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*Recado de José Dirceu, aos indignados, solidários e justos

Calma companheiros,
O verme é apenas um verme.
E a História é construída por Homens, não por vermes.
A luta continua.
PT saudações.
Feliz Dia das Mães!

FHC - a Ofélia da política brasileira - é uma Mãe para o PT

247 - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso esbanjou otimismo numa entrevista concedida ao jornalista Roberto D'Ávila e exibida nesta madrugada. Segundo ele, o PT corre o risco de perder as eleições presidenciais de 2014, mesmo que o candidato seja o ex-presidente Lula e não sua sucessora, Dilma Rousseff. O motivo, segundo, FHC é que "a situação no Brasil não é boa".

"Eu não sei se o Lula vai ou não ser candidato. É arriscado, ele também pode perder. Do jeito que as coisas estão, a percepção do povo vai mudando rapidamente", disse o tucano, que governou o País entre 1995 e 2002. Na entrevista, ele também defendeu o desfecho da Ação Penal 470 e criticou a fala de Lula sobre o "julgamento 80% político e 20% técnico".

FHC também foi questionado sobre a possibilidade de que o ex-governador José Serra seja vice na chapa do senador Aécio Neves (PSDB-MG). "Não sei se ele [Serra] quer e se o Aécio vai topar, o tema não chegou às minhas mãos", afirmou.

0 oportunista x a oportunidade

Existem certas histórias que circulam pela Internet de uma maneira quase obsessiva. Há algum tempo, era uma sobre uma combinação no armário; logo, veio a dos dois homens que se encontram no bar. E daí por diante: eu mesmo já recebi várias vezes, coisas que escrevi neste espaço – revistas e ampliadas por internautas. Um interessante intercâmbio tem se estabelecido entre os leitores e a coluna, e isso só enriquece o meu trabalho.

A seguinte história é a "bola da vez": eu a recebo três vezes por semana, no mínimo. Ao contrário de algumas outras (a da combinação no armário era péssima!), merece ser recontada às pessoas que não tem acesso à Rede.

Um filósofo passeava por uma floresta com um discípulo, conversando sobre a importância dos encontros inesperados. Segundo o mestre, tudo que está diante de nós nos dá uma chance de aprender ou ensinar.

Neste momento, cruzavam a porteira de um sítio que, embora muito bem localizado, tinha uma aparência miserável.

  Veja este lugar – comentou o discípulo. – O senhor tem razão: acabo de aprender que muita gente está no Paraíso mas não se dá conta, e continua a viver em condições miseráveis.
– Eu disse aprender e ensinar – retrucou o mestre. – Constatar o que acontece não basta: é preciso verificar as causas, pois só entendemos o mundo quando entendemos as causas.
Bateram à porta, e foram recebidos pelos moradores: um casal e três filhos, com as roupas rasgadas e sujas.

– O senhor está no meio desta floresta, e não há qualquer comércio nas redondezas – disse o mestre para o pai de família. – Como sobrevivem aqui?

E o senhor, calmamente, respondeu:

– Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos; com a outra parte nós produzimos queijo, coalhada, manteiga para o nosso consumo. E assim vamos sobrevivendo.

O filósofo agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos, e foi embora. No meio do caminho, disse ao discípulo:

– Pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali em frente, e jogue-a lá em baixo.

– Mas ela é a única forma de sustento daquela família!

O filósofo permaneceu mudo. Sem ter outra alternativa, o rapaz fez o que lhe era pedido, e a vaca morreu na queda.

A cena ficou marcada em sua memória. Depois de muitos anos, quando já era um empresário bem sucedido, resolveu voltar ao mesmo lugar, contar tudo à família, pedir perdão, e ajudá-los financeiramente.

Qual foi sua surpresa ao ver o local transformado num belo sitio, com árvores floridas, carro na garagem, e algumas crianças brincando no jardim. Ficou desesperado, imaginando que a família humilde tivera que vender o sítio para sobreviver. Apertou o passo, e foi recebido por um caseiro muito simpático.

– Para onde foi a família que vivia aqui há dez anos? – perguntou.

– Continuam donos do sitio – foi a resposta.

