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Em um país deste tamanho, faz-se multidão até de engolidores de espadas.
Olhem a dimensão relativa das faixas de renda.
Pensem que a maior parte do território – à exceção do litoral entre Bahia e São Paulo, das penetrações de trabalhadores escravos africanos nos ciclos da mineração e do café, e das áreas de imigração europeia recente do Sul – a população é de origem dominantemente indígena, pelo menos na linhagem materna; isto se constata na cultura do seringueiro, do vaqueiro, do pantaneiro, do jangadeiro, das periferias urbanas.
Seu aparente alheiamento tem muita semelhança ao dos povos de nossos vizinhos do continente – é uma forma de resistência, não tibieza.
O povo brasileiro é dominantemente mestiço e, na vida cotidiana, tolerante.
A miscigenação e a fusão étnica e cultural – a antropofagia dos modernistas – são costumes generalizados fora dos circuitos mais mundanos.
Nada disso aparece no discurso dominante.
Notem, por exemplo, que, apesar da invasão das igrejas comerciais de discurso pentecostal, a Igreja Católica continua sendo a instituição mais respeitada do país, ao lado das forças armadas, apesar, ainda, de toda a campanha que marcou a nossa pretensa e incompleta democratização.
A razão principal é que Igreja e Exército são corporações estáveis, ordenadas e consistentes.
O avanço das forças minoritárias e antinacionais que ascenderam ao poder resulta da organização e objetivos definidos, em oposição às forças que, se não fosse por esse defeito, poderiam confrontá-las facilmente, e com êxito.
O povo disperso não pode nada.
Se ele não se organiza é porque vocês não lhe propõem os instrumentos e, pelo contrário, procuram conduzi-lo segundo o interesse de vocês, não o dele – até porque não o conhecem."
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Nilson Lage - jornalista, Doutor em linguística, Mestre em Comunicação, Bacharel em letras, foi professor da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro e da UFF - Universidade Federal Fluminense e desde 1992 ensina na UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina -.