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Ascensão e queda do clã Bolsonaro, por Fábio de Oliveira Ribeiro
Após fazer uma longa digressão sobre o surgimento da desigualdade com o estabelecimento da Lei e do direito de propriedade, o acesso privilegiado às magistraturas e a subsequente transformação do poder legítimo em tirania, Jean-Jacques Rousseau explica o processo de diferenciação das famílias no interior da sociedade:
“…deve ter chegado um tempo em que aos olhos do povo ficaram a tal ponto fascinados que seus condutores só precisavam dizer ao menor dos homens ‘seja grande, você e toda a sua raça’, que logo ele pareceria grande para todo mundo, assim como a seus próprios olhos, e seus descendentes se elevavam ainda mais à medida que se distanciavam dele: quanto mais a causa era remota e incerta, mais o efeito aumentava; quanto mais vagabundos havia numa família, mais ela se tornava ilustre.” (A origem da desigualdade entre os homens, Jean-Jacques Rousseau, Penguin & Companhia das Letras, São Paulo, 2017, p. 99)
Uma ilustre família de vagabundos. É assim que Rousseau se refere às dinastias monárquicas europeias. O conceito se ajusta perfeitamente a algumas dinastias republicanas brasileiras: os Caiado em Goiás; os Magalhães na Bahia; os Andradas em Minas Gerais; os Sarney no Maranhão; os Calheiros em Alagoas; os Gomes no Ceará; os Cunha Lima no Rio Grande do Norte; os Bolsonaro no Rio de Janeiro, etc… Não por acaso o poder dessas famílias também se expande para dentro do Poder Judiciário, em cujos domínios também existem pretensões hereditárias.
As disputas políticas europeias eram mediadas pelas ligações e rivalidades dinásticas. A I Guerra Mundial foi em grande medida um conflito no interior de uma família estendida, pois a monarquia inglesa e alemã eram ligadas por laços de parentesco entre si e com a família imperial russa. No Brasil, as disputas políticas sempre foram mediadas por alianças e ódios familiares que produzem elos e fraturas regionais.
O PT rompeu definitivamente com essa prática e criou o mal estar que foi resolvido mediante o golpe de estado de 2016. O retorno ao passado, entretanto, foi efetuado de maneira imperfeita.
A eleição presidencial de 2018 foi anômala e seu resultado indesejado. O clã que chegou ao poder é novo e sem qualquer tradição. Jair Bolsonaro nasceu numa família miserável do Vale do Ribeira e criou os filhos no Rio de Janeiro onde fez carreira no Exército até ser expulso da corporação e entrar na política. Ele colocou três filhos na política. Agora, esses quatro vagabundos ilustres (para usarmos a terminologia de Rousseau) agem como se estivessem em condição de se perpetuar no poder. Isso não poderá ser feito sem acirrar as rivalidades entre os clãs familiares que controlam tradicionalmente os Estados para poder, assim, disputar fatias suculentas da União.
O PT está certo em defender a bandeira Lula livre. Líder inconteste da renovação política que desorganizou a tradicional “conciliação das elites” (que mais parece uma “conciliação de famílias poderosas e/ou mafiosas”), Lula é um símbolo poderoso.
Político talentoso, o ex-presidente petista foi capaz de reorganizar o Estado brasileiro explorando sua falha fundamental (a ambição desmedida de algumas famílias) para incluir pacificamente na economia 40 milhões de brasileiros. Esse fenômeno sem precedentes gerou o melhor ciclo econômico dos últimos 50 anos. Melhor até mesmo do que o milagre econômico da Ditadura, pois a concentração de renda naquele período somente pode ser feita com violência e exclusão política.
O clã Bolsonaro quer reconstruir a ditadura e o milagre dos anos 1970. Essa ambição, que encontra resistência nas Forças Armadas, será limitada por dois fatores alheios ao controle dos 4 ilustres vagabundos. A impossibilidade de contentar e/ou de silenciar os clãs familiares que se opõe ao bolsonarismo. A incapacidade de explorar as rivalidades entre europeus, chineses e norte-americanos em benefício da economia brasileira.
Assim que sentou no colo de Donald Trump, Jair Bolsonaro começou a dar prejuízo para os grupos econômicos/políticos familiares que lucravam exportando para a China e Oriente Médio. As grosserias de Bolsonaro podem ser perdoadas. Mas os prejuízos que ele causou e continuará causando exigem uma reparação que somente poderá se dar através de medidas políticas drásticas.
Um detalhe importante ajudou a derrubar Dilma Rousseff: o anel de aço forjado pelos donos das principais empresas de comunicação contra o PT. Esse anel foi rompido com o resultado da eleição de 2018 e não poderá ser reconstruído em seu próprio benefício pelo clã Bolsonaro.
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A criminalização do PT, a derrubada de Dilma e prisão de Lula foi para colocar um tucano no Planalto. Deram com os burros nágua e colocaram outro no Palácio. Acho é pouco. As vezes é preciso sofrer para aprender.
#LulaLivre

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