Espantado, ele entrou correndo na casa, e o senhor o reconheceu. Perguntou como estava o filósofo, mas o rapaz estava ansioso demais para saber como conseguira melhorar o sítio, e ficar tão bem de vida:

– Bem, nós tínhamos uma vaca, mas ela caiu no precipício e morreu – disse o senhor. – Então, para sustentar minha família, tive que plantar ervas e legumes. As plantas demoravam a crescer, e comecei a cortar madeira para venda. Ao fazer isto, tive que replantar as árvores, e necessitei comprar mudas. Ao comprar mudas, lembrei-me da roupa de meus filhos, e pensei que podia talvez cultivar algodão. Passei um ano difícil, mas quando a colheita chegou, eu já estava exportando legumes, algodão, ervas aromáticas. Nunca havia me dado conta de todo o meu potencial aqui: ainda bem que aquela vaquinha morreu!

Paulo Coelho é o oportunista

Hoje até Deus tem motivo para ter inveja de mim

Eu, humano que sou posso pensar e escrever essa baboseira acima.

Deus responderia o que?

Conservadoras e reacionárias são exímias jogadoras

Marina Silva é a única candidata que nada tem a perder nesta eleição. Disputando a vice-presidência não será dela automaticamente a derrota de Eduardo Campos. Mas em propaganda futura seus seguidores creditarão a seu prestígio todos os votos dados a ele. Atribuindo o fraco desempenho de seu candidato nas pesquisas ao ainda pouco conhecimento do eleitorado de que Marina é a vice, a própria campanha do PSB tece o tapete para ela no futuro. Marina Silva, com bastante malícia, declarou em 2010 que perdeu ganhando. De fato, tornou-se nacionalmente reconhecida como candidata competitiva e com a bolsa entupida por cerca de 20 milhões de votos. Nada garante que repita o feito em 2014, nem que, nos votos finais a Eduardo Campos, a maioria se deva a ela e não a ele. Nenhum resultado de pesquisa, neste momento, pode assegurar muita coisa a respeito de nenhum candidato, exceto que, seja o resultado qual for, Marina Silva nada tem a perder.

Com o crédito já reivindicado pelos votos que o PSB receber na eleição presidencial, Marina ganhará, ademais, os aplausos pela votação que os candidatos da Rede, locatários da sigla socialista, descolem pelo Brasil a fora. Esse é o principal lance de Marina Silva nas eleições deste ano e é, explicitamente, o preço que está cobrando pelo acordo com Eduardo Campos. Ou melhor, uma porcentagem do preço, sendo outra, grande, o poder de veto sobre as coalizões que o PSB tenta construir nos pleitos estaduais. Neste ponto ela tem sido de uma contundência típica de José Serra, já mostrada anteriormente, ao atacar os pretendentes a acordos com o PSB, quando estes, segundo ela, ameaçam comprometer a reputação da Rede.

Não há nenhuma caridade evangélica na acusação de que Aécio Neves e o PSDB têm cheiro de derrota, dando início, com essa salva de artilharia, ao rompimento do fingido namoro entre os dois candidatos da oposição à presidência da República. Era de se esperar que os afagos se transformassem em agressões com a proximidade do pleito, mas o destempero de Marina Silva revela o estilo de concorrência que o candidato do PSDB, Aécio Neves, pode esperar dos "companheiros de projeto", em especial da Rede e de sua proprietária ideológica.

Ainda um tanto sem jeito, Eduardo Campos busca trazer uma réstia de luz progressista ao obscurantismo marineiro, impedido, contudo, de desafiar as principais bandeiras de identidade da Rede. Já Marina Silva não concilia, precisamente porque não está apostando, mas construindo seu futuro político, ao contrário de Campos, destinado a arrastar a carga de uma derrota eleitoral que, após o fato, terá o sabor de desnecessária e maculada aventura.

O empurrão para a direita sofrido por Aécio é provavelmente o troco por sua desabrida proclamação de que seria o candidato do agronegócio. Não havendo fundamento conhecido para tamanha bazófia, restou-lhe a incômoda posição de parecer um desarvorado mendigo de apoios. Reforçando o hábito de seguir as veredas indicadas por sua candidata a vice, Eduardo Campos ensaia mordiscar as atitudes do candidato tucano, buscando situar-se entre o PSDB e Dilma Roussef.

