As eleições, em geral, são vencidas com uma única frase. Como se fosse o lançamento do carro do ano. Na América do Norte o programa de um partido político se resume a uma mensagem curta, retumbante, dirigida ao subconsciente coletivo. Cada candidato para a Casa Branca apresenta-se amparado sob o seu slogan, que repete
ao longo de toda a campanha, até que finalmente penetra o cérebro do eleitor.
“É a economia, estúpido”, foi a palavra de ordem de Clinton, que agitou as mãos na hora da escolha do voto. “O eixo do mal”, com essas quatro palavras George Bush ganhou a eleição depois do cataclismo das Torres Gêmeas. “Sim, nós podemos”, repetia Obama em todos os comícios como se fosse um mantra. Em nosso país, o Partido Socialista chegou ao governo em 1982 apenas com esta breve expressão: “pela mudança”. Depois de três maiorias absolutas, Felipe foi finalmente expulso pelo grosseiro imperativo: "Vá embora, Sr. Gonzalez!”. Nas eleições de 2004, no mesmo dia do atentado de Atocha, o próprio Partido Popular ficou abatido porque se encontrou a frase precisa que resumia toda aquela tragédia social, moral e política. “A Espanha não merece um governo que lhe minta”. Foi um cruzado de direita no queixo que levou a lona, juntos, Aznar Rajoy.
Agora, basta ao Partido Popular malhar o ferro enquanto ainda está quente, com este binômio sinistro: Zapatero e cinco milhões de desempregados. Eleições antecipadas. Uma coisa leva a outra. Toda a complexidade diabólica da crise econômica foi reduzida a este princípio básico de causalidade que a opinião pública vai terminar assimilando. O problema do Partido Socialista é que parece não encontrar uma frase atraente para recuperar os eleitores que o abandonaram. Na imaginação do eleitorado não cabe mais do que duas ideias de cada vez. Trata-se de encontrar uma expressão, mesmo uma única palavra, que expresse todo o desespero da esquerda e obrigue-a a rejeitar mais uma vez o sabão com que Pilatos lavou as mãos. Se você me odeia, vote em mim.
Manuel Vicent, colunista político e escritor