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Bolsonaro e Guedes querem privatizar postos de saúde


por
Dilma Rousseff

 O decreto de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes que autoriza a privatização das UBS - Unidade Básica de Saúde (Postos de Saúde) -, é um passo decisivo para destruição do SUS - Sistema Único de Saúde -. Mais de cento e cinquenta (150) milhões de brasileiros tem apenas o SUS como forma de acesso a atendimento médico.

As 45 mil UBSs oferecem primeiro atendimento, além de vacinação, a centenas de milhões de pessoas. Sem repor os médicos cubanos, expulsos por Bolsonaro por preconceito ideológico, o Mais Médicos deixou de atender 63 milhões que tiveram nas UBSs o único acesso à saúde.

Fidel e o Menos Médicos de Bolsonaro

Si tu país no ti garantiza salud, educación e seguridade, por qué crees que puedes hablar mal de Cuba?


en Cuba todo ciudadano tiene, y gratis
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Resposta de um médico cubano a Bolsonaro e seus bolsominions

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Jair Bolsonaro disse:
“Atualmente, Cuba fica com a maior parte do salário dos médicos cubanos e restringe a liberdade desses profissionais e de seus familiares. Eles estão se retirando do Mais Médicos por não aceitarem rever esta situação absurda, que viola direitos humanos. Lamentável!”, escreveu o presidente.
Eu respondo: Bolsonaro meu filho, quando o Sr. diz que Cuba fica com meu salário eu só penso nas seguinte questões:
1- Eu aceitei os termos do contrato por livre e pessoal determinação.
2- Ciente de que com esse dinheiro minha mãe, irmãos, sobrinhos, primos, tios, vizinhos, e todas famílias tem garantido o cuidado de sua saúde. Sem pagar nada.
3- Ciente que minha formação como médico foi graças a criação de Universidades públicas em todo o território Nacional. Onde filhos de Pedreiros, Advogados, Fazendeiros, Faxineiras, empregados dos Correios, médicos, etc... compartilham a mesma sala de aulas sem discriminação por sexo, cor, ideologia, ou riqueza. Isso Bolsonaro, chama-se igualdade. Coisa que Sr. não conhece. Porque não existe num país, onde a corrupção e os privilégios políticos acabam com a riqueza do Brasil.
Eu tenho o coragem de trabalhar para o povo brasileiro ainda sem perceber esse salário que o Sr. fala. Porque eu não trabalho só por uma questão econômica. Eu trabalho porque gosto da minha profissão , por que jamais vou ficar rico nas costas dos pobres. Porque jamais vou usar a política como meio de vida. Porque jamais vou enganar os pobres com falsas promessas. Porque jamais vou plantar o ódio e discriminação no coração de ninguém. Porque vou pensar bem as coisas antes de falar para não ter que fazer como você (pedir desculpas todos o dias pelas loucuras que fala).
4- Eu posso sim trazer alguém de minha família. Não trouxe, porque Sr. Bolsonaro o pobre tem que ter prioridades na vida e para mim a prioridade é ajudar minha família, mais que comprar um passagem aérea, sabendo que em casa temos outras necessidades e prioridades.
5- Sei também que o Sr. conta com o apoio de uma pequena parte de meus colegas que por motivaçãoes políticas e econômicas, acham melhor se enriquecer de dinheiro e não de amor, experiência, valores morais , patriotismo, dignidade.
Porque eu posso não concordar com meu salário lá em Cuba. Eu posso até não concordar com o sistema político de Cuba. Mas também não tenho porque difamar meu país , eu vi isso também nos brasileiros pobres que é a maioria no brasil. Eles gostam de seu Brasil, daquele povinho onde eles nasceram, só que com certeza gostam que esse mesmo Brasil que eles tem no coração tenha igualdade, pobreza 0 , fome 0, discriminação 0, violência 0, corrupção 0, saúde e educação de qualidade. Mas inda assim no Brasil imperfeito eles gostam de seu país .
6- O Sr diz que os cubanos "estão se retirando do Mais Médicos por não aceitarem rever esta situação absurda que viola direitos humanos.
Não Bolsonaro, o que realmente viola os direitos humanos e privar aos pobres do Brasil do acesso a Saúde por não concordar com outras ideologias políticas. Porque o Sr. quer mudar as regras sem perguntar aos beneficiários do programa se realmente os cubanos fazem o trabalho do jeito que tem que ser.
Porque aqui no Brasil a gente tem preceptores brasileiros. A gente está fazendo um curso em Medicina familiar, tudo debaixo da supervisão de excelentes profissionais brasileiros. A gente não está lá em qualquer canto fazendo as coisas a capricho não. Agora vem você a dizer que nós estamos fantasiados de médicos. Aqui o único fantasiado é o Sr. e todos os que apoiam sua absurda visão da realidade.
O Sr. só está lutando pelos privilégios da classe médica, da classe política. Lamentável! Sim, Sr. Bolsonaro o que resulta lamentável é ver como um cara sem conhecimentos de nada, apenas de armas, consegue se eleger presidente . E ainda assim mais lamentável, foi ver alguns pobres eleger você. Deus tome conta dos pobres. Deus tome conta do Brasil.
7- Quem estudou na época dos livros, quem estudou na época que as pesquisas eram feitas nos livros e não no Google, ou na internet, merece respeito.
Quem lutou pela vida, e chorou pela morte de uma pessoa, ou de uma criança merece respeito.
Quem foi lá onde para muitos é o Fim do mundo, para cuidar dos doentes merece respeito.
Quem ficou longe da família para devolver o sorriso de um idosso ou uma criança merece respeito.
Aí é para tirar o chapéu viu?

Gênio Total, royalties para Neno Cavalcante


E que meus conhecidos bolsonaristas jamais precisem de médicos cubanos ou de qualquer nacionalidade. Que prestem serviço ao Mais Médicos. Que paguem suas consultas ou continuem a adular, lambendo ovos ou xupando xenas. Pronto, falei! 
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Mais dois programas de Jair Bolsonaro

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Depois de expulsar os médicos cubanos do Brasil e criar o Menos Médicos, o presidente eleito Jair Bolsonaro não para de lançar programas. Hoje, até este momento (12:30), ele já lançou mais dois, o Mais Mortos e o Mais Funerárias.
Disse Bolsonaro: 

É o resultado do Menos Médicos com a vontade de morrer. Brazil acima de tudo. Deus acima de todos! E nós lambendo o saco do Trump!