Mas a estratégia geral da campanha tem todo o jeito de estar sendo elaborada por Marina Silva. Ainda não há registro de qualquer alteração nas bandeiras defendidas por ela na disputa de 2010, tanto no subliminar desgosto com o desenvolvimento econômico quanto na agenda retrógrada de suas convicções sociais e de costumes. Eduardo Campos é o retirante neste capítulo, mordendo a língua e abjurando suas crenças socialistas e progressistas do passado.

Quando ao Partido dos Trabalhadores for garantida a mesma licença para propaganda eleitoral de que gozam sem punição a coalizão Rede/PSB e o PSDB, o radicalismo estratégico de Marina Silva tornará inconvincentes as declarações de Eduardo Campos de que está no mesmo campo de Lula, apenas querendo mais e melhor. Marina não quer melhor nada e muito menos, mais. Sua visão de mundo é estranha aos desafios da humanidade, ao contrário do que anuncia, substituindo as dificuldades do afazer real pelo refúgio das utopias passadistas e de bucólicas reconstruções da natureza. As próximas decisões de Eduardo Campos serão sempre difíceis: ou disputa com Aécio Campos a posição de centro-direita, subscrevendo os preconceitos de Marina Silva, ou reduz sua exposição, permitindo que Marina conduza o processo, cuja derrota será inapelavelmente atribuída a ele. Há conservadoras e reacionárias que são exímias jogadoras de pôquer: Marina Silva é uma delas. 

Mãe

(Crônica dedicada ao Dia das Mães,
embora com o final inadequado, ainda que autêntico.)

