Entrevista com a 1ª dama, Ana Estela Haddad


Trechos da entrevista
iG: No cenário atual, qual é o papel da mulher do prefeito e qual será a sua bandeira?
Ana Estela Haddad: Não existe um modelo pré-determinado para a atuação da primeira dama e os exemplos são os mais variados. Acredito que o principal é que, seja qual for a atuação da mulher, ela deve estar sintonizada e em harmonia com a forma de ser, com as crenças, que nada seja forçado ou artificial. Eu atuei como gestora e agora de volta à USP como docente e pesquisadora nas áreas da educação e na saúde. Não há dúvida de que a história e as atividades que já desenvolvemos influenciam nosso olhar sobre os problemas e a concepção de cidade com a qual sonhamos. Não pretendo estabelecer uma bandeira, mas buscar sempre o que é essencial e o que esteja ao meu alcance contribuir para o bem coletivo.
iG: Como o governo municipal pode atuar para diminuir as desigualdades entre homens e mulheres?
Ana Estela Haddad: De um lado as políticas públicas e de outro a sociedade civil organizada precisam estabelecer como valor e praticar na família, na educação dos filhos, nas relações de trabalho, a igualdade de gêneros. A situação de pobreza muitas vezes pode acentuar a violência e a desestruturação familiar, situação em que a desigualdade de gênero também se manifesta. As políticas públicas que combatem a miséria, que ampliam o acesso à educação e à saúde, seja em âmbito municipal, estadual, federal, ou preferencialmente de forma articulada entre as três esferas, podem sem dúvida contribuir para que nossa sociedade seja mais justa em relação à questão do gênero.
Educação e acesso ao planejamento familiar são o primeiro passo necessário[para atuar na questão do aborto] , ainda não acessíveis a uma parcela considerável dos adolescentes e das famílias
iG: As internações por aborto – sem contar os abortos espontâneos – superam as internações por câncer de mama. Como o governo municipal pode atuar nesta questão?
Ana Estela Haddad: Em primeiro lugar, a questão da saúde é uma das questões centrais e mais críticas a serem enfrentadas pela nova gestão municipal em São Paulo. Os desequilíbrios e carências são enormes. Os serviços não estão organizados em rede, nem distribuídos de forma equitativa na cidade. Então, seja qual for o problema de saúde considerado, é possível que sejam verificadas grandes distorções. A questão do aborto é um tema extremamente delicado e complexo, ainda por ser enfrentado na nossa sociedade. Como profissional de saúde compreendo a dimensão grave que estas ocorrências representam para a saúde pública e para a vida e integridade de cada mulher/família implicados. Educação e acesso ao planejamento familiar são o primeiro passo necessário, ainda não acessíveis a uma parcela considerável dos adolescentes e das famílias.
iG: A senhora participou do plano de governo? Se sim, quais foram suas contribuições?
Ana Estela Haddad: Acompanhei desde a etapa inicial da pré-campanha. Integrei o Grupo de Trabalho que construiu o capítulo da saúde. Realizamos mais de 20 reuniões, desde fevereiro deste ano, durante as quais traçamos um diagnóstico dos problemas e dificuldades atuais, e uma proposta abrangente para melhoria do acesso da população às ações de saúde em toda a rede de atenção. Vale ressaltar que a saúde é a área mais mal avaliada da atual gestão pela população paulistana. Realizamos também seminários temáticos tendo recebido a contribuição de aproximadamente 600 pessoas, entre trabalhadores da saúde, gestores e usuários do SUS. Minha contribuição foi principalmente na saúde bucal e na formação e educação permanente dos profissionais de saúde. Durante os últimos seis anos ocupei no Ministério da Saúde o cargo de Diretora de Gestão da Educação na Saúde, integrando a equipe que liderou um amplo processo de reorientação da formação em saúde no país.
iG: Que mulher a senhora tem como exemplo? Por quê?
Ana Estela Haddad: Não tenho um caso único como exemplo. O que geralmente me chama a atenção é o quanto determinado comportamento é natural ou artificialmente construído.
iG: A divisão entre carreira e maternidade ainda é um desafio para a mulher contemporânea?
Ana Estela Haddad: Acho que ainda é. Nas novas gerações, a divisão de tarefas dentro de casa e fora tem sido cada vez mais compartilhada de forma equilibrada. Mas nas camadas menos favorecidas da população é muito comum encontrar mulheres que são ao mesmo tempo a fonte de renda e assumem sozinhas todas as responsabilidades com a família.
iG: Qual barreira as mulheres ainda precisam superar na questão da igualdade dos gêneros?
Ana Estela Haddad: As mulheres que conseguem alcançar autonomia de renda e também emocional, e que ao mesmo tempo têm sua autoestima preservada, certamente estarão mais bem preparadas para se colocar em condição de igualdade com os homens.

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