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Bilete para os Menos Médicos

"O trabalhador vai ter que escolher, menos direitos e trabalho ou mais direitos e sem trabalho", Jair Bolsonaro

Exceto se o trabalhador for médico cubano e trabalhar no programa Mais Médicos. Aí Bolsonaro garante todos os direitos, casa com piscina para família e churrasco garantido todos os fins de semana.

Acredite se quiser.
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Quer saber como @jairbolsonaro mente e manipula pra enganar você sobre o Mais Médicos?

Dilma edita medida provisória para proteger o Mais Médicos




Convocada para amanhã, no Planalto, a cerimônia de assinatura de uma Medida Provisória para proteger o programa Mais Médicos deve transformar-se num primeiro ato em defesa de um das melhores heranças de Dilma Rousseff, colocada sob ameaça por um eventual governo Michel Temer.
Criado por Dilma em 2013, como uma resposta coerente aos imensos protestos ocorridos no primeiro semestre daquele ano, o Mais Médicos atende 63 milhões de brasileiros e tornou-se um dos mais bem sucedidos programas sociais em vigor no país depois da chegada do condomínio Lula-Dilma no Planalto. O índice de satisfação da população beneficiária, residente em áreas carentes e pontos remotos, fica próximo do absoluto.
Num máximo 10, a nota média é de 8,7, contra 6,6 na situação anterior. Ouvidos em pesquisa coordenada pela Universidade Federal de Minas e pelo IPESP (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Economicas), junto a 14.179 pacientes, 227 gestores e 391 médicos, apurou-se que 95% dos usuários se declaram satisfeitos, 87% dizem os médicos são mais atenciosos, e 82% afirmam que encontraram soluções melhores ou muito melhores para seus problemas de saúde durante a consulta.
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Mais ou menos médicos: estamos caçando as bruxas erradas?

Esse está sendo um ano bem intenso. Teve Copa. Com protestos abafados perto dos estádio caros. Agora, as eleições mais loucas da histórias estão tomando seu rumo, enquanto leitos e muitos outros recursos insistem em ir embora, cubanos, beltranos e ciclanos chegaram e devem continuar a vir.

O debate arrefeceu, como de praxe. O mais próximo que temos chegado de uma “discussão” resume-se à divulgação acrítica de condutas erradas dos profissionais estrangeiros, ou de notícias sobre suas “fugas”, acompanhadas de frases de efeito algo levianas e infantis. Manifestações assim parecem apenas reforçar estereótipos e congelam ainda mais o diálogo verdadeiro. Por mais que tenhamos visto atrocidades serem cometidas pelos colegas expatriados, reforçar essa cisão não parece produzir mais do que embate cego e estéril. E é exatamente o que vemos, invariavelmente, nas caixas de comentários dessas notícias.

De um lado, médicos brasileiros se assustam, revoltam-se e choram abraçados os erros daqueles. Do outro, opiniões veementes fundamentadas em preconceitos sustentam a empáfia dos que apontam o dedo mais uma vez para a classe surrada dos possuidores de CRM.

Não há dúvidas de que a pauta precisa ser retomada. As intenções duvidosas daqueles que nos “representam” parecem ter seu caminho abonado. A eleição está aí.

Saúde = Medicina?
É até difícil escolher um ponto de partida, tamanha a quantidade de ingerências e erros de conceito das últimas ações do governo nesta área, mas provavelmente o maior dos equívocos se resume à redução da atenção à saúde ao atendimento médico.

Considerando a imagem que o governo tem pintado (e muita gente comprou) dos médicos – arrogantes, elitistas, preconceituosos e corporativistas – talvez espante alguns leitores minha defesa de que a saúde vai muito além das ações pontuais que terminam com meu carimbo e assinatura.

Sei disso em primeiro pessoa, entretanto, tendo visto de perto. Conheço boa parte dos cenários e realidades do Brasil, não só no que diz respeito à saúde. Cada pequena experiência me ensinou um motivo diferente para que a presença do médico por si só não chegue a fazer grande diferença na vida de ninguém, além de me garantir tranquilidade em afirmar categoricamente que a tão alegada omissão dos usuários de avental branco não figura entre os principais motivos para a situação de guerra em que nos encontramos na atenção à saúde.

Nasci e me criei na Serra Gaúcha, com toda sua rica cultura e seu IDH igual ao da Bélgica. Em meio à polêmica, presenciei amigos de Carlos Barbosa – o município com maior Índice de Desenvolvimento Socioeconômico do estado – relatando os problemas que o município enfrenta para contratar médicos. Se o problema não é só com os rincões pobres e longínquos do país, deve haver algo mais a desmotivar os médicos além do “custo-benefício” monetário e do conforto pessoal, como alegam seus detratores.

Estudei medicina na Universidade de São Paulo, o que me colocou em contato com uma infinidade de mundos. Alguns professores da Casa de Arnaldo lecionam também em Harvard e outros centros de referência. Ouvi de um deles, na recepção aos calouros, que boa parte dos nossos alunos do quarto ano desempenharia melhor que os recém-egressos das melhores escolas médicas americanas, por conta, entre outros fatores, de sua desenvoltura relacional e postura humanizada. Não parece, então, que o problema repouse em uma formação deficiente e dependente de tecnologias, ou de “falta de humanidade” dos médicos brasileiros, como já se advogou.

Frequentei desde cedo o maior complexo hospitalar da América Latina, que conta com tecnologias inexistentes na maioria dos hospitais do mundo e sofre com absurdos gerenciais e executivos que espantam os mais calejados; que opera com material humano tão heterogêneo quanto desvalorizado; onde UTIs fecham leitos por falta de utensílios básicos, deixando médicos ociosos e pacientes desassistidos; onde feudos de especialidades dispõem dos materiais e recursos mais esdrúxulos enquanto faltam luvas, cateteres e outros dispositivos prosaicos no vizinho; onde é mais fácil comprar equipamentos bonitos que contratar enfermeiros ou provê-los de condições mínimas de trabalho.