Now I Lay Me Down to Sleep Postcard
O menino e seu amiguinho brincavam nas primeiras espumas; o pai fumava um cigarro na praia, batendo papo com um amigo. E o mundo era inocente, na manhã de sol.
Foi então que chegou a Mãe (esta crônica é modesta contribuição ao Dia das Mães), muito elegante em seu short, e mais ainda em seu maiô. Trouxe óculos escuros, uma esteirinha para se esticar, óleo para a pele, revista para ler, pente para se pentear — e trouxe seu coração de Mãe que imediatamente se pôs aflito achando que o menino estava muito longe e o mar estava muito forte.
Depois de fingir três vezes não ouvir seu nome gritado pelo pai, o garoto saiu do mar resmungando, mas logo voltou a se interessar pela alegria da vida, batendo bola com o amigo. Então a Mãe começou a folhear a revista mundana — "que vestido horroroso o da Marieta neste coquetel" — "que presente de casamento vamos dar à Lúcia? tem de ser uma coisa boa" — e outros pequenos assuntos sociais foram aflorados numa conversa preguiçosa. Mas de repente:
— Cadê Joãozinho?
O outro menino, interpelado, informou que Joãozinho tinha ido em casa apanhar uma bola maior.
— Meu Deus, esse menino atravessando a rua sozinho! Vai lá, João, para atravessar com ele, pelo menos na volta!
O pai (fica em minúscula; o Dia é da Mãe) achou que não era preciso:
— O menino tem OITO anos, Maria!
— OITO anos, não, oito anos, uma criança. Se todo dia morre gente grande atropelada, que dirá um menino distraído como esse!
E erguendo-se olhava os carros que passavam, todos guiados por assassinos (em potencial) de seu filhinho.
— Bem, eu vou lá só para você não ficar assustada.
Talvez a sombra do medo tivesse ganho também o coração do pai; mas quando ele se levantou e calçou a alpercata para atravessar os vinte metros de areia fofa e escaldante que o separavam da calçada, o garoto apareceu correndo alegremente com uma bola vermelha na mão, e a paz voltou a reinar sobre a face da praia.
Agora o amigo do casal estava contando pequenos escândalos de uma festa a que fora na véspera, e o casal ouvia, muito interessado — "mas a Niquinha com o coronel? não é possível!" — quando a Mãe se ergueu de repente:
— E o Joãozinho?
Os três olharam em todas as direções, sem resultado. O marido, muito calmo — "deve estar por aí", a Mãe gradativamente nervosa — "mas por aí, onde?" — o amigo otimista, mas levemente apreensivo. Havia cinco ou seis meninos dentro da água, nenhum era o Joãozinho. Na areia havia outros. Um deles, de costas, cavava um buraco com as mãos, longe.
— Joãozinho!
O pai levantou-se, foi lá, não era. Mas conseguiu encontrar o amigo do filho e perguntou por ele.
— Não sei, eu estava catando conchas, ele estava catando comigo, depois ele sumiu.
A Mãe, que viera correndo, interpelou novamente o amigo do filho. "Mas sumiu como? para onde? entrou na água? não sabe? mas que menino pateta!" O garoto, com cara de bobo, e assustado com o interrogatório, se afastava, mas a Mãe foi segurá-lo pelo braço: "Mas diga, menino, ele entrou no mar? como é que você não viu, você não estava com ele? hein? ele entrou no mar?".
— Acho que entrou… ou então foi-se embora.
De pé, lábios trêmulos, a Mãe olhava para um lado e outro, apertando bem os olhos míopes para examinar todas as crianças em volta. Todos os meninos de oito anos se parecem na praia, com seus corpinhos queimados e suas cabecinhas castanhas. E como ela queria que cada um fosse seu filho, durante um segundo cada um daqueles meninos era o seu filho, exatamente ele, enfim — mas um gesto, um pequeno movimento de cabeça, e deixava de ser. Correu para um lado e outro. De súbito ficou parada olhando o mar, olhando com tanto ódio e medo (lembrava-se muito bem da história acontecida dois a três anos antes, um menino estava na praia com os pais, eles se distraíram um instante, o menino estava brincando no rasinho, o mar o levou, o corpinho só apareceu cinco dias depois, aqui nesta pr aia mesmo!) — deu um grito para as ondas e espumas — "Joãozinho!".
Banhistas distraídos foram interrogados — se viram algum menino entrando no mar — o pai e o amigo partiram para um lado e outro da praia, a Mãe ficou ali, trêmula, nada mais existia para ela, sua casa e família, o marido, os bailes, os Nunes, tudo era ridículo e odioso, toda essa gente estúpida na praia que não sabia de seu filho, todos eram culpados — "Joãozinho !" — ela mesma não tinha mais nome nem era mulher, era um bicho ferido, trêmulo, mas terrível, traído no mais essencial de seu ser, cheia de pânico e de ódio, capaz de tudo — "Joãozinho !" — ele apareceu bem perto, trazendo na mão um sorvete que fora comprar. Quase jogou longe o sorvete do menino com um tapa, mandou que ele ficasse sentado ali, se saísse um passo iria ver, ia apanhar muito, menino desgraçado!
O pai e o amigo voltaram a sentar, o menino riscava a areia com o dedo grande do pé, e quando sentiu que a tempestade estava passando fez o comentário em voz baixa, a cabeça curva, mas os olhos erguidos na direção dos pais:
— Mãe é chaaata…


Maio, 1953
Rubem Braga é considerado o melhor cronista brasileiro de todos os tempos.
Texto extraído do livro "A Cidade e a Roça", Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1964, pág. 57.
FONTE: 
Releituras

Mãe

(Crônica dedicada ao Dia das Mães,
embora com o final inadequado, ainda que autêntico.)

