua história. uma história que além de conter uma vida adulta cheia das histórias que a vida adulta nos traz, me marcou por uma coisa: a juventude com bullying. e ela continuou contando: na época até marcou a data do suicídio e foi por um acaso do destino que ele não aconteceu.
e me lembrei da minha própria juventude: o bullying e o suicídio marcado e tentado. e foi por um acaso do destino que ele não aconteceu.
eu sonhei com essa pessoa linda esses dias. estávamos dançando em cima da cama!
foi neste dia que parei e percebi que ultimamente minha pergunta é: 

A solidão de Narciso

As pessoas vêm à minha palestra “As Prisões“ e, durante muitas horas, compartilham os seus dilemas pessoais:
“Minha vida é uma bosta.
Estou presa num financiamento de imóvel que me escraviza.
Meu pai me obrigou a fazer direito mas eu queria fazer biologia.
Quero abrir o relacionamento mas a namorada não deixa.
Tenho vinte e cinco anos e ainda não construí nada. etc etc.”
E, no fim das contas, nada que eu tenha a dizer pode solucionar essas questões.
Até que porque essas questões não têm solução.
A única resposta possível é a que encerra a palestra:
Que a solução é não se importar com essas questões. Que elas não são relevantes. Que elas todas são apenas o seu ego falando.
Se você me diz,
“Quero fazer tal e coisa mas meu pai não deixa”,
A minha única resposta, minha resposta generosa e sincera, a única resposta que acredito que pode ajudar, é:
“Você vai morrer em breve, seu pai também, provavelmente antes, e que nesse meio tempo muitas outras pessoas vão morrer, a grande maioria delas com problemas bem maiores que o seu, e o que você está fazendo a respeito?”
"Echo & Narcissus" (1903), de John William Waterhouse.
“Eco & Narciso” (1903), de John William Waterhouse.
* * *
Há muito tempo, eu dava aulas em uma universidade nos Estados Unidos, onde as pessoas são muito mais obcecadas por notas que no Brasil. Então, quando estudantes começaram a pirar antes da prova final, eu dizia algo mais ou menos assim:
“Pensem comigo. Somos todos primatas sem alma, vivendo vidas sem sentido, presos na superfície de uma bola de pedra girando em torno de si mesma e se deslocando em círculos pelo vazio do espaço, destinados a morrer em breve, junto com todos nossos entes queridos, assim como nossos países, nossas culturas e nossos idiomas, que vão desaparecer também, aquecidos por um sol que logo se auto-destruirá, levando com ele tudo o que já conhecemos.
Então, sinceramente, no grande esquema das coisas, que importância pode ter essa prova?”
"Eco & Narciso" (1628), de Nicholas Poussin.
“Eco & Narciso” (1628), de Nicholas Poussin.
* * *
Um trechinho do livro “Sempre Zen” (1989), de Joko Beck:
“O que de fato queremos é uma vida natural. Mas nossas vidas são tão artificiais que essa busca, no começo, é bastante difícil.
Apesar de estarmos começando um novo caminho, trazemos as mesmas atitudes que tínhamos anteriormente: não achamos mais que a resposta está em um novo carro de luxo, mas sim em alcançar a iluminação. Continuamos na mesma corrida, apenas trocamos o troféu. Agora temos um novo “se ao menos”: “se ao menos eu conseguisse entender um pouco melhor o universo, então eu seria feliz”; “se ao menos eu conseguisse atingir uma pequena experiência de iluminação, então eu seria feliz”, etc, etc.
Muitas de nós acreditamos que se tivéssemos um carro maior, uma casa mais bonita, férias mais longas, um patrão mais compreensivo, ou um parceiro mais interessante, nossas vidas seriam muito melhores. Não há quem não pense assim.
Passamos a vida pensando que existe o “eu” e que existe essa outra coisa separada, “o tudo que não sou eu”, que nos causa alternadamente dor ou prazer. Assim, evitamos tudo que nos fere ou desagrada ou causa dor; e buscamos ou toleramos ou aceitamos tudo que nos agrada ou nos envaidece ou nos causa prazer, fugindo de uns e perseguindo outros. Sem exceção, todos fazemos isso.