Faz sentido gabar-se de filigranas estapafúrdias quando o básico é insuficiente? Se não faz na saúde, para a política parece uma boa estratégia.

Durante a graduação, estagiei em Brescia, na Itália, junto a estudantes de medicina de vários países – não só europeus. Pude discutir com muitos deles sobre os modelos de atenção à saúde em seus locais de formação e atuação. Absolutamente nenhum deles relatou qualquer movimento em direção à priorização da atividade médica nos seus sistemas de saúde; pelo contrário, a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade já perpetraram há tempos a transição do status de “tendências” para “o padrão”.

A Austrália, por exemplo, é referência mundial em cuidados a pacientes graves e isso não foi conquistado com batalhões de médicos. Em um artigo de 2007 explicando os resultados surpreendentes do país, em periódico científico de grande impacto, um dos grandes “astros” da Medicina Intensiva – Prof. Rinaldo Bellomo – salientou a atuação de enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos entre os fatores principais da excelência do sistema.

Participei – em uma edição como membro-aluno e em duas como diretor – do maior projeto de extensão da USP, a Bandeira Científica, iniciativa nascida na Faculdade de Medicina na década de 50 e que hoje leva centenas de profissionais de vários campos de estudo (não só os diretamente relacionados à saúde) a localidades com carência de recursos e desassistidas. Conheci vários locais no Norte e Nordeste e explorei seus sistemas de atenção à saúde in loco, por dentro. Boa parte das ações mais modificadoras e perenes do projeto vieram da atuação das outras unidades da Universidade; a Medicina – que me perdoem os colegas – é coadjuvante.

Servi voluntariamente à Força Aérea Brasileira como Oficial Médico, na Amazônia, entrando em contato com realidades ainda mais diversas – no próprio meio militar e em comunidades “civis” que nem sonham com os direitos a que remete essa nomenclatura “taxonômica” de ser humano. Apesar da experiência enriquecedora (para mim), não pude mudar muito suas vidas.

Em todas essas vivências, estive cercado de mestres não-médicos, que me ensinaram muito. Hoje, trabalhando em UTI, tenho ainda mais certeza de que não faço nada sozinho.

Pra início de conversa, portanto, restringir – ou mesmo concentrar – os esforços em aumentar o número de médicos é ignorar uma parte gigantesca do que chamamos de “saúde”.

Saúde é só saúde?
Além de ignorar a atuação dos outros profissionais de saúde, nosso governo e boa parte dos que se manifestam a respeito do assunto parecem esquecer-se da infinidade de outros fatores que compõem esse conceito intrincado.

A Organização Mundial da Saúde, em sua Constituição – numa definição que foi repetida incontáveis vezes ao longo da minha graduação – preconiza algo muito além da mera ausência de doenças. “Saúde”, segundo esta entidade, pode ser definida como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social.” Ou como “a medida em que um indivíduo ou grupo é capaz, por um lado, de realizar aspirações e satisfazer necessidades e, por outro, de lidar com o meio ambiente”, como propõe o Escritório Regional Europeu da OMS.

Isso dificulta um pouco a resposta a uma pergunta feita por um amigo em meio à discussão: “como se faz nos países em que o sistema de saúde funciona?”.

O ponto cego dessa questão é que sistemas de saúde que “funcionam” existem em sociedades que “funcionam”. Muito pouco podemos fazer pela saúde em determinadas situações sem modificar toda a estrutura social profundamente.

Suponhamos, por exemplo, que eu ignore vários preceitos éticos, feche os olhos às circunstâncias criminosas e aceite ir para qualquer município desassistido nos extremos do nosso país, motivado a levar “saúde” àqueles que dela necessitam.

Sabemos que boa parte dos determinantes da saúde passa por manter hábitos saudáveis. Boa alimentação, atividade física regular, prevenção de vícios como tabagismo e etilismo, vacinação, cultivo da mente, desenvolvimento de habilidades e obtenção de conhecimento, interação social e participação na vida comunitária – e uma infinidade de etc.

Como um médico de formação razoável e intenções das melhores, procuro orientar meus pacientes nesse sentido, obviamente. Procuro tratar as doenças crônicas também, para prevenir complicações e melhorar sua qualidade de vida. Nos poucos casos em que essas complicações são inevitáveis, referencio os pacientes aos centros determinados pela organização do SUS, para o tratamento devido.

Acontece que o seu Severino – meu primeiro paciente neste hipotético município – está bem longe de poder comprar ou obter de outra forma comida minimamente saudável. Talvez, mesmo que tivesse o dinheiro, não conseguisse obter por aqui algo muito diferente da sua dieta hipoprotéica, baseada em carboidratos de alto índice glicêmico e gordura saturada.

A dona Raimunda, por sua vez, terá alguma dificuldade em exercitar-se diariamente – descalça em terreno irregular, com pouco acesso a água e sob o sol escaldante. Ainda mais tendo nutrientes valiosos roubados pelas verminoses que a pouca água disponível lhe fornece.

O filho deste casal oprimido mudou-se para São Paulo, tentando a sorte num filme que todos já viram muitas vezes. Vive exposto à violência, deslocando-se longas distâncias em meios de transporte que lhe presenteiam toneladas de poluentes, sem tempo, recursos ou conhecimento para cuidar da própria saúde. Está cada vez mais deprimido e ansioso e as garrafas de cachaça barata, com níveis tóxicos de metanol, parecem atraentes. Meus colegas que ficaram no Hospital das Clínicas pouco poderão fazer por ele quando chegar ao pronto-socorro cego, com acidose metabólica grave e com disfunção cardíaca por conta disso.

