Esta não é uma boa matéria!
Se for muito delicado (a) não leia este texto.
Feitos os devidos avisos, retiradas as crianças da sala, podemos ir direto ao assunto.
Bom, se você é homem, se é heterossexual, então você tem um certo problema com as mulheres — e deve ficar feliz por isso.
A natureza do seu problema é franca e cruamente apresentada por Robert Crumb em sua narrativa confessional Meus Problemas com as Mulheres. E, acredite, Robert Crumb é um especialista nesse assunto.
E qual é esse problema?
O seu problema com mulheres é que você gosta muito, demais, de mulheres.
Mais exatamente, você é obcecado por uma determinada e bem definida dimensão da complexa natureza feminina: seus corpos, pura e simplesmente.
É um problema que produz, fatalmente, outros problemas, todos eles devidamente documentados e sempre descritos, de modo eloquente, pelas ilustrações de nosso amigo Crumb.
Robert Crumb é, como facilmente se conclui, um especialista no assunto.
Desde criança ele foi incapaz de ocultar aquilo que, por conveniência social, tentamos todos os dias esconder das pessoas ao nosso redor.
Diferente de nós, Robert Crumb possuía um dom que, ainda na infância, lhe permitia expressar esse problema de uma forma criativa.
Graças a seu talento, não demorou para que enchesse seus cadernos imagens daquilo que, já quando criança, era sua obsessão.
E a forma como ele decidiu lidar com a situação foi justamente oposta à escolhida pela maioria dos homens (o que o faz, de certa forma, um “desviante“, por não seguir o caminho majoritário): ele decidiu expor a todos o tamanho de seu problema, com todos os seus detalhes sórdidos.
E isso deu incrivelmente certo.
Mas retornemos ao seu problema com as mulheres, leitor.
Como já disse, trata-se de uma obsessão com o corpo feminino.
Não exatamente com as mulheres, mas com suas formas, suas curvas, com a firmeza e maciez de suas protuberâncias quando apertadas, esfregadas, lambidas e espremidas por nós — isso e todas as outras coisas que sua mente safada pode conceber.
Seu sujo.
E o problemático dessa sua obsessão reside justo no fato de que, além de nunca ser suficiente a satisfação que você obtém ao olhar, cheirar, apalpar, lamber, apertar, chupar, beijar e (não disse que não haveria delicadezas?) foder as mulheres, há sempre uma série de obstáculos de toda ordem que se apresentam, quando se trata de apaziguar essa fornalha que arde dentro de você, seu tarado enrustido.
Inclusive o fato de que, bem, as mulheres têm vontade própria, meu caro.
Sim, você é um tarado, porque você é normal.
E, embora eu conheça alguns poucos amigos héteros que são serenos e quase indiferentes ao apelo sexual do corpo feminino, a verdade é que eles são a exceção. A maioria de nós ocupa 90% de seu tempo consciente pensando nessa obsessão que é o corpo feminino.
A maioria de nós não têm limites para sua taradisse, senão aqueles limites que se precisa obedecer justamente para poder, como lobos em pele de cordeiro, chegar perto de realizar uma pequena parcela de suas numerosas fantasias sexuais.
E só você (e Robert Crumb) sabe como suas fantasias sexuais podem levá-lo muito longe daquilo que é tolerado pela sociedade.
Mas não há qualquer motivo para você ter vergonha desse seu “problema” com as mulheres.
Ele é natural, e suas fantasias em relação as mulheres são a sua expressão íntima e pessoal de algo que existe desde o início dos tempos.
Envergonhar-se de ser um “tarado”, de querer de forma tão ardente os corpos femininos é, na verdade, envergonhar-se com o óbvio, com o elementar, com o natural.
Essa é a verdade fundamental que nos une com todos os nossos antepassados do sexo masculino. Seja empunhando um iPhone ou uma lança, seja vestindo jeans ou a pele curtida de um animal, basicamente todo homem, não importa a era em que tenha nascido, vivencia o mesmo “problema” com as mulheres.
De uma forma ou de outra, cada homem enxerga a si como um guerrilheiro perdido em uma selva, em uma situação na qual é o único responsável pelo cumprimento de sua principal missão: dar-se bem com a mulherada.
