O poder da caneta nas mãos de corruptos togados

I
Dentre os poderes do mundo
Desde o princípio da terra
O poder que vinha da guerra
Guiava a humanidade
Com tiranias e liberdades
Escritos a lanças e baionetas
Sinais, rabiscos e letras
Das armas daquela era
Mas hoje quem manda na terra
É a poderosa caneta
II
A adaga, a lança, o tacape
A garrucha, o fuzil, o canhão
O tanque, o míssil, o avião
Pistola, rifle, capacete
O laser, satélite, foguete
Arsenal de destruição
Armas de última geração
Hoje todos controladas
E só serão acionadas
Por quem tem a caneta na mão
III
Isso então por si só
Dá bem logo a dimensão
De que a caneta na mão
É o verdadeiro poder
E é só preciso escrever
E assinar as decisões
P’ra que o rufar dos canhões
Nos ares começam a ecoar
Ou que voltem a silenciar 
Trazendo a paz p’ra nações
IV
A caneta que assina a paz
É a mesma que ordena a guerra
Sentencia, mata e enterra
Os sonhos da humanidade
Dependendo a bem da verdade
Na mão de quem ela está
Por isso antes de entregar
A caneta do poder
Tem que examinar, tem que ver
Quem é que se vai armar
V
A caneta na mão errada 
Já decretou ditaduras
Fez baixar à noite escura
Sobre o sol da liberdade 
Tiranias torturas e atrocidade
Esta caneta sustentou
E a mesma caneta assinou
O fim da perseguição
A caneta mudou de mão
E o povo se libertou

VI
A caneta de cada um
Dá a importância da função
O Delegado pede a prisão
O Promotor caneteia
A juíza dá a cadeia
Na sentença que condena
O advogado livra a pena
Num recurso da defesa 
E a caneta sobre a mesa
É a própria dona da cena

VII
A criança com a caneta
Risca, rabisca, desenha
A adolescente da a senha
Dos desejos proibidos 
Ao adulto é permitido
Revelar seus sentimento
A caneta é o instrumento
Que com uma simples assinatura
Realiza antigas juras
E promessas de casamento

VIII
A caneta que escreve o bem
É a mesma que rascunha o mal
A diferença é o sinal
Da escrita sem razão
Mas quem escreve ao coração
Com o poder do manuscrito
Vai buscar lá no infinito
Palavras p’ro seu amor
A caneta muda de cor
Só p’ra escrever mais bonito
IX
A caneta na mão do amor
Faz declaração para amada
Vira caneta encantada
Encantando à quem escreve
Nesta hora ela se atreve
Diz coisas de duvidar
E na ânsia de encantar
Descreve o seu próprio encanto
E faz da tinta o seu pranto
P’ra seu amor revelar
X
A caneta do futebol
É uma jogada de letra
É uma bola entre as caneta
Que faz levantar a torcida
Jogada que é concebida
Por quem é craque, goleador
Pois a caneta p’ro torcedor 
É como um gol de placa
É o timão erguendo a taça
É a caneta escrevendo a faixa
No peito do jogador
XI
A caneta traz a história
Na própria ponta da pena
Com a força da mão suprema
Desenhou as criaturas
Escreveu as escrituras
E os milagres de Jesus
O seu calvário até a cruz
E a própria ressurreição
E deixou para os cristão
A bíblia caminho e luz
 XII
A caneta na mão do escriba
Fez o velho testamento
Descreveu o sofrimento
Do povo em Jerusalém
Da Babilônia de Matusalém
Das pirâmides dos faraós
Do império Grego em pó
De uma Roma colossal
A decadência imperial
E o sofrimento de Jó
 
XIII
A caneta do Presidente
Já assinou muitos decretos
Escreveu ante-projetos
E mil medidas provisória
Viu o poder viu glória
Dos cargos das nomeações
E na renúncia nas demissões
Viu também a decadência
E registrou a prepotência
De alguns chefes de nação
XIV
A caneta que assina a posse
É a mesma que renuncia
Testemunha dia-a-dia
A briga pelo poder
Só ela pode descrever
O que acontece nos bastidores
As concessões, os favores
Quem tem honra e fidalguia
Ou a soberba e a tirania
De alguns falsos gran-senhores
XV
É por isso que a caneta
É a arma mais poderosa
Ela é frágil, mas perigosa
E deve ser bem usada
Pois uma assinatura errada
Fere e mata a liberdade
Constrange a humanidade
Mas a caneta não é culpada
Nem pode ser condenada
Ela só transcreve a realidade
Pois a caneta é na verdade
Um instrumento e mais nada
Pompeu de Mattos

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