- O que significa esta pintura? perguntou a humilde faxineira ao famosíssimo pintor.
- O que significa uma nuvem?
- Dependendo do tempo significa chuva, noutro não.
O artista não soube aonde enfiar a cara.
Pouco mais de dois meses após o impeachment, processo que teve início em dezembro de 2015 e que foi repleto de manifestações populares por muitas vezes raivosas contra si, a ex-presidente Dilma Rousseff tem circulado normalmente pelo país. Sua aparição pública mais recente foi comendo um cheeseburguer em uma tradicional lancheria de Pelotas (253 km de Porto Alegre), no sul do Rio Grande do Sul, onde posou para fotos, esbanjou simpatia e foi muito assediada.
A então sisuda presidente – tida por pessoas próximas como rígida e séria – parece ter dado lugar a uma ex-presidente agradável e que não tem receio de se expor em público. Nesse fim de semana, durante retorno do Uruguai, Dilma fez uma parada na Circulu’s Lanches, onde saboreou um “cheese bebum”, prato tradicional da casa.
“Eu achei que era brincadeira. Meu marido estava no caixa e ligou para a cozinha, onde eu estava. ‘Corre que a Dilma tá aqui’, ele disse. Nunca a gente imaginou que um ex-chefe de Estado estaria aqui na nossa lancheria”, comenta a empresária Juliana Medeiros Suanes.
Dilma posou para fotos, selfies e cumprimentou quem a acenava. A aparição da ex-presidente foi um acontecimento local. Juliana precisou acomodá-la em uma área mais reservada para que ela pudesse escolher seu jantar.
“Ela foi para o banheiro poder ler o cardápio. Oferecemos para ela nosso escritório para poder comer mais à vontade, porque era muita gente chegando para tirar foto. Ela aceitou e foi muito simpática.”
Dilma ainda visitou a cozinha, onde tirou foto com toda a equipe da lancheria. “Ela ficou surpresa com tanta gente trabalhando na cozinha, a maioria mulheres.”
Juliana conta que ficou preocupada com a movimentação no local. Era uma noite de movimento e muita gente chegava só para ver a ex-presidente. “Eram umas 200 pessoas num espaço pequeno. E nada de vaias. Independente de questões políticas, as pessoas viram na ocasião uma celebridade. Foram muito educados.”
Juliana conta que Dilma comeu o “cheese bebum”, feito com pão, maionese, alcatra picada, vinho, cebola, queijo, alface, tomate, milho, ervilha e pepino. Antes, comeu batata frita. Para a viagem, aceitou mousse de chocolate. Dilma vinha de carro do Uruguai e chegaria em Porto Alegre apenas cerca de quatro horas depois.
Mas essa não foi a única aparição de Dilma nessa passagem por Pelotas. Na quinta (3), ela e seu staff – três seguranças divididos em dois carros -, além do ex-ministro Pepe Vargas, almoçaram em uma churrascaria da cidade, quando rumavam para o Uruguai. A recepção a Dilma foi a mesma da noite de sábado.
“Ela foi muito simpática e atendeu todos na churrascaria. Tinha muita gente pedindo para tirar fotos e selfies, e ela atendia. Pediu para conhecer a cozinha e tirou foto com os cozinheiros. Apenas não falou oficialmente com a imprensa”, conta a jornalista Carolina Marasco. Editora de política do jornal Diário Popular, a repórter ficou sabendo da parada de Dilma e foi até o local. Se surpreendeu com a simplicidade e pouca segurança.
“A Brigada Militar nem sabia que ela passaria por aqui. Não foi acionada.” Segundo Carolina, Dilma recebeu inúmeras manifestações positivas. Gestos hostis, a jornalista não presenciou nenhum. “Quando ela saiu, uma senhora veio até nós e disse ‘essa sempre vai ser minha presidente'”, relata.
