Marcio Alemão: não confunda


Foi há pouco tempo. Estava em meu clube, que é um clube de ótimo nível, frequentado por uma elite paulistana. Mas não chega a ser aquela elite nobre nem a nobilíssima. Pois foi em uma roda de sócios que ouvi um deles recomendar o “tal de Figueira”. Eu me lembro que foi um de meus primeiros Refogados. Arrisco dizer que foi o segundo. Escrevi justamente sobre o então novo restaurante da família Iglesias, dona de outras duas casas muito conhecidas: Rubaiyat.
Onze anos se passaram e por isso a minha gigantesca surpresa. Como é que um paulistano da classe A pode nunca ter pisado no Figueira?
O que parece fazer sentido é que o mundo que consome os Jardins e seus sofisticados produtos não é tão grande. Ainda que fazendo parte da dita elite, almoçar e jantar fora toda semana -pizza, e pessoa jurídica no almoço não vale,- não pode ser considerado -hábito do paulistano.
Também a considerar os tempos não tão confortáveis que estamos vivendo.
Muitas contas são necessárias para se tentar manter um padrão conquistado ao longo da vida. Perder é uma possibilidade que aparece no horizonte diariamente. A classe média, a antiga, continua em estado de alerta.
Chega desse assunto. Na verdade, eu peguei carona no Figueira para comentar outra conversa interessante entre associados: vinhos. Sabemos que o assunto virou assunto. Falei e muitos falam sobre toda uma geração de enochatos e também sobre o quanto temos de agradecer aos bons importadores que começaram a nos trazer os melhores vinhos do mundo.
E lá estava eu distraído, mais uma vez,  quando meus ouvidos captaram: “Os vinhos da Sicília são sensacionais, uma delícia”. Um outro comentou: “Pois é, na hora que vou comprar vinho italiano até vejo os da Sicília, mas aí acabo levando um toscano mesmo”. O outro prosseguiu: “Mas experimenta comprar esse, o Vega Sicília”. Um colega confirmou: “Já provei esse aí. É bom sim”. Pois é. O Vega Sicília é um dos vinhos, para usar o termo clássico, mais emblemáticos do planeta. E é um vinho espanhol da região de Ribera Del Duero e custa por volta de mil dólares a garrafa.
A partir desse episódio, julguei que seria instrutivo esclarecer algumas coisas para que esse tipo de confusão possa ser evitado.
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Se você encontrar em um  cardápio de comida francesa o prato Pintade, saiba: nada tem a ver com o peixe amazônico pintado. Pintade é galinha-d’angola. Turkey legs não é uma calça justa de malha turca. São coxas de peru, aquelas deliciosas que você pode comprar nos parques em Orlando.

Se estiver em Paris, por exemplo, e quiser tomar seu uísque predileto e digamos que seja o White Horse, não peça Cheval Blanc, que é um vinho excepcional de Bordeaux e custa uma grana preta.
Merlot é uma uva. Logo, não dá pra transformá-la em expressão do tipo “não vai dar certo. Merlot, gente!” Se bater vontade de tomar um vinho quente – fazer o quê? Gosto não se discute – e se você estiver na Itália, não adianta pedir o vinho Chianti.
Ovo pochê pode até ser o jeito que a Xuxa diria, carinhosamente, “Ovo pra Você”.
Canard a L’orange. Mais um prato clássico francês que pode causar estranhamento e repulsa. Mas fique tranquilo porque nenhum canário foi abatido. Canard, em francês, é pato.
Igualmente suscetível à confusão é o famoso prato italiano spaghetti al Cacio e Pepe, que alguns costumam dizer Calcio e Pepe. A semelhança é grande, mas enquanto o primeiro significa que será feita uma mistura de queijo e pimenta, o segundo sugere a mistura de futebol com pimenta, -coisa -difícil de se imaginar com spaghetti. •

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