A decisão do TSE de negar registro à Rede Sustentabilidade mergulhou num dilema a estrela da legenda, Marina Silva. A maioria dos seus correligionários defendia na noite passada que ela se filiasse a outro partido para se manter no jogo presidencial. Em privado, Marina não chegou a afastar essa hipótese em termos categóricos. Mas hesitava. Para virar candidata, Marina terá de se portar como uma anti-Marina.
Marina desfila em cena enrolada na bandeira do “novo modo de fazer política”. Se optar por permanecer na briga, terá de fazer política à moda antiga. Dispõe de menos de menos de 48 horas para se filiar a um partido com o qual não se identifica e providenciar um discurso que justifique a adesão a práticas que diz abominar.
Ao deixar o plenário do TSE, Marina alteou a fronte. “Já somos um partido”, ela declarou (veja no vídeo). Os ministros “disseram que nós temos um programa, representação social e ética.” A voz de um repórter soou ao fundo: Qual é o plano B? E Marina: “Eu tenho um plano A. E continuo no plano A.”
Um dos seguidores de Marina contou ao blog que ela de fato não elaborou um Plano B. Mesmo longe dos refletores não admitia que prosperassem as conversas sobre o que fazer caso o Plano A não desse certo. A imprevidência levou alguns deputados que seguem Marina a improvisar, em cima da perna, seus próprios planos de contingência. Um já negocia o ingresso no recém-fundado Solidariedade. Outro flerta com o PSB. Um terceiro espera por uma palavra final da ‘líder’.
As conversas que se seguiram ao Waterloo do TSE foram inconclusivas. Marina deve decidir o que fazer após encontro a se realizar nesta sexta-feira. Presidente do PPS, um dos sete partidos que cobiçam Marina, o deputado Roberto Freire (SP) disse que, em respeito ao pedaço do eleitorado que a mantém na segunda colocação das pesquisas eleitorais, ela deveria buscar uma filiação partidária.
“Se Marina quer transformar a política, precisa fazer política” disse Freire, que espera por um sinal da ex-senadora. Um correligionário de Freire tocou o telefone para dois amigos que gravitam ao redor do enigma da Rede. Ambos contaram que é grande a torcida para que Marina não repita agora o que fez em 2010.
Naquele ano, após obter quase 20 milhões de votos na sucessão de Lula, Marina se trancou em seus rancores e se absteve de apoiar um dos candidatos que passaram para o segundo turno: José Serra e Dilma Rousseff. Agora, os aliados rogam para que Marina dê uma chance a si mesma. Imagina-se que o eleitor que pende para ela vai preferir um ajuste na estratégia a vê-la fora da disputa.
Embora o Ibope tenha informado na semana passada que a taxa de intenção de votos de Marina caiu de 22% para 16%, ela não é uma competidora qualquer. Permanece no segundo lugar, à frente de Aécio Neves e Eduardo Campos. E a eventual ausência do nome de Marina na urna eletrônica diminui as chances de um segundo turno.
Josias de Sousa
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