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Quero descrescer na vida

by claudia regina
Quando me mudei pro Rio, fiz uma escolha que muita gente faz pra ser viável morar na zona sul, perto da praia e do agito artístico: morar num conjugado apertado. Isso, para muita gente da minha classe social, é indigno. Mas qualquer pessoa mais esperta sabe que, mesmo sendo apertado, ainda é um privilégio de classe muito grande desbancar milhares de reais de aluguel por poucos metros quadrados.
De qualquer forma, aprendi em Copacabana esse tal conceito de usar o espaço público como quintal.
Se quero ler um livro com um ventinho fresco vou pra nossa praia, não pra minha varanda. Se quero nadar, vou pra nossa praia, não pra minha piscina. Se quero tomar um suco com uma amiga, vou pra nossa praia, não pro meu quintal.
E essa troca do meu pelo nosso é tão boa. E cada dia que passa, sinto que meu conjugado é grande demais. Que não preciso de tanta espaço meu. Que não preciso de tanta coisa minha.
Tão lindo de ver, compartilhadas por aí, as ideias de hortas compartilhadas, bibliotecas compartilhadas, bicicletas compartilhadas… Casas cada vez menores, cidades cada vez mais compartilhadas.
Vou me livrando do privado, aqui e ali, pensando num mundo bonito sem tantos meus e com mais nossos. Na utopia profunda de que assim, a sociedade pode acolher a todos nós, igualmente.

E os filhos?

Sempre quando falo em viver com menos gastos, menos luxo, menos ostentação  escuto o seguinte cometário:

"Você fala isso porque não tem filhos"


by claudia regina
Acompanhando essa afirmação, aparecem outras, quase sempre atreladas à uma visão classista e histórica em relação à família nuclear.
(Claro, vamos ignorar o fato de que a escolha de não ter filhos existe e é válida.)
As indagações mais comuns:
1. "É fácil viver com pouco se você não precisar pagar escola particular e se não precisar ter carro pra levá-los pra lá e pra cá!"
Essa visão classista é muito interessante, porque ignora as muitas famílias que criam filhos a vida inteira sem carro e sem escola particular.
Ter filhos e não ter carro é a realidade de muitas famílias. Duas soluções muito claras para essa dificuldade são morar perto da escola e ir a pé ou usar o transporte público. Mas aí me dizem: "Mas eu não tenho tempo pra levar meus filhos à escola à pé ou usar o transporte público!" Claro que você não tem tempo: está trabalhando que nem louco para poder pagar o carro! Também dizem: "Mas andar de ônibus é indigno, é horrível, o transporte público da minha cidade é péssimo". Claro que é péssimo: ao invés de lutar para melhorar as condições públicas da sua cidade, você soluciona o problema comprando o SEU carro, para levar o SEU filho pra lá e pra cá.
Ter filhos na escola pública é a realidade de muitas famílias também. "Mas a escola pública é horrível! Meu filho não vai passar no vestibular!" Claro que é horrível: ao invés de lutar para melhorar o ensino público, você está solucionando o problema pagando uma escola particular pro SEU filho. Que tal colocar seu filho na escola pública, se manifestar à favor de melhoras nas condições de trabalho de professores e nas estruturas das escolas, e ajudar seu filho, em casa, a passar pro vestibular? Ah, é, você não tem tempo para estudar com ele: está muito ocupado trabalhando que nem louco pra pagar a escola particular.
"Mas essas pessoas não têm carro ou escola particular porque não podem escolher!" Pois é. Você pode escolher e está escolhendo o caminho mais caro e mais egocêntrico.
É um ciclo que vai e volta.
Pessoalmente, essa afirmação me ofende bastante pois estudei a vida inteira em escolas públicas, incluindo a universidade (pois é, eu passei no vestibular tendo estudado em escolas públicas, olha só que incrível!) Já estudei em escola perto de casa (onde dava pra ir a pé) e em outras onde ia de ônibus. Estou aqui, inteirinha.
2. "É fácil viver assim, se você não tem filhos pedindo o último iPhone porque os amiguinhos têm. Não é seu filho que vai sofrer a pressão social de não ter coisas."
É claro que se o seu filho exige bens materiais: com o seu exemplo de dar valor ao SEU carro, à SUA propriedade privada, à educação de qualidade só para SUA família (e pras poucas que podem pagar)... É evidente que seu filho haja igual.
E deixa eu contar uma novidade muito interessante: você não precisa dar pro seu filho tudo que ele pede (!!!!!). Ao invés disso, pode ensinar (e mostrar) pra ele que é muito mais importante ser um cidadão do que ter o último celular, roupa ou videogame.
3. "É fácil viver em uma casa pequena em Copacabana sem filhos. Mas se você tem filhos, como eles vão brincar na rua? E a segurança?"
Vejo muita gente criando filhos (e muitos) morando em lugares muito menores do que o conjugado onde moro. Imagina só, que interessante, mas essas pessoas são seres humanos dignos e diversos, assim como você.
Existem duas opções: ou você soluciona o SEU problema com dinheiro, ou você ajuda a moldar uma sociedade que soluciona o problema de TODOS. O seu filho faz parte disso, e provavelmente vai seguir seus exemplos.