Now I Lay Me Down to Sleep Postcard
O menino e seu amiguinho brincavam nas primeiras espumas; o pai fumava um cigarro na praia, batendo papo com um amigo. E o mundo era inocente, na manhã de sol.
Foi então que chegou a Mãe (esta crônica é modesta contribuição ao Dia das Mães), muito elegante em seu short, e mais ainda em seu maiô. Trouxe óculos escuros, uma esteirinha para se esticar, óleo para a pele, revista para ler, pente para se pentear — e trouxe seu coração de Mãe que imediatamente se pôs aflito achando que o menino estava muito longe e o mar estava muito forte.
Depois de fingir três vezes não ouvir seu nome gritado pelo pai, o garoto saiu do mar resmungando, mas logo voltou a se interessar pela alegria da vida, batendo bola com o amigo. Então a Mãe começou a folhear a revista mundana — "que vestido horroroso o da Marieta neste coquetel" — "que presente de casamento vamos dar à Lúcia? tem de ser uma coisa boa" — e outros pequenos assuntos sociais foram aflorados numa conversa preguiçosa. Mas de repente:
— Cadê Joãozinho?
O outro menino, interpelado, informou que Joãozinho tinha ido em casa apanhar uma bola maior.
— Meu Deus, esse menino atravessando a rua sozinho! Vai lá, João, para atravessar com ele, pelo menos na volta!
O pai (fica em minúscula; o Dia é da Mãe) achou que não era preciso:
— O menino tem OITO anos, Maria!
— OITO anos, não, oito anos, uma criança. Se todo dia morre gente grande atropelada, que dirá um menino distraído como esse!
E erguendo-se olhava os carros que passavam, todos guiados por assassinos (em potencial) de seu filhinho.
— Bem, eu vou lá só para você não ficar assustada.
Talvez a sombra do medo tivesse ganho também o coração do pai; mas quando ele se levantou e calçou a alpercata para atravessar os vinte metros de areia fofa e escaldante que o separavam da calçada, o garoto apareceu correndo alegremente com uma bola vermelha na mão, e a paz voltou a reinar sobre a face da praia.
Agora o amigo do casal estava contando pequenos escândalos de uma festa a que fora na véspera, e o casal ouvia, muito interessado — "mas a Niquinha com o coronel? não é possível!" — quando a Mãe se ergueu de repente:
— E o Joãozinho?
Os três olharam em todas as direções, sem resultado. O marido, muito calmo — "deve estar por aí", a Mãe gradativamente nervosa — "mas por aí, onde?" — o amigo otimista, mas levemente apreensivo. Havia cinco ou seis meninos dentro da água, nenhum era o Joãozinho. Na areia havia outros. Um deles, de costas, cavava um buraco com as mãos, longe.
— Joãozinho!
O pai levantou-se, foi lá, não era. Mas conseguiu encontrar o amigo do filho e perguntou por ele.
— Não sei, eu estava catando conchas, ele estava catando comigo, depois ele sumiu.
A Mãe, que viera correndo, interpelou novamente o amigo do filho. "Mas sumiu como? para onde? entrou na água? não sabe? mas que menino pateta!" O garoto, com cara de bobo, e assustado com o interrogatório, se afastava, mas a Mãe foi segurá-lo pelo braço: "Mas diga, menino, ele entrou no mar? como é que você não viu, você não estava com ele? hein? ele entrou no mar?".
— Acho que entrou… ou então foi-se embora.
De pé, lábios trêmulos, a Mãe olhava para um lado e outro, apertando bem os olhos míopes para examinar todas as crianças em volta. Todos os meninos de oito anos se parecem na praia, com seus corpinhos queimados e suas cabecinhas castanhas. E como ela queria que cada um fosse seu filho, durante um segundo cada um daqueles meninos era o seu filho, exatamente ele, enfim — mas um gesto, um pequeno movimento de cabeça, e deixava de ser. Correu para um lado e outro. De súbito ficou parada olhando o mar, olhando com tanto ódio e medo (lembrava-se muito bem da história acontecida dois a três anos antes, um menino estava na praia com os pais, eles se distraíram um instante, o menino estava brincando no rasinho, o mar o levou, o corpinho só apareceu cinco dias depois, aqui nesta pr aia mesmo!) — deu um grito para as ondas e espumas — "Joãozinho!".
Banhistas distraídos foram interrogados — se viram algum menino entrando no mar — o pai e o amigo partiram para um lado e outro da praia, a Mãe ficou ali, trêmula, nada mais existia para ela, sua casa e família, o marido, os bailes, os Nunes, tudo era ridículo e odioso, toda essa gente estúpida na praia que não sabia de seu filho, todos eram culpados — "Joãozinho !" — ela mesma não tinha mais nome nem era mulher, era um bicho ferido, trêmulo, mas terrível, traído no mais essencial de seu ser, cheia de pânico e de ódio, capaz de tudo — "Joãozinho !" — ele apareceu bem perto, trazendo na mão um sorvete que fora comprar. Quase jogou longe o sorvete do menino com um tapa, mandou que ele ficasse sentado ali, se saísse um passo iria ver, ia apanhar muito, menino desgraçado!
O pai e o amigo voltaram a sentar, o menino riscava a areia com o dedo grande do pé, e quando sentiu que a tempestade estava passando fez o comentário em voz baixa, a cabeça curva, mas os olhos erguidos na direção dos pais:
— Mãe é chaaata…