Um amigo desse paciente grave anda fumando cada vez mais – mas não consegue comprar o cigarro estiloso que alguns talvez consumam com ares de James Dean nos bares das faculdades. Fuma cigarros paraguaios contrabandeados, comprados no “comércio informal”, com níveis ilegais de nicotina e filtros irregulares (quando presentes), que viciam algumas vezes mais e o matarão um pouco mais rápido – não antes sem que necessite de investigações e cuidados cujos custos suplantam algumas dezenas de vezes o que custariam medidas de educação e fiscalização para barrar o processo no início.

Sua companheira, menor de idade, terá dificuldades para criar o terceiro filho – já a caminho – sem a pequena mas providencial renda dos seus “freelances” de auxiliar de obras, feitos sem registro, direitos ou equipamentos de proteção individual. Essa frágil família talvez seja obrigada a voltar para a cidade em que a moça nasceu, muito parecida com aquela em que me estabeleci.

Não precisamos nos estender muito mais. Provavelmente, todos perceberam que minha presença, ou de quantos médicos houvesse no mundo, não deve beneficiar de qualquer forma nenhum desses seres.

Mais ou Menos Médicos
Finalmente, como exercício mental, suponhamos que nossa prioridade fosse de fato arrebanhar um contingente maior de médicos. E que fosse válido “importa-los” de algum jeito.

Quando visitei a Holanda durante minhas férias, em 2011, tive uma inoportuna sinusite e pude constatar duas coisas. A primeira é que em Amsterdã podem-se comprar tranquilamente, a qualquer hora do dia, uns vinte tipos diferentes de maconha, haxixe, cogumelos alucinógenos e materiais variados para contrabando e consumo de drogas – mas nunca antibióticos ou corticóides sem receita médica. A segunda é que minha Identidade Médica, emitida pelo Conselho Federal de Medicina, não tem valor algum fora da terra brasilis.

A discussão sobre entorpecentes fica para uma outra ocasião, mas os outros aspectos do sistema de saúde holandês são absolutamente louváveis. Não me senti discriminado, diminuído ou hostilizado. Não foi pessoal, nem preconceito racial, de classe ou geográfico. São apenas regras, ponderadas para a proteção de todos.

Qualquer médico que se aventure à prática em outros países passa por processos de avaliação de suas competências para ser reconhecido como profissional de saúde habilitado. O fato de médicos estrangeiros – venham de onde vierem – privarem-se desta obrigação ao submeterem-se às condições daquele conhecido programa do governo brasileiro é apenas um dos contrassensos absurdos das políticas demagógicas desses anos.

No que diz respeito ao processo específico de reconhecimento dessas competências na nossa pátria amada (o famigerado “Revalida”), enormidades de desconhecimento e discursos descartáveis afloraram nas discussões.

Como não gosto de opinar sobre o que não conheço, busquei investigar esse mecanismo e o que se diz sobre ele. A avaliação abrange as áreas básicas do conhecimento médico, aferindo habilidades que se consideram fundamentais ao médico generalista para uma prática aceitável e segura.

Tive acesso à prova teórica objetiva, que é o maior balizador da primeira fase do processo. Trata-se de um exame com 110 questões, que o candidato deve responder em 5 horas. São aprovados aqueles que obtêm um desempenho maior do que 55% de acertos.

Formado há cinco anos e especializando-me em Clínica Médica e Medicina Intensiva, há muito não estudo a fundo diversos assuntos que não dizem respeito à minha área de atuação (como pediatria ou ginecologia, por exemplo). Ainda assim, respondi a prova em 2h30min e acertei 75% das questões, sem nenhuma dificuldade.

Espantoso verificar que em 2012 cerca de 92% dos colegas imigrados foram reprovados nesta prova que fiz brincando, privado de sono em um pós-plantão. Muito mais espantoso ainda é ler alguns discursos proclamando que o exame é “feito para reprovar”, com nível de exigência propositadamente muito elevado e questões muito complexas. Difícil saber se a base desses discursos é desinformação inocente ou interesses escusos.

“Que mal tem”?
Se alguém ainda considera que possa haver algum benefício em trazer supostos médicos a preço de ouro no contexto de caos da nossa saúde, basta lembrar de alguns outros percalços do programa e da prática médica no Brasil, além dos aspectos conceituais que explorei.

Muitos municípios demitiram os médicos que já trabalhavam em suas Unidades Básicas de Saúde para obter o benefício de um profissional cujo “salário” é pago pelo governo federal, ou seja, com a desculpa de que não há médicos, importamos quase-escravos de formação pífia para aloca-los em postos já previamente ocupados.

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Isso vem somar-se a inúmeros relatos de médicos que se aventuraram em locais inóspitos e viram a promessa de um trabalho digno e significativo tornar-se um pesadelo de pressões políticas, coação, violência e ausência de recursos para o trabalho ou de remuneração. A presença de um médico é uma arma política utilíssima, independente do trabalho que possa fazer. Transformar esses profissionais em marionetes indefesas nunca foi muito difícil para nossos coronéis, sendo a única saída mais ou menos digna a “deserção” do posto.

Não é de espantar, ainda, que muitos médicos brasileiros, também enganados, tentassem inscrever-se para trabalhar no programa do Governo Federal e não conseguissem de jeito algum. Brincou-se, no meio médico – não sem um tom de tristeza resignada – que, se o candidato preenchesse o campo “CRM” no cadastro, estava automaticamente desclassificado do Mais Médicos.

Não é nada fácil ouvir que a culpa é sua depois disso tudo.

Médicos e Monstros
O duelo entre médicos e população esvazia-se por completo quando lembramos que queremos a exata mesma coisa: saúde de qualidade acessível de forma equânime.

A estratégia do governo tem sido retratar a classe médica como um grupo de milionários inescrupulosos reunidos em torres altas e escuras, torturando gatinhos, maquinando maldades contra os pacientes e planejando dominar o mundo. Pitoresco e estúpido, mas infelizmente muita gente comprou a ideia.

Não temos interesse em piorar a saúde das pessoas. Estudamos e trabalhamos para fazer o inverso. Ter que escrever isso, com todas as letras, como se não fosse óbvio, é tão ridículo quanto trágico.

E a tragédia, como sempre, se abate sobre aqueles que não podem se defender. Nesse abjeto jogo de forças, cai tudo sobre as mesmas cabeças de sempre. Os pacientes, especialmente os mais pobres, sofrem e são enganados mais uma vez.

