247 Entrevista Miruna Genoino

Gisele Federicce 247 - O constrangimento financeiro imposto pela Justiça ao ex-deputado José Genoino não se limita à multa de R$ 667,5 mil, que deverá ser paga com recursos obtidos junto a militantes do Partido dos Trabalhadores. Hoje, Genoino também está sendo forçado a pagar aluguel, porque foi impedido por Joaquim Barbosa de cumprir prisão domiciliar em seu domicílio, numa das decisões mais surreais da história do Judiciário brasileiro.
Como não pôde regressar a São Paulo, onde reside numa moradia simples, no Butantã, Genoino hoje paga aluguel para cumprir sua "prisão domiciliar" fora de casa, em Brasília. A revelação foi feita por Miruna Genoino, em entrevista ao 247. Leia abaixo: 

247 - Como tem sido a rotina do seu pai, você tem passado bastante tempo com ele desde que foi preso?

Miruna Genoino - Não podemos falar em rotina, já que meu pai está cumprindo uma prisão DOMICILIAR fora de seu domicílio, com todas as complicações que tal tipo de situação acarreta. Por isso eu mesma não tenho estado bastante tempo com ele pois moro em São Paulo, trabalho lá, e com isso minha disponibilidade acaba ficando bastante limitada. Atualmente tenho estado mais próxima pois estou de férias, mas as mesmas já estão encerrando-se.
247 - Onde ele cumpre prisão domiciliar neste momento?
Miruna - Em uma casa alugada. É um absurdo, meu pai está pagando para cumprir prisão domiciliar.
247 - Soube que você o acompanha em alguns exames. São a pedido do médico dele?
Miruna - Sim, e porque ele teria que ter retornado a São Paulo dia 07/'01 para uma consulta com o Dr. Kalil para reavaliar sua recuperação, mas como esse pedido foi negado pelo presidente do STF, tivemos que repensar a estrutura de apoio médico, aqui em Brasília.
247 - E como está o estado de espírito dele nesse momento? Como ele reagiu à decisão sobre a multa?
Miruna - O estado de espírito do meu pai é de muita indignação e revolta, mas também de determinação de não se curvar perante às injustiças. Não podemos falar muito mais sobre isso, nem sobre a reação dele, inclusive porque meu pai está proibido de emitir uma opinião pública e não sabemos se comentar sobre sua reação pode ser interpretado como um incumprimento a esta determinação absurda.
247 - Você disse não concordar com a tese, defendida pelo 247, de que o pagamento da multa é uma forma de recuar juridica e politicamente. Por quê?
Miruna - Porque meu pai está preso não porque recuou e aceitou a pena, mas sim porque se vê obrigado a aceitá-la por determinação judicial. Com a multa acontece a mesma situação, não vamos lutar por arrecadar o necessário para o pagamento porque desistimos de lutar, muito menos porque ele é culpado, muito pelo contrário
, na nossa luta de arrecadação está a nossa força política, de mostrar que se estamos em tal campanha é porque não temos outra maneira de conseguir o dinheiro necessário. E o que conseguirmos, seja 100 reais, seja 100.000 reais, será pelo apoio de muitas pessoas que acreditam na sua inocência. Além disso, meu pai não quer comprometer de forma alguma sua família e existiam sim riscos quanto a isso, ainda que o consenso geral fosse no sentido contrário. Cumprir a pena não significa reconhecer a culpa.
247 - Trabalha com a hipótese de não conseguir pagá-la?
Miruna - Pode ser que não seja possível dar o valor total de 667.513,92, mas também contestaremos este valor, pois o índice de correção aplicado foi um absurdo.
247 - Você assistiu a uma movimentação de apoiadores querendo fazer doações para o seu pai, a maioria com certeza desconhecida da família. Como vê isso?
Miruna - Como comentei acima, essa arrecadação tem uma força política que é inegável e que nossa família aprecia muito, pois representa a força da nossa luta, a força da nossa verdade, de que meu pai é inocente, foi condenado injustamente e tanto ele como todos nós, e nossos filhos, e os filhos de nossos filhos e quanto mais gerações forem necessárias, lutaremos para que um dia seja feita a justiça. Este movimento mostra que não estamos sós diante de toda essa barbaridade.