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Tolerância

Trechos do artigo de Juan Arias, jornalista e escritor

               
1. Zapeava na TV quando parei numa antiga entrevista de Hussein, falecido rei da Jordânia. De repente escutei uma frase que me deixou perplexo por uns segundos: 
“Tolerância é uma palavra feia", disse ele. Segundo ele, não deveríamos usar a palavra 'tolerância', mas 'aceitação'. A melhor forma de conviver com os que consideramos diferentes é aceitá-los. Fiquei pensando como pode ser feia uma palavra tão usada por todos os que defendem os direitos humanos.
                
2. Fui, então, consultar o Diccionario de la Real Academia Española, onde o verbo tolerar, do latím, tolerare, se define asím: "Sofrer, levar com paciência. Suportar algo que não se tem por lícito, sem aprová-lo expressamente. Resistir, suportar". Pensei que talvez tivesse razão Hussein, porque suportar, sofrer, levar com paciência, que alguém professe uma fé diferente da minha ou que pense de outro modo na política em relação a minha opinião, ou que ande na rua de biquíni, ou com o rosto coberto pela burka, é muito pouco.
               
3. Não é assim que se pode construir uma paz estável, uma convivência com alegria. Não basta suportar, sofrer ou tolerar. Limitar-se a "suportar algo que não se tem por lícito", não vai evitar um choque de civilizações, ou guerra de religiões. De suportar a proibir é um passo. A melhor forma de conviver ombro a ombro com os que consideramos diferentes (assim como eles também), muito mais que tolerá-los é aceitá-los. A diferença é enorme. O mesmo Dicionário define o verbo aceitar como "aprovar, dar por bom", algo que "merece aplauso".
                
4. Europa foi rica por sua diversidade. Hoje está se empobrecendo espiritualmente porque, como muito, tolera as diferenças, sem aceitá-las, nem aplaudi-las, e às vezes hostilizando. Se for certo que só envelhece quem perde a capacidade de se surpreender-se, não me cabe a menor duvida de que a aceitação feliz do novo e do diferente poderia ser o melhor antídoto e a melhor terapia contra esse desencanto e aborrecimento que faz com que depreciemos o desconhecido e fiquemos com uma segurança falsa e estéril.
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