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Psicodália

Cultura, contracultura e o retorno a realidade objetiva
Cada ano que começa, atropelado pelas pendências do anterior e inspirado por promessas de um novo começo, encontra em janeiro e fevereiro um respiro, uma coxia para entrar de fininho. Não é à toa que o brasileiro ostenta entre seus lemas o clássico “o ano só começa depois do Carnaval” e alinha suas expectativas pra só encarar o calendário de jeito depois das festividades da carne.
Pelo visto abrir os trabalhos em plena ressaca é o banho de água fria que nos ajuda a pegar no tranco. Mesmo entupido de trabalho nos primeiros meses do ano e não ligando muito pra esse quase-que-feriado tupiniquim, às vezes me pego dividindo o ano em antes e depois dele.
Longe dos blocos sujos, das ruas mijadas e fantasias recicladas, é no meio do mato e serra acima que encontro meu refúgio maior.
Falar sobre dias paradisíacos num festival onde a vida cotidiana se dissolve como identidade secundária é tarefa complicada, mas nada nos impede de tentar.
Idealizado, produzido e em constante crescimento desde o começo do século, o festival Psicodália chegou neste Carnaval de 2014 à sua 17ª edição. Teve início como projeto piloto em Angra dos Reis, e se consolidou com caráter itinerante ao realizar edições na Lapa paranaense, passando então para Santa Catarina, sediado inicialmente no município de São Martinho e, de 2009 até hoje, em Rio Negrinho.
A vivência no Psicodália transcende o habitual, tanto no sentido cotidiano da palavra quanto se comparado a outros festivais. Ao longo de cinco dias (seis, nessa edição) a programação é recheada de shows, oficinas, intervenções artísticas, arranjos musicais mutantes e todo tipo de gente que se possa imaginar.
Todo tipo mesmo; de todas as idades, cidades, estados, estilos, gêneros, preferências sexuais, profissões e religiões, donas e reprodutoras de ideias tão variadas quanto o próprio universo, mas que convergem num grande mosaico ideológico respeitado por todos.

Os Incríveis anos 60

Contracultura são grupos de ideias e comportamentos que se opõem à cultura dominante, questionando as instituições e os valores de uma sociedade.

 O movimento da década de 60 começou no final dos anos 50 como contestação à crise no moralismo rígido da sociedade, e a decepção do “Sonho Americano” que não conseguia mais empolgar a juventude. Ele se inicia através das artes na literatura beat de Jack Kerouac, do rock, e no cinema e no teatro de vanguarda, inclusive no Brasil. O autor Jack Kerouac introduziu a frase “Geração Beat”, ”Beatniks” para caracterizar a juventude anti-conformista, reunida em Nova Iorque naquele tempo.
Nessa avalanche de inconformismo vários países ocidentais deram uma guinada à esquerda como a vitória de John F. Kennedy nas eleições de 1960 nos EUA, da coalizão de centro-esquerda na Itália em 1963 e dos trabalhistas no Reino Unido em 1964. Houve também uma reação extremada, juvenil, às pressões de mais de vinte anos de Guerra Fria. Uma rejeição aos processos de manipulação da opinião pública por meio dos meios de comunicação que atuavam como “aparelhos ideológicos” incutindo os valores do capitalismo, e, simultaneamente, um repúdio “ao socialismo real”, ao marxismo oficial, ortodoxo, vigente no leste Europeu, e entre os PCs europeus ocidentais, vistos como ultrapassados.
No Brasil, a posse de João Goulart também acompanhava essas mudanças no mundo, mas com o golpe civil/militar de 64 o Brasil dava as costas às idéias rejuvenescedoras e entrava num retrocesso, uma marcha à ré, atrelado ao obscurantismo de qualquer ditadura.
 Essa reação ao sistema teve duas fases distintas. A primeira, de 1960 a 1965, marcada por um sabor de inocência e até de lirismo nas manifestações sócio-culturais, e no âmbito da política é evidente o idealismo e o entusiasmo no espírito de luta do povo. A segunda, de 1966 a 1969, em um tom mais ácido, revela as experiências com drogas, a perda da inocência, a orgia sexual e os protestos contra o endurecimento dos governos e que se iniciou com a radicalização dos movimentos estudantis a partir do maio de 68 na França, que não estava vinculado a nenhuma ideologia específica, mas apregoava o direito de cada um de pensar e se expressar livremente.

