Dilma obedeceu Bonifácio e não Lula

Febeapá

Sergio Porto, notável cronista da cena brasileira, usava o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta para ridicularizar o ridículo, enfrentar arbitrariedades, registrar o cotidiano. Entenda-se bem: Sergio não se escondia atrás de Stanislaw. Todos sabiam que eram a mesma corajosa e bonita pessoa.

Sergio morreu cedo. Stanislaw se imortalizou na beleza do que ambos escreviam, na coragem com que denunciavam a ditadura, na aguda percepção que tinham da vida.
Sergio criou Stanislaw, que tinha um primo imbecil chamado Bonifácio, o Patriota. Perfilava-se até para mata-mosquito uniformizado, entoando o Hino Nacional. Outro personagem é tia Zulmira, sábia como ela só.
Sujeito de bom gosto, Stanislaw escolhia as “10 mulheres mais certinhas” de cada ano, muitas delas amigas de Sergio, inveterado namorador. Quando morreu, não pode mais namorar e seu Stanislaw, que não morrerá jamais, parou de escrever, entrando ambos para a glória da crônica brasileira.
Em pleno alvorecer do golpe de 1964, Stanislaw, invenção de Sérgio, lançou o Febeapá - Festival de Besteira que Assola o País, para estigmatizar fatos bizarros que vinham junto com o autoritarismo. Caso do sargento da Vila Militar que denunciou um vizinho como “comunista”. Este, preso e espancado, não abriu o “bico”, não entregou ninguém.
Passou aos olhos dos torturadores como figura perigosa e resistente. Berrava feito bezerro desmamado e não delatava companheiros, simplesmente porque não os tinha. Jamais pertencera a organizações clandestinas.
Era apenas o “Ricardão” da mulher do sargento, que viu, na caça às bruxas, momento ótimo para tentar serrar os incômodos chifres, não de todo desconhecidos da vizinhança.
O Febeapá volta. Com o ministro Haddad e a cartilha que ensina as crianças a dizerem “nós pega os peixe”. Volta, sobretudo, com o ex-presidente Lula, para quem “o caso Palocci é problema pessoal do governo”. Que eloquente síntese da mistura que esse homem faz entre o público e o privado.
Bonifácio, o Patriota, imbecil porem sério, se perguntaria: “se é pessoal, qual o nome do tal de governo? Quero recomendar-lhe que cante 100 vezes por dia o Hino da República e demita Antônio Palocci”. Dilma obedeceu Bonifácio e não Lula. Palocci caiu.
Tia Zulmira morreria de rir: “se governo virou pessoa, espero que não se desentenda com dona Argentina, saindo no braço com ela no boteco”.
Stanislaw não perdoaria: “Lula consagrou o Febeapá indo a Brasília e se reunindo com Sarney para ‘salvar Palocci’”. A sociedade não deixou.

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