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A ingenuidade, os estilingues e os canhões, por Carlos Motta
A ingenuidade de algumas pessoas chega a ser comovente.
Elas pensam e agem como se o mundo fosse habitado por anjos e não seres humanos, que, como se sabe, são tão cheios de defeitos e maldade como vazios de virtudes e bondade.
O caso do Brasil é emblemático.
Não é novidade para ninguém que uma elite perversa, ignorante, escravagista e racista, uma oligarquia incapaz de qualquer gesto de humanidade, manda no país desde sempre, e nunca, sob hipótese nenhuma, vai permitir que os sobre os seus imensos privilégios paire sequer uma minúscula nuvem de contestação.
O golpe, patrocinado por esses endinheirados, e que jogou no lixo os votos de 54 milhões de cidadãos, retirando da Presidência da República uma mulher honesta para colocar em seu lugar o mais abjeto representante do submundo da política nacional, mostrou, de forma inequívoca, quem são os donos deste gigante bobo chamado Brasil.
O que se vê atualmente são as batalhas finais da guerra que essa turma empreendeu contra os trabalhistas que ousaram se insinuar nos seus domínios - uma guerra cruel, impiedosa, suja, sem respeitar nenhum dos chamados e aclamados "direitos humanos".
Qualquer um que tenha bom senso sabe que ninguém entra numa batalha armado com um estilingue contra um inimigo que possui canhões.
Quem fizer isso será, inevitavelmente, trucidado.
Mas, incrível, há bastante gente, pessoas informadas, inteligentes e coisa e tal, que ainda não percebeu que o Brasil vive os últimos momentos desta guerra, e que, para que ela não seja inteiramente perdida, não é mais possível lutar com as armas do "republicanismo", dentro das "normas legais", já que todas as instituições, que deveriam zelar por esse "republicanismo" e pela observância das "normais legais", estão em mãos de quem promoveu o golpe.
Essas pessoas, por mais títulos de doutores, de promotores, de procuradores, de juízes, de deputados, de senadores, de secretários ou ministros de Estado que tenham, estão a serviço da missão de fazer o Brasil voltar a ser o que sempre foi em sua história - nada mais que uma fonte inesgotável para saciar a sua sede de poder.
Só os tolos acreditam, por exemplo, que o ex-presidente Lula, símbolo maior de um Brasil menos injusto e desigual, será inocentado, em segunda instância, da inacreditável condenação que lhe foi imposta.
Só os tolos veem Lula candidato à Presidência da República em 2018 - se houver eleição.
O nazifascismo não foi derrotado pelos Aliados com flores.
Nenhum país conseguiu se libertar dos opressores sem suor e sangue.
No Brasil, não há por que ser diferente.
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