Estar certo é melhor do que ser coerente


por Elton Simões

Neste conjunto de coincidências, finitas ou infinitas que é a existência, o espaço para certezas parece sempre ser muito reduzido. Verdade permanente, imutável e incontestável é algo que nunca encontrei.
Um ex-chefe e atual amigo me disse, décadas atrás, que estar certo é melhor do que ser coerente. Ser coerente é compromisso com a certeza. Certezas, por serem imutáveis, quando tomadas como único e exclusivo critério de decisão, levam fatalmente a erros permanentes. Certezas desenvolvem a capacidade toxica de ignorar dificuldades e contradições.
Certezas são permanentes demais. Melhor sempre estar convicto do que ter certeza. Convicções são sempre temperadas pelas dúvidas. Dúvidas abrem os olhos; aguçam os sentidos; iluminam os caminhos; geram a critica permanente; garantem a fidelidade das ideias; servem de limite à coerência.
Dúvidas moldam o pensamento à semelhança da realidade. Dúvidas não têm compromisso com o erro.
Convicção é sempre transitória. A convicção precede a ação. Permite que se compare intenção e fato. E aceita o resultado com olhos abertos. A convicção admite mudança. Mudam os fatos, muda a realidade, mudam as convicções. A convicção não permite que a consciência seja escrava da coerência.
Convicção é crença com razão. É acreditar em algo para não acreditar em qualquer coisa. É adaptar o pensamento quando as razões se transformam. É a lembrança permanente, e sempre educativa, de que tudo é mais complexo do que somos capazes de perceber.
O que se faz sob pressão, quando as coisas não vão bem, define o que se é e no que se acredita. Crises testam o aço das convicções. Nelas, o conjunto de convicções orienta a ação. Na encruzilhada, é a convicção, não a certeza, o recheio das decisões acertadas.
Grandes desastres começam com certezas. Grandes realizações se alimentam de convicções.
Melhor estar convicto do que ter certeza.

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