Alguns, já dotados pela natureza com algum talento específico para lidar com o sexo oposto, são guerrilheiros que dispensam os truques mais sujos — não por moralismo, mas por desnecessidade, e talvez um pouco de orgulho.
Porém, os menos privilegiados pela natureza (e não falo exatamente de beleza, mas de qualquer outro dom natural que possa beneficiar um homem) não hesitam em adotar qualquer tática que caia em suas mãos: rezar para santo em que não se acredita, dançar música que se detesta, jurar amor eterno, trapacear, mentir, ludibriar, implorar, pagar, apelar, rastejar.
A verdade é que, na exígua ética do campo de batalha em que nós, héteros, vivemos, um dos mandamentos é jamais julgar (e muito menos condenar) a tática dos outros guerreiros, jogados que estão nessa mesma selva em que todos nos encontramos.
Em O Corcunda e a Vênus de Botticceli, por exemplo, Rubem Fonseca descreve as saborosas táticas de um sujeito feio e dotado de uma terrível corcunda que, com sua cultura invejável e lábia safada, utiliza até mesmo a compaixão por sua condição física para enrolar jovens gostosas e levá-las para sua cama.
Esse sempre foi o caso de Robert Crumb, um sujeito cuja mente brilhante não correspondia a seu porte físico.
Portanto, ele precisava usar de todos os recursos disponíveis para conseguir um pouco de sexo.
E Crumb tem preferência por uma parte específica do corpo feminino, preferência essa compartilhada por muitos de nós.
Adivinhe qual é?
Sim, Crumb compartilha a preferência de 99% dos homens brasileiros heterossexuais.
Ele gosta de uma grande, generosa, bem-formada, bem-composta e escultural bunda feminina.
Há um nome bonito, “erudito”, para as mulheres dotadas com essa qualidade apreciada pelo Robert Crumb.
Você conhece, leitor?
Caso tenha alguém ainda lendo esse texto, devo informar: o nome é Calipigia, um termo grego que significa bela bunda.
Robert Crumb, assim como a maioria dos brasileiros, pode ser considerado um calipigiano: um homem devotado a admirar as nádegas femininas.
Como se vê, Crumb gosta de mulher com curvas de mulher.
Crumb gosta é de bunda.
Sim, meus senhores.
A desgraça de Robert Crumb foi ter nascido nos Estados Unidos, em uma sociedade para o qual o padrão de beleza feminina são mulheres com seios fartos mas quadris estreitos. Isso apenas aumentou sua impressão de que era um cara estranho, anormal.
Um tarado.
Tivesse ele nascido no Brasil, e seria considerado um cara normal, até mesmo um sujeito de bom gosto.
Mas voltemos a você e a seu “problema” com as mulheres, leitor.
Como disse, todo homem é um guerrilheiro cujo objetivo é cumprir sua missão de satisfazer ao máximo seu desejo pelo corpo feminino.
Mas o destino de todo guerrilheiro, não se engane, é ser derrotado nessa guerra.
Isso porque do outro lado do front está sendo travada uma luta ainda mais acirrada, que faz com que elas se tornem ainda mais hábeis em estratégias e táticas durante reiteradas batalhas.
No outro lado do front, elas combatem para conseguir os homens mais capazes de serem bons maridos e bons pais – e, quanto mais capazes são esses homens, mais difíceis são de serem capturados.
Elas também são guerreiras, e os prisioneiros de sua guerra somos nós.
Portanto, quando um guerrilheiro se julga no controle da situação e encara as mulheres como suas presas, é justamente nesse momento em que ele próprio se torna uma presa ingênua.
Na maior parte das vezes, a vítima entra na “armadilha” crente de que está no controle da situação. Mas elas são sempre muito mais espertas que nós, e esse é um jogo em que estamos fadados, desde o início, a perder.
Esse foi o caso de Robert Crumb.
E você, seu sujo, seu tarado, não é melhor nem pior do que Crumb. No fundo, você quer perder, porque isso significa também ganhar.
Portanto, relaxe e curta a guerra, pois uma das melhores coisas que pode lhe acontecer é ser totalmente derrotado por uma mulher.
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