Talvez devêssemos ouvir um pouco mais esses seres que dedicam suas vidas a cuidar do outro, já que o assunto é justamente esse. Se perderam a aura do sacerdócio (apesar de ainda serem exigidos nestes termos), devíamos ao menos respeitar o pouco conhecimento que acumulam tão arduamente. A fala dos médicos ecoa há tempos na esperança de frear os interesses sórdidos que têm minado e impedido nosso trabalho. Seu discurso pode não ser a epítome do saber, mas certamente é melhor embasado que opiniões construídas em mesa de bar ou leituras rasas na internet.

Não somos cegos ou hipócritas. Não defendemos nesta guerra interesses egoístas, mesmo porque essa encenação toda praticamente não afeta pessoalmente a grande maioria dos médicos. Não queremos “proteger o mercado”, como foi dito. Não concorreremos com os colegas estrangeiros.

Nossa dor reside na ruína dos valores que prezamos e nos insultos seguidos à nossa ética. Nossa dor reside em ver agora aquele por quem nos dedicamos, mais do que apenas desamparado: iludido. Cai vertiginosamente, com fé cega na rede de proteção que lhe foi anunciada. O impacto é iminente.

Ofensas vazias voam na direção dos médicos sem qualquer critério e não é por esse caminho que avançaremos. Não somos mercenários. Não somos cínicos. Não somos covardes.

Aqui mesmo, já expliquei e defendi o modelo do SUS, contribuí para a promoção à saúde, tentei desfazer enganos e elogiei boas ações do governo quando era justo elogiar. Mas isso que aí está, desculpem, não dá pra engolir.

Só quem já viu pacientes morrerem, cercados de médicos, por falta dos recursos mais básicos conhece o desespero que vivo. E sistemas que jogam médicos e pacientes uns contra os outros só podem resultar em mortes, em ambos os “lados”; a China tem sido prolífica em exemplos e não andamos muito atrás. Ou repensamos profundamente o rumo que estamos tomando ou nos lembraremos para sempre da calamidade que voluntariamente produzimos.




Lucas Pedrucci
Gaúcho expatriado, é pianista aposentado, jogador de rugby em fim de carreira, ex-oficial da FAB, paraquedista das categorias de base e meditante wannabe. Seu principal hobby é a Medicina, que estudou na USP e tem praticado no Hospital das Clínicas.

Ceará - população aprova o Programa Federal "Mais Médicos"

O Estado do Ceará atingiu 100% da meta, segundo o Ministério da Saúde, porém ainda a muito a fazer no setor

Envolto a polêmicas desde que foi lançado em julho do ano passado, o Programa Mais Médicos surgiu como uma proposta do governo federal para levar atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em lugares onde há carência de profissionais. Dois meses depois, os primeiros médicos começaram a trabalhar no Ceará e, em pouco mais de seis meses de atuação, já é possível analisar os primeiros resultados.
Com a chegada dos selecionados para o quarto ciclo do programa na semana passada, o Estado passou a contar com 843 médicos alocados em 157 municípios. Segundo o Ministério da Saúde, 100% da demanda do Ceará foi atendida. "A atuação desses profissionais impacta na assistência de mais de 2,9 milhões de pessoas", informou o órgão em nota.
O titular da Pasta, Arthur Chioro, confirmou os dados quando esteve em Fortaleza há dez dias e acrescentou que cada médico corresponde a uma equipe completa. "No Ceará, são 842 equipes, correspondendo a 85% dos municípios", disse, antes dos dados serem atualizados na última quinta-feira (17).
Contudo, o ministro citou outros aspectos do programa, que são os investimentos em hospitais e unidades de saúde. "Há também o desafio de melhorar a infraestrutura dessas unidades, para que elas possam dar mais capacidade para as equipes, até porque a equipe não é formada só por médicos", lembrou.
Atenção primária
Segundo o representante do Ministério da Saúde na coordenação estadual do programa, Odorico Monteiro, "não há um município no Ceará que hoje não tenha reforma, construção e ampliação de unidades básicas de saúde". "São mais de 650 sendo construídas e mais de mil unidades em reforma e ampliação", completou.
Monteiro comemora os resultados do programa, mas ressalta que ainda há muito o que fazer. "O Mais Médicos, neste momento, foi só uma ponta do iceberg do problema. Nós estamos resolvendo uma parte da atenção primária. Sem dúvida nenhuma, nesta perspectiva, está sendo extremamente positivo", afirmou. "Não tenha dúvida de que já temos indicadores de resultados", garantiu o coordenador.
Com relação aos médicos cubanos que participam do programa, Odorico Monteiro ressalta que eles deixarão uma nova prática para o atendimento no País. "O Mais Médicos vai ter um legado importante que é um espelho a ser criado para a atenção básica. Deveremos chegar a uns 12 mil médicos cubanos espalhados pelo Brasil, que têm a alma centrada na atenção básica. Não é um médico que está um dia num município, e depois no outro", comparou.
Visão humanizada
O clínico geral mineiro Izaías Arcanjo, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem a mesma opinião. Ele faz parte do menor grupo que compõe o programa, o de médicos brasileiros formados no País, e possui uma visão humanizada da função.
"Trazer mais médicos não muda nada. Mas médicos se importando com o outro, para construir uma outra cultura de saúde, mudam. Muitas vezes a doença é social, aí a pessoa adoece por várias razões, pelas condições em que mora, a maneira como o ambiente em que vive está condicionando sua situação", explicou.
Trabalhando há seis meses no Centro de Saúde da Família Viviane Benevides, na Vila Manoel Sátiro, Izaías Arruda caiu nas graças dos pacientes, como a doméstica Irislene da Silva. "Ele é o melhor médico, porque escuta, presta atenção, olha nos olhos da gente. Já trouxe os meus filhos aqui para ele consultar".
O mexicano Asgard Giovanni Toriz também é querido pelos pacientes de um posto em Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza e resume bem a tarefa do médico. "Se você estuda medicina é porque gosta e quer ajudar a comunidade. Se não tem recursos, deve-se fazer de tudo, aconselhar, buscar melhoras para a vida do paciente", afirmou. Toriz também defende o programa. "O Brasil realmente precisa de muitos médicos, porque há regiões onde muitos não gostam de trabalhar e a população é mais afetada", ponderou.
Instituições criticam supostos desrespeitos
Mesmo admitindo os benefícios que o programa trouxe à população, representantes de entidades médicas do Estado criticam a forma como o Mais Médicos foi implantado, desrespeitando, segundo eles, a legislação e os direitos trabalhistas.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec), Ivan Moura Fé, disse serem evidentes os benefícios do programa, mas ressalta que os estrangeiros deveriam se submeter ao exame que reconhece o diploma deles no País. "Há, de fato, carência de médicos em vários setores, mas isso deveria ser resolvido com concurso, carreira de estado e, no caso dos estrangeiros, tramitando de acordo com a legislação, validando o diploma. Mas foi tudo feito de forma excepcional", afirmou.
Ivan Moura Fé informou ainda ser difícil avaliar os resultados do programa por falta de informações. "Os dados que solicitamos aos tutores e supervisores do programa não chegam", disse. Com relação a denúncias de possíveis erros médicos, ele admitiu que são poucas, "menos de dez, mas estão sendo apuradas", finalizou.
Condições
Já para o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará (Simec) José Maria Pontes, o maior problema, além da validação do diploma, é a diferenciação das condições de trabalho dos médicos de Cuba. "Aquelas condições de exploração dos profissionais, sem direitos trabalhistas, sem direito de ir e vir porque são vigiados, são uma forma de trabalho escravo", ressaltou.
"Quando nós colocamos isso, disseram que estávamos chamando os médicos de escravo, mas não era isso, não é no sentido pejorativo. Era tão somente no sentido de defendê-los", completou, ao lembrar o episódio em que médicos cearenses vaiaram a equipe do programa e chamaram os colegas cubanos de escravos (veja o vídeo no link http://svmar.Es/6QCgFM).
Para Pontes, o programa não vai acabar com as deficiências da saúde. "Se eles querem resolver o problema da saúde daquele jeito, a situação vai ficar cada vez mais precária. Tem que ter estrutura de trabalho, profissionais competentes que realmente querem resolver", afirmou.
ENTREVISTA

