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Crônica do dia

(...) Orides morreu em 1998, aos 58 anos de idade. Sozinha, triste, abandonada _ sobretudo por si mesma. 
Pouco antes de morrer, e depois de muita insistência, aceitou me dar uma entrevista. 
Exigiu uma conversa por telefone _ não queria que eu a visse. 
Era apenas uma voz, abstrata e fluida, desprovido de corpo. Não queria ser mais que isso.
Foi ríspida e indiferente, falava com má vontade, como se eu fosse um detetive, ou um carrasco. 
Não demorou muito e cortou a conversa. 
Usou uma frase seca, que senti como uma facada. 
Disse simplesmente: 
"Vou desligar. Não há fim, nem início". 
Só depois descobri que repetia um de seus versos.
Eles me remetem a outro verso de Orides: 
"Apenas o caminho, apenas seguir o caminho, nada mais".

by José Castello
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