Crônica dominical de A. Capibaribe Neto

O fantasma das vaias guardadas

Reis cruzaram o Atlântico em suas caravelas aladas, trazendo suas comidas especiais e fazendo suas exigências exóticas. Esnobaram as paisagens, torceram o nariz para a periferia e posaram de superiores.
Estufaram o peito, cheios de orgulho com o tocar de seus hinos cheios de lanças, guerras, guerreiros, batalhas, vitórias, etc. Até aqui, diga-se de passagem. Times da Copa do Mundo. No dia em que escrevo esta crônica, quarta-feira, um rei laranja sofreu esfalfado para vencer um time canguru. Logo a seguir, os toureiros, cheios de bossa selvagem ainda lambiam suas feridas profundas; cinco, mais precisamente, quando entraram na arena luxuosa e contestada pelos protestos inócuos de meia dúzia de oportunistas arruaceiros, que abriram espaço para marginais, ladrões de galinha e bandidos de periferia darem o ar da graça do lado de fora.
Não "adentraram ao gramado", com a costumeira empáfia, mas ainda eram elegantes e esperavam furar as costas dos índios andinos para arrancar os "olés" de seus iguais. Não deu. Pelo contrário, eles é que ficaram na outra ponta do "olé" em desenvolvimento. Mais duas feridas profundas e como foram letais moralmente, eles agora eram o touro avacalhado, com o rabo entre as pernas, voltando para o hotel para o derradeiro check in e tomar o rumo de casa, sem espaço para desculpas esfarrapadas porque agora a terra selvagem pode se mostrar, via satélite, em tempo real, que o rei estava nu e era feio, magro, só fez um gol.
Neste capítulo, encerra-se uma guerra particular. E nem existe mais um Dom Quixote para enfrentar os moinhos de vento que sopraram um verdadeiro furacão sobre eles. "Que pasó?" Perguntavam entre si. Talvez culpem Diego Costa, porque é brasileiro. É, talvez façam isso, mas quem vai engolir, se nem mesmo a sua famosa paella agora é palatável.
O time do Brasil está cheio de europeus tupiniquins que deixaram suas origens humildes nos bairros pobres de lugares que preferem esquecer. David Luis, até agora, é uma grata exceção. Talvez porque teve berço e deve ter lido alguma coisa sobre humildade. Tirante ele e o Tiago Silva, fica difícil encontrar outro exemplo que não exagere nas plumas do pavão.
Hoje mesmo, quarta-feira, o time deve estar roendo as unhas para ver o que vai acontecer entre Camarões e Croácia. Tristes expectativas para um time de milionários empavonados sobre cujas costas começam a pesar os fantasmas de sonoras vaias se não souberem o significado de EQUIPE! Fred já foi motivo de gozação. Fez nada! Neymar ainda chorou, mas não conseguiu ser mais agressivo que o goleiro que pareceu jogar com um sombrero enorme.
Se pudéssemos viajar no tempo já saberíamos quem ganhou a Copa 2014, mas como isso é impossível, o negócio é contar com uma mãe de santo, preparar uma galinha preta e outras mandingas e torcer muito para que os fantasmas das vaias não atormentem suas cabeças coloridas e acabem com a esperança de milhões de fanáticos, com a reeleição da presidenta e encham a bola, por enquanto murcha, de meia dúzia de mascarados que continuam protestando sem bandeira definida e fazendo molecagens sem sentido pelas ruas, onde os esperam muitas balas de borracha, spray de pimenta e muita truculência orientada. Por enquanto.

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