Maio, 1953
Rubem Braga é considerado o melhor cronista brasileiro de todos os tempos.
Texto extraído do livro "A Cidade e a Roça", Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1964, pág. 57.
FONTE: 
Releituras

Crônica dominical de Luis Fernando Veríssimo

Murais
No Grand Palais, o espaço de arte de maior prestígio em Paris, foi inaugurada a exposição dos dois murais, “Guerra e paz”, que Candido Portinari fez para o interior do prédio das Nações Unidas, em Nova York.
Antes de serem doados à ONU, em 1956, os grandes painéis foram exibidos no Brasil, e agora chegam a Paris no início da fase internacional de um projeto de exposição, fora da área restrita do foyer da ONU, que começou com outra turnê pelo Brasil e terminará com sua volta a Nova York em 2015.
A obra de Portinari está magnificamente apresentada no Grand Palais, junto com estudos preparatórios para os murais e outros trabalhos do artista, e a solenidade teve a presença do filho de Portinari — que morou durante muito tempo em Paris —, do embaixador do Brasil na França, José Mauricio Bustani; da Marta Suplicy; de outros responsáveis pelo projeto, e de dezenas de brasileiros e simpatizantes orgulhosos.
Ninguém mencionou que Portinari não pôde comparecer à inauguração dos seus murais na ONU, em 1956, porque era comunista e os americanos não o deixaram entrar no país. Eu me lembrei da história do mural que Nelson Rockefeller encomendou ao mexicano Diego Rivera para o saguão de entrada do Rockefeller Center, em Nova York. O mural deveria retratar o avanço da Humanidade através do trabalho e do progresso científico.

"Guerra e Paz" de Candido Portinari é exposto no Grand Palais, em Paris

Rivera foi o escolhido porque era um dos pintores favoritos da mãe de Nelson Rockefeller, que, obviamente, não informara ao filho quais eram as convicções políticas do mexicano. Pode-se imaginar a cara do Nelson ao ver, no mural pronto, o Lenin de mãos dadas com trabalhadores, simbolizando a união que emanciparia o proletariado mundial da opressão capitalista.
Rockefeller pagou ao Rivera, mas mandou pôr abaixo o mural. Não adiantou a oferta do pintor de incluir Abraham Lincoln como emancipador, talvez ao lado de Lenin. O mural foi destruído. Antes da sua destruição, Rivera pediu que o fotografassem. E o reproduziu no México, acrescentando alguns detalhes que não estavam na primeira versão. Com Marx e Trotsky, além de Lenin. E — para completar a vingança — o pai de Nelson, John D. Rockefeller, um notório abstêmio, foi retratado como um bêbado, simbolizando a dissolução moral dos ricos.
Nelson Rockefeller não desistiu do seu mural. Contratou um tal de José Maria Sert para pintá-lo. O mural continua lá, na entrada do Rockefeller Center. A sua figura principal é Abraham Lincoln.

Sua benção Mãe, Ocimar Barbosa


A origem do “Dia das Mães”, data do início do Século XX, por meio de um drama vivido por Anna Jarvis, uma jovem dos Estados Unidos que perdeu sua mãe e entrou em estado de depressão. Suas amigas, para consolar a jovem, resolveram então promover uma grande festa onde seriam homenageadas todas as mães, vivas e mortas. Com isso, a festa se espalhou pelo país e foi instituída nos Estados Unidos pelo presidente Woodrow Wilson no dia 9 de Maio.
A festa em homenagem às mães se propagou rapidamente por todo o mundo, sendo festejada sempre no mês de maio. Em Portugal, o “Dia das Mães” é festejado no primeiro domingo do mês e no Brasil é comemorada no segundo domingo.