Renan Calheiros foi hostilizado ontem pelos juízes federais porque, segundo o Estadão, ” mandou instalar uma comissão para identificar quem ganha acima do teto no Legislativo, no Executivo e no Judiciário”. Dizem os repórteres Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fausto Macedo que para os magistrados, a iniciativa do peemedebista – alvo da Lava Jato e de onze inquéritos no Supremo Tribunal Federal -, significa ‘retaliação’.
Com a devida vênia aos doutores juízes, receber dos cofres públicos acima do teto constitucional é ilegal, imoral e apropriar-se, indevidamente, de dinheiro que pertence ao povo brasileiro. Em matéria de retirar recursos públicos daquilo a que deveria servir, é exatamente igual à praticar corrupção no Estado.
Afinal, cada real esvaído na corrupção que, como cansam de dizer aos magistrados, falta para o hospital e para as escolas é exatamente igual ao pago indevidamente a qualquer servidor. A moeda, além do dourado e do cromado, não tem nenhuma outra cor, ideologia ou moral. É dinheiro, puro e simples.
Mais curioso (curioso?) é que os juízes, os que deveriam ser os maiores zeladores pelo cumprimento dos limites remuneratórios são, ao que se noticia, alguns dos maiores praticantes desta apropriação indébita. Tanto que chamam a ofensiva sobre remunerações abusivas de “retaliação”. Ora, se não as praticassem – ou se as punissem interna corporis – como iriam ser retaliados por isso?
Renan Calheiros tem diversas acusações contra ele, algumas arrastando-se há anos nos tribunais.
Ninguém questiona estas serem lentas e outras serem rápidas.
Como rápido foi o Ministro Teori Zavascki para levar uma maioria escassa do Supremo a confirmar a prisão antes do trânsito em julgado de sentença – enquanto é lento em outras questões capazes de mexerem com a própria institucionalidade do país, como os sete meses em que abrigou o pedido de afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara, deixando-o desfechar o processo de impeachment?
É evidente que a discussão do projeto sobre abuso de autoridade judicial é uma “retaliação” à Lava jato. Mas, como no caso dos super-salários, como poderia ser uma “retaliação” se os abusos, de fato, não estivessem acontecendo e, sobretudo, não estejam sendo contidos pela própria estrutura do Judiciário?
E como vão valar em mudança casuística da lei se não só o Supremo a faz a seu bel-prazer e o Ministério Público força a mão com um projeto de “10 medidas de combate à corrupção” que envolve até mesmo validar provas ilícitas?
A Justiça brasileira, quando passou a fazer política, sujeita-se às regras da política.
Onde há cumplicidade, retaliação, chantagem, toma-lá-dá-cá, desde que o mundo é mundo.
Onde se é “popular” num dia e o contrário no dia seguinte.
Não reclamem de afundarem-se no abismo que eles próprios cavaram.
ASSESSORIA DE IMPRENSA - DILMA ROUSSEFF
O maior mistério de todos para quem nos estudar de longe será o ódio. Nossa reputação de povo amável talvez sobreviva até 2050. Então, como explicar o ódio destes dia?
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Coitado de quem, no futuro, tentar entender o que se passava no Brasil, hoje. A perspectiva histórica não ajudará, só complicará mais. Havia uma presidente — Vilma, Dilma, qualquer coisa assim — eleita e reeleita democraticamente por um partido de esquerda, mas criticada pelo seu próprio partido por adotar, no seu segundo mandato, uma política econômica neoliberal, que deveria agradar à oposição neoliberal, que, no entanto, tentava derrubar a presidente — em parte pela sua política econômica!
Os historiadores do futuro serão justificados se desconfiarem de uma conspiração por trás da contradição. Vilma ou Dilma teria optado por uma política econômica contrária a todos os seus princípios para que provocasse uma revolta popular e levasse a uma ditadura de esquerda, liderada pelo seu mentor político, um tal de Gugu, Lulu, Lula, por aí.