A década de 60 representou a realização de projetos culturais e ideológicos alternativos e ficariam caracterizados pelas grandes transformações de visão libertária que ocorreram no mundo. Um vendaval de rebeldia, alimentado pelos jovens, percorria o mundo.

Tornou-se uma década mítica porque provocou mudanças políticas, éticas, sexuais e comportamentais, que afetaram as sociedades da época de uma maneira irreversível. Seria o marco para os movimentos ecologistas, feministas, das organizações não-governamentais (ONGs) e dos defensores das minorias e dos direitos humanos.
Alguns movimentos dos anos 60 que provocaram profundas modificações no “sistema”.

Movimento Negro.                                                                                                                                                                    
 Os moderados tiveram como seu maior expoente, o pastor Martin Luther King. Ele entendia que a luta dos povos do Terceiro Mundo assemelhava-se a dos negros americanos contra a discriminação e o preconceito. Sua morte provocou uma violenta onda de protestos acompanhada de incêndios nos maiores bairros negros em 125 cidades americanas. Os “Panteras Negras” lutavam pelos mesmos valores e eram mais radicais.
Women’s Liberation Front.                                                                                                           
 Feminismo que tem como meta direitos equânimes e uma vivência humana liberta de padrões opressores baseados em normas de gênero.
The Northern Ireland Civil Rights Association (NICRA) - atuou pelos direitos civis da minoria católica na Irlanda.
Movimento Pacifista contra a Guerra do Vietnã. A crescente oposição à guerra dentro dos Estados Unidos quase se tornou numa aberta insurreição da juventude. A violência dos bombardeios sobre a população civil vietnamita, composta de aldeões paupérrimos, já havia provocado desconfiança em relação à justeza da intervenção no Sudeste da Ásia. Era inaceitável que a maior potência do Mundo atacasse um pequeno país camponês do Terceiro Mundo.
Grande Revolução Cultural Proletária.                                                                                              
Na China Popular, Mao Tse-tung desencadeara a partir de 1965 a (Wuchanjieji Wenhua Dageming), com o apoio dos estudantes e trabalhadores contra a burocracia que tomava conta do Partido Comunista.

Além da indignação geral provocada pela Guerra Vietnamita e o fascínio pelas multidões juvenis da Revolução Cultural chinesa, também pesou a morte de Che Guevara na Bolívia, ocorrida em outubro de 1967. Seu martírio pela causa revolucionária serviu para que muitos se inspirassem no seu sacrifício.
A "crise" de maio de 1968.                                                                                                                     
Começou com uma série de greves estudantis da juventude francesa e que teve réplicas nos demais países desenvolvidos, desde os EUA ao Japão. A voz das minorias começa a levantar-se. Há uma crescente emancipação das mulheres. O próprio clero inicia também uma auto-reflexão.
A Primavera de Praga.                                                                                                                           
 Foi uma reforma profunda na estrutura política na Tchecoslováquia para conceder direitos adicionais aos cidadãos num ato de descentralização parcial da economia e de democratização, relaxamento das restrições às liberdades de imprensa, de expressão e de movimento e ficou conhecida como a tentativa de se criar um "socialismo com face humana”
Movimento Hippie.     
A proposta do movimento hippie era diversa e ampla, buscava um questionamento existencial mais abrangente, além das considerações econômicas, sociais e políticas em voga nos anos 60. Visava ao ser integral em face da vida e do mundo.
Adotavam um modo de vida comunitário, ou de vida nômade, em comunhão com a natureza.   
Negavam todas as guerras, os valores sociais e morais tradicionais e abraçavam aspectos das religiões orientais, e/ou das religiões indígenas, estavam em desacordo com os fundamentos das economias capitalistas e totalitárias.