Mãe tem uma profissão por natureza: é sábia! Em torno dela, o clã molda seus valores espirituais e humanos. Dela, fez-se o prisma sagrado da família de onde dividem-se os feixes de luz para o universo, afinal, todas os corações de mães do mundo, unidos, fazem suportáveis as dores e agruras da vida terrena.
Quando Deus disse “Que se faça a Luz!”, provavelmente fez nascer a Mãe de Si mesmo. E o incriado então compreendeu a naturalidade e a beleza do ato do nascimento. Vendo-se como Criatura, sorriu com certeza ao ver diante de si que o próprio Universo desenvolve-se pelo encontro dos astros em explosões de luz. Até as estrelas são mães.

Mãe é protagonista e não figurante. A novela que sua vida desenvolve tem capítulos às vezes de fatos dramáticos, outras de exultante euforia. Sofre em silêncio perante os atos de incompreensão, mas sua compaixão é humana, seu perdão é divino, seu coração é transcendente.

Seja ela mãe idosa que já sente a contagem regressiva do fechar de cortinas do seu script no palco da existência; seja ela a jovem mãe, muitas vezes menina profanada e tolhida de viver uma infância como todas as demais, quando passa a ter nos braços não a boneca que embala sua inocência, mas um novo ser saído de seu ventre, e que a torna santa.

A mãe de numerosa prole, a mãe que enfrenta a cruel indiferença dos poderes constituídos, que busca água nos açudes, que reza pela colheita, e planta pela sobrevivência de seus pequenos rebentos. Que chora quando os filhos pedem mas a panela está vazia .

Mãe que é avó e são chamadas “mães duas vezes”. Infinitas são as ocasiões em que estão próximas dos netos, participando ativamente de sua educação. Por outras vezes, assumem diretamente, no lugar da filha ausente ou falecida, acolhendo os netinhos como seus filhos. Que coração é esse que suporta tanta dor e ainda consegue bater em favor da vida de outros?

Mãe nobre, que exerce com sabedoria a criação de seus filhos e ainda encontra um tempo para, em seus atos sublimes de filantropia e amor materno-universal, ajudar outras mães menos favorecidas pela sorte.

Mães negras, índias, brancas, orientais, mãe adotiva, de todas as religiões, de todas as cores e luzes, de todos os universos, de todos os sonhos, de todos as experiências, de todas as necessidades, de todas as missões, de todos os filhos, mãe de todos os dias.

Claro, pois assim como em todas as manhãs temos o Sol nascendo no Leste, todos os 365 dias do ano são “Dias das Mães”.

Peçamos sua Benção! Sempre!
Mãe…São três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o céu tem três letras
E nelas cabe o infinito
Para louvar a nossa mãe,
Todo bem que se disser
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer
Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do CÉU
E apenas menor que Deus!
(Mário Quintana)

Filhos desnaturados

Mãezorra

Crônica da Mãe, Carolina Vilaça

Manual de instrução
  • Mãe é um produto da melhor qualidade fabricado pelas indústrias “Padecendo no paraíso” , com baterias de longa duração, aguentam qualquer rojão. 
  • Os que detêm esse produto são chamados “filhos”. Porém, por ser de material muito especial e realizar atividades únicas, insubstituíveis do papel de “mãe”, não pode ser escolhida ou trocada pelos filhos. 
  • Mas isso não é problema, pois sempre dão o tamanho certo de “mãe” para os filhos, constituindo assim o que chamamos de família, juntamente com o pai, que é o responsável único pela escolha da “mãe”. 
  • Se ela for avariada ou estiver com algum defeito de fabricação, não adianta pedir pra consertar na garantia. Você vai ter que aprender a conviver com o defeito. 
  • E tem mais, não tem prazo de validade! O que significa que terá que aguentar todo o amor e carinho que ela tem pra dar eternamente… 
  • E não vale vender a “mãe”! Porque mãe já só tem uma, e se for de segunda mão ninguém aguenta!!!