Mais Médicos

69% mais de 14 milhões dos assistidos consideram o atendimento ótimo

Pesquisa Datafolha divulgada hoje revela o acerto e êxito do Mais Médicos lançado pela presidenta Dilma Rousseff e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha a partir de setembro do ano passado: nos poucos meses de funcionamento da iniciativa, cerca de 14 milhões já foram atendidos por médicos estrangeiros que trabalham no programa.
A pesquisa foi divulgada nesta 4ª feira (ontem)  durante o Fórum a Saúde do Brasil, o segundo seminário da série promovida pela Folha para discutir problemas que marcam o cotidiano dos brasileiros. O Mais Médicos é um programa implantado pelo governo federal com o propósito de levar profissionais da área às regiões do país carentes de profissionais, a cidades carentes distantes e aos bairros da periferia das grandes cidades, nas quais médicos brasileiros não estejam trabalhando. O programa conta, atualmente com 9.501 médicos (87% estrangeiros).
E o melhor desta pesquisa: entre os brasileiros atendidos pelos médicos estrangeiros, 69% consideram que o atendimento foi ótimo ou bom e 27% acharam regular, ruim ou péssimo. Questionados sobre a vinda de profissionais estrangeiros para trabalhar no programa em regiões remotas do país com falta desses  profissionais, 67% dos entrevistados manifestaram-se favoráveis à medida.
O aperfeiçoamento do SUS
De acordo com a pesquisa, a maior aceitação registra-se na região Nordeste, com 72% de aprovação, seguida da região Norte e Centro-Oeste, juntas, com 68%. A região com menor índice de aprovação é a Sul (64%). A pesquisa Datafolha, feita em parceria com a Interfarma, entidade representativa da indústria farmacêutica, entrevistou 2.109 pessoas em 140 municípios.
O fórum da Folha contou  com a presença, ontem,  do ministro da Saúde, Arthur Chioro. Em sua exposição, o ministro fez uma avaliação do sistema público de saúde do país, o SUS, considerando que entre os desafios apresentados pelo sistema, um dos principais é a consolidação dos serviços de atenção básica e de redes integrais de saúde, que deem continuidade ao tratamento médico.
Para melhorar o financiamento da saúde, Chioro propôs uma interação mais adequada entre os sistemas de saúde público e privado.” “Meu sonho é que o SUS legal cada vez mais se aproxime do SUS real, aquele que possa fazer o brasileiro dizer: Estou satisfeito.” Chioro defende, também, uma reforma no modelo de gestão do SUS. “Hoje é uma grande dificuldade para gestores públicos: é OS, é Oscip, é fundação, é fundação privada, é empresa. Nenhum desses modelos dá estabilidade e capacidade para o processo de gestão de que nós precisamos”, disse.

Odarp Notielc - fora do contexto, mas pertinente

Os tucanos acabam de bater mais um recorde de gestão.
Desta vez na área de saúde e sem Mais Médicos.
Os campeões da Dengue neste ano são:

  • Goiás - governador Marconi Perillo (PSDB)
  • Minas Gerais - governador Antonio Anastacia (PSDB)
  • São Paulo - governador Geraldo Alckmin (PSDB)
  • Paraná - Governador Beto Richa (PSDB)
É claro, pura coincidência...
Com a palavra o candidato...
Ah é sim...


Saúde

O sultanato de jaleco branco trata a saúde como um mercado de camelos; alia-se ao conservadorismo retrógrado e tem na embaixada dos EUA um corredor de fuga.

Algo outrora inescapável  do epíteto de um escárnio contra o povo brasileiro  está em curso nos dias que correm.

O ruído que provoca -- tanto nas fileiras do governo, quanto nas de segmentos que se avocam à esquerda dele--  é incompreensivelmente desproporcional a sua gravidade.

