Justiça, ainda que tarde
Transcorreu ontem mais um aniversário da morte do ex-presidente João Goulart, uma das figuras mais injustiçadas na crônica da República. Foi deposto em 1964 por suas qualidades, não por seus defeitos. Pregava reformas de base, algumas promovidas ironicamente por seus algozes e por seus sucessores, outras ainda por realizar. Seu destino foi chegar à História antes do tempo. Quis repetir a trajetória de seu patrono político, Getúlio Vargas, mas por via pacífica. As reformas trabalhistas de Vargas só puderem ser implementadas porque ele foi ditador. Jango, apesar das acusações fajutas dos adversários, negou valer-se de outras forças senão as populares. Jamais imaginou proclamar a República Sindicalista do Brasil, como denunciaram matreiramente. Imaginou apenas que o povo nas ruas forçaria o Congresso a votar as mudanças necessárias à implantação da justiça social. Quando a reação conseguiu conquistar a maior parte das forças armadas, recusou preservar seus direitos com a guerra civil e o sangue da população. Preferiu o exílio, de onde só retornou morto.
por Carlos Chagas
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