Como já saberá todo mundo no ano de 2050, políticas econômicas neoliberais só aumentam a desigualdade e levam ao desastre. Vilma ou Dilma teria encarregado seu ministro da Fazenda Joaquim (ou Manoel) Levis de causar um levante social o mais rápido possível, para apressar o desastre. Fariam parte da conspiração duas grandes personalidades nacionais, Eduardo Fuinha e Renan Baleeiro, ou coisas parecidas, com irretocáveis credenciais de esquerda, que teriam voluntariamente se sacrificado, tornando-se antipáticos e reacionários para criar na população um sentimento de nojo da política e dos políticos e também contribuir para a revolta.
Outra personalidade que disfarçaria sua candura e simpatia para revoltar a população seria o ministro do Supremo Gilmar Mentes.
Uma particularidade do Brasil que certamente intrigará os historiadores futuros será a aparente existência no país — inédita em todo o mundo — de dois sistemas de pesos e medidas. O cidadão poderia escolher um sistema como se escolhe uma água mineral, com gás ou sem gás. No caso, pesos e medidas que valiam para todo mundo, até o PSDB, ou pesos e medidas que só valiam para o PT.
Outra dificuldade para brasilianistas que virão será como diferenciar os escândalos de corrupção, que eram tantos. Por que haveria escândalos que davam manchetes e escândalos que só saíam nas páginas internas dos jornais, quando saíam? Escândalos que acabavam em cadeia ou escândalos que acabavam na gaveta de um procurador camarada?
Mas o maior mistério de todos para quem nos estudar de longe será o ódio. Nossa reputação de povo amável talvez sobreviva até 2050. Então, como explicar o ódio destes dias?
A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) será a relatora da Comissão Especial do Extrateto, colegiado que vai propor medidas para colocar fim aos chamados “supersalários” no funcionalismo público – aqueles que estão acima do teto constitucional (atualmente em R$ 33,7 mil). A parlamentar também pretende discutir o efeito cascata nas remunerações do Judiciário.
A comissão foi instalada nesta quinta-feira (10) pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Durante cerimônia, Kátia Abreu afirmou que o país não pode aceitar salários “exorbitantes” no funcionalismo. O colegiado vai analisar remunerações “extrateto” dos três poderes: Judiciário, Legislativo e Executivo.
Por meio da soma de benefícios, gratificações e auxílios de várias naturezas, milhares de servidores públicos têm vencimentos mensais acima do limite de R$ 33,7 mil. A comissão, que terá duração de vinte dias, vai analisar esses casos e regulamentar o artigo da Constituição que trata do teto salarial dos três poderes.
“Há casos de funcionários públicos que recebem mais de R$ 150 mil por mês. Essa exorbitância revolta o povo brasileiro. Neste momento em que toda a sociedades está fazendo grande sacrifício pelo rigor nas contas públicas, tenho certeza de que essa regulamentação vai contribuir de forma efetiva para o ajuste fiscal do país”, afirmou a senadora.
Kátia Abreu disse que é preciso colocar fim ao “contrabando de benefícios”. “Não dá mais para inventar auxílios e gratificações para somar ao salário e, assim, extrapolar o teto, ter um supersalário”, disse.
Efeito cascata
A Comissão do Extrateto também vai estudar o fim do chamado “efeito cascata”, segundo o qual os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) servem de teto para o funcionalismo público de todas as esferas. Além disso, salários de desembargadores, procuradores, juízes e conselheiros também podem ser vinculados aos do STF.
“Quando o salário do Supremo aumenta, todo o Judiciário aumenta automaticamente e, geralmente, os estados não estão preparados para arcar com isso”, afirmou a senadora.
Além de Kátia Abreu, também integram a comissão os senadores Otto Alencar (presidente), Antônio Anastasia (vice-presidente), Reguffe, Roberto Requião, José Pimentel, Magno Malta e Lasier Martins.
Renan Calheiros afirmou que o grupo de senadores reúne “as melhores cabeças do Senado”. O presidente ainda agradeceu à participação da senadora Kátia Abreu como relatora. “A coragem da senadora Kátia Abreu mais uma vez está à disposição do interesse nacional”, afirmou.
Foto: Jane de Araújo/Agência Senado