Que as sininhos não badalem  e, igualmente, seus carrilhões silenciem, é ilustrativo do fosso existente entre o inflamável alarido anti-Copa bimbalhado nas ruas e a real preocupação com o futuro do país e  a sorte da população.   

A Associação Médica Brasileira, em sintonia com a embaixada dos EUA e aliada à coalizão  demotucana, tendo respaldo e torcida da mídia, opera abertamente para destruir um programa de saúde pública emergencial voltado  às regiões e contingentes mais vulneráveis do país.

Não há resguardo das intenções, nem pudor na propaganda da ação.

A entidade que se proclama representante da corporação médica brasileira acolhe e viabiliza deserções de profissionais cubanos fisgados  pelo redil conservador em diferentes regiões e municípios.

O Estado brasileiro  investirá este ano R$ 1,9 bi em recursos públicos nesse programa, para agregar  43 milhões de atendimentos/ano ao SUS a partir de abril, quando o Mais Médicos atingirá seu efetivo pleno, com mais de 13 mil profissionais em ação, sendo seis mil cubanos.

A embaixada dos EUA  no Brasil  --em sintonia com a Associação Médica e lideranças dos partidos conservadores--opera abertamente para que não seja assim.

O  tripé orienta e encaminha pedidos de vistos especiais, a toque de caixa,  para que o maior número de desistentes possa rumar a  Miami, onde os espera a estrutura da ‘Solidariedade Sem Fronteiras’.

A ONG de fachada humanitária  tem como principal negócio –financiado por recursos orçamentários que a bancada cubana assegura no Congresso--   promover e operar deserções em  convênios de saúde firmados entre Havana e 66 países  nesse momento.

São mais de 43 mil  médicos cubanos em ação na América Latina, Ásia e África. Devem atingir  um recorde de 50 mil em dois meses, quando o convênio brasileiro estiver plenamente implantado.

Um aspecto da remuneração desses profissionais deliberadamente pouco divulgado  é que nem todos os convênios internacionais de Havana são pagos.

Na verdade, dos 66 países assistidos nesse momento apenas 26 se enquadram  no que se poderia chamar de prestação de serviços pagos.

Outros  40 países recebem contingentes médicos gratuitamente.

O mesmo ocorre com missões de educação ou esporte.

A ‘exportação’ de serviços rende a Havana, segundo a chancelaria cubana, cerca de US$ 6 bi/ano (três vezes mais que a segunda fonte de divisas do país,  representada pelo turismo).

A exportação de serviços  pagos - principalmente na área de saúde –  financia  as missões solidárias destinadas a países de extrema precariedade econômica e material ou focadas em situações de calamidade devastadora.

É assim desde 1960,  quando Cuba enviou  sua primeira missão de solidariedade ao Chile, vítima de um terremoto.

Eis a principal razão para a diferença entre o salário efetivamente recebido pelo profissional de uma missão e aquilo que o governo cubano arrecada pelo serviço prestado.

Uma parte do  saldo  financia as missões gratuitas que, repita-se,  são a maioria.

Outra sustenta a Escola Latino-americana de Medicina, que possuía em 2013 cerca de  14 mil alunos estrangeiros,  gratuitamente cursando ou com subsídio quase integral.

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes, Cuba investe pesado em pesquisa na área de saúde e formação de médicos:  são quase 83 mil (1/138 habitantes).

O investimento tem duplo objetivo: zelar pela população que tem a menor taxa de mortalidade infantil do mundo, e gerar receita numa economia asfixiada  há 50 anos pelo embargo comercial norte-americano.

Também isso se financia através das missões remuneradas.

A ideia de que a doutora Ramona Rodriguez possa ter  desembarcado no Brasil desinformada dessas particularidades acerca de seu salario, subestima a conhecida determinação de Havana, de ressaltar interna e externamente aquela que é a marca inegável de sua ação internacional: a solidariedade.

A mesma alegação de ignorância tampouco se pode conceder –neste aspecto--  ao colunismo isento, que cuida de  festejar as deserções  –por  ora pontuais --  como se fossem o preâmbulo de uma diáspora libertária, em marcha épica rumo a Miami.

A participação  da embaixada norte-americana no jogo de aliciamento e hipocrisia  é ainda mais grave.

Trata-se de uma tentativa de sabotagem de um programa soberano de saúde pública emergencial, cujo desmonte poderá agregar novas vítimas e mais sofrimento num universo de milhões de brasileiros desassistidos.

Se a intrusão é desconcertante, não se pode dizer que surpreenda.

Quando o governo Lula decidiu quebrar a patente de anti-virais , em 2007, a embaixada norte-americana operou para sabotar a medida.

Agiu em contato direto com as múltis do setor farmacêutico, o Departamento de Estado do governo Bush  e ‘amigos’ locais -- não se sabe se os mesmos que hoje cerram fileiras com o duplo interesse de  implodir o ‘Mais Médicos’ e sangrar Havana.

Telegramas  secretos da época, obtidos pela organização  Knowledge Ecology International (KEI),  revelam ameaças de represália enviadas então a Brasília:
 
“(...) uma licença compulsória pode fazer com que fabricantes de produtos farmacêuticos evitem introduzir novos remédios no mercado e seria mais difícil para o Brasil atrair os investimentos que tanto necessita", relatava um deles sobre o teor de reuniões com autoridades e políticos locais.

Lula oficializaria em maio de 2007 o licenciamento compulsório do anti-retroviral  Efavirenz, usado por 75 mil pacientes de Aids atendidos pelo SUS. Um genéric importado da Índia passou a ser usado ao preço de  US$ 0,45, contra US$ 1,59 cobrado pela  multinacional norte-americana.  Uma  economia de US$ 30 milhões até 2012.

Volte-se um pouco mais no tempo, até as vésperas do golpe de 64,  e lá estarão, de novo,  os mesmos protagonistas, com idênticos propósitos.

O embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, fileiras udenistas e lacerdistas, múltis do setor farmacêutico e sabujos da mídia, a ganir a pauta da estação.

Eram tempos de inflação galopante e dinheiro curto: a saúde corria risco.