Ficamos apartados da vida, olhando para ela de fora para dentro, analisando, fazendo cálculos como “e o que eu ganho com isso? será que vai me trazer prazer ou conforto? será que devo fugir?” Sob nossas fachadas agradáveis e amistosas, existe muita ansiedade.
Se nosso barco cheio de esperanças, ilusões e ambições (de chegar a algum lugar, de tornar-se espiritual, de ser perfeito, de alcançar a iluminação) vira de cabeça pra baixo, o que é esse barco vazio? O que sobra? Quem somos nós?”
Charlotte Joko Beck (1917-2011)
Charlotte Joko Beck (1917-2011)
* * *
Um trechinho do livro “Not for Happiness” (2012), de Dzongsar Jamyang Khyentse:
“Esses dias, o objetivo de muitos ensinamentos é fazer as pessoas “se sentirem bem”, validando seus egos e suas emoções. Mas é um erro considerar que a prática do caminho vai nos acalmar ou nos ajudar a viver uma vida tranquila. Se você só está preocupado em se sentir bem, melhor fazer uma massagem relaxante ao som de uma música new age.
O caminho não é terapia. pelo contrário, ele foi elaborado sob medida para expor nossas falhas e virar nossa vida de cabeça pra baixo.
Aliás, se você pratica o caminho mas sua vida ainda não virou de cabeça pra baixo, então sua prática não está funcionando.”
Dzongsar Khyentse e criança.
Dzongsar Khyentse e criança.
* * *
Quando um paciente chegava com questões existenciais profundas, o Analista de Bagé (personagem criado por Luis Fernando Veríssimo) lhe dava logo um joelhaço “bem ali onde tudo começa e tudo se resolve”.
Se o bagual começasse a reclamar da “finitude humana”, do “vazio cósmico”, do “absurdo da existência”, levava outro joelhaço.
Finalmente, o vivente compreendia que o infinito pode ser uma sensação horrível, mas que o joelhaço, aquela dor enorme, ali nas bolas, ali naquele momento presente, mais presente impossível, era muito pior.
Nesse momento, estava curado.
A terapia do joelhaço.
A terapia do joelhaço.
* * *
Um trechinho do texto A segunda história de Eco e Narciso (2012), da pessoa que escreve sob o pseudônimo de O Último Psiquiatra:
Narciso não estava tão apaixonado por si mesmo que não conseguia amar mais ninguém: é o oposto. Ele nunca amou ninguém e então se apaixonou por si mesmo. Porque ele nunca amou ninguém, ele se apaixonou por si mesmo. Essa foi sua punição.
* * *
A solidão é um egoísmo: ninguém reclama “estar sozinho”, sente “vazio existencial”, ou quaisquer outros desses caprichos bem-alimentados, quando está ouvindo, acolhendo, se doando para outra pessoa.
Narciso não estava só: ele tinha seu reflexo.
"Narciso", de Caravaggio.
“Narciso”, de Caravaggio.
* * *
Há doze anos, escrevo sobre aquilo que chamo de “As Prisões“:
São as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida. São as ideias pré-concebidas, as tradições mal-explicadas, os costumes sem-sentido.
Comecei a questioná-las uma a uma: verdade // dinheiro // privilégio // sexismo // racismo // monogamia // religião // patriotismo // escolhas // respeito // certezas // os outros // medo // ambição // felicidade // narcissismo.
Nos últimos meses, tenho viajado o Brasil falando sobre As Prisões. Uma conversa experimental, sempre no fim-de-semana, um espaço livre para todos compartilharem suas histórias, para todas as certezas serem chacoalhadas. As próximas são em Curitiba, Belo Horizonte, Vitória e Belém, em maio.
(Para mais detalhes, calendário completo, vídeos, depoimentos de quem foi, roteiro completo da palestra, tudo isso, veja aqui.)
Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // todos os meus textos são rigorosamente ficcionais. // se gostou, mande um email, me siga nofacebook, compre meus livros, faça uma doação ou venha às minhaspalestras. e eu te agradeço.

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