O então ministro da Saúde, Souto Maior, lutava para obter uma redução de 50% sobre os preços de 70 medicamentos mais usados pela população.

Laboratórios das multinacionais abriram guerra contra o tabelamento.

Às favas a saúde: primeiro, os interesses das corporações.

Lembra algo do comportamento atual da embaixada que se orienta pelos mesmos valores e da Associação Médica Brasileira que tanto quanto os abraça?

No famoso comício da Central do Brasil, sexta-feira, 13 de março de 1964, João Goulart decretou a expropriação de terras para fins de reforma agrária, encampou refinarias e anunciou estudos para fabricação estatal de medicamentos no país.

O conjunto era fiel aos preceitos do ‘sanitarismo-desenvolvimentista,’ abraçado  então pelas fileiras progressistas da medicina brasileira.

Médicos como Samuel Pessoa, Mário Magalhães,  Gentile de Melo e Josué de Castro –autor do clássico ‘Geografia da Fome ‘ e primeiro secretário- geral da FAO, que faleceu no exílio , cassado pela ditadura e impedido de retornar ao Brasil mesmo para morrer – eram alguns de seus  expoentes.

Profissionais que hoje seriam olhados com suspeita, enxergavam a luta pela saúde como indissociável da luta pela desenvolvimento econômico e humano do país.

Em setembro de 1963, Jango, com apoio deles,  restringiu a remessa de lucros da indústria farmacêutica. Mister Lincoln Gordon foi à luta:  a USAID retaliou no lombo da pobreza cortando a ajuda no combate à malária – que se destacava como uma das principais doenças tropicais na época.

A ofensiva apenas fortalecia as convicções dos sanitaristas-desenvolvimentistas.

Embora heterogêneos nas filiações ideológicas, seus  representantes  entendiam que doença e pobreza  caminhavam juntas. Como tal deveriam ser enfrentadas  em ações soberanas, abrangentes e desassombradas, que rompessem a fragmentária  estrutura de uma sociedade retalhado por interesses que não eram os de seu povo. 

Compare-se isso com o sultanato de jaleco branco.

Esse que  hoje trata a saúde como um entreposto de camelos; alia-se ao conservadorismo mais retrógrado  e tem na embaixada dos EUA um corredor de fuga em prontidão obsequiosa.

Bajulado pela mídia, o conjunto quer implodir o ‘Mais Médicos’.  
O nome disso é escárnio. E Brasília deveria dizê-lo  claramente à embaixadora gringa, ao chamá-la a prestar esclarecimentos sobre ingerência e sabotagem em assuntos internos.
por Saul Leblon

Curto e grosso

Uma das críticas dos contrários a vinda dos médicos cubanos para trabalhar no Programa Mais Médicos, é por eles só receberem uma parcela do que o governo brasileiro brasileiro paga ao governo cubano. Alguém já ouviu, já leu algum desses críticos reclamarem da terceirização?...
Eu nunca ouvi, ou li alguém nem parecido.
Por que será?...

Leiam abaixo mais um texto sobre o assunto:

Alguma dúvida?, por Maria Helena RR de Sousa

Alguém duvida que o Brasil precise de mais médicos? Muitos mais?

Um país continental, com áreas onde jorra dinheiro, outras onde vive uma burguesia que luta para manter a cabeça fora d’ água e uma imensidão de miseráveis, não haveria de precisar de muitas e muitas coisas, mas, sobretudo, de mais médicos?
Dona Dilma, filha e sobrinha de idosas, mãe e avó, sabe o quanto é importante um médico ao alcance de nossa angústia diante da doença de um de nossos queridos. Tenho certeza disso.
Outros, quando ouvem ou leem alguém que discorda do programa padilho/caribenho, se apressam em dizer que é porque nós, os insensíveis, não sofremos o que sofrem os desvalidos dos grotões do Brasil.
Como tudo que vem do PT e dos petistas, é assim que a banda toca: eles são anjos de candura e, nós, os antipetistas, monstros tenebrosos. Mas algo me diz que dentro de alguns anos teremos em Brasília muitos retratos de Dorian Grey...
Nesse programa há médicos de outros países, como já se sabe. Algum deles ganha dez mil e recebe mil? Algum deles foi obrigado a deixar a família para trás? Algum deles, para se movimentar aqui dentro do Brasil, é obrigado a prestar contas a uma vigilante tipo a cubana Vivian Isabel Chávez Pérez? (VEJA, 19/02/2014).

Angústia e Vergonha, por David Alfaro Siqueros
para mim essa senhora não tem nenhuma 

O governo dos outros países recebe o salário dos seus médicos que aqui estão? Permite que eles sejam alocados na cidade tal e que de lá não possam sair sem ordens de um vigilante? Concordam em que só o médico tenha visto de entrada no Brasil e a família não?
Pior: por que os nossos médicos precisam confirmar sua graduação e os cubanos entram aqui com a cara e a coragem e nós temos que acreditar em sua graduação e mais, em suas especialidades?
Outra coisa é a barreira da língua. Só quem nunca morou em país de língua estrangeira acha que é possível explicar o que se sente, quais os sintomas da queixa, ou responder às perguntas dos médicos sem conhecer muito bem a língua falada por eles. Se em Portugal ou Angola ou Moçambique podemos nos confundir, imagine em Madrid, Lima ou Havana. E o vice-versa é a mais pura verdade.
Nós precisamos de Mais Médicos, não há a menor dúvida. Mas precisamos de Mais Vergonha na Cara: para reformar e restaurar as maravilhosas Santas Casas que herdamos de Portugal; para espalhar pelo país ambulatórios bem equipados; para atender às Escolas de Medicina de norte a sul; e, pelo amor de Deus, para prover de esgoto sanitário todas as ruas e praças de nosso Brasil.
E mais depressa do que imediatamente, cancelar esse absurdo contrato com Cuba. Se multa houver – e eu não acredito que algum tribunal dê ganho de causa a Cuba – ainda assim sairia mais barato indenizar os irmãos Castro do que passar pela vergonha de sermos o último país a abolir a escravidão e o primeiro a reinaugurá-la.