Como nunca deixo de debater os assuntos mais palpitantes do momento, faço-me algumas perguntas que divido também com vocês: o que se passa com a Igreja Católica Apostólica Romana? Querem os católicos as mudanças que os tempos exigem? Querem uma nova reforma antes que outra cisão na Igreja a faça? Estas são perguntas que os católicos, inclusive os do ainda maior país católico do mundo, os do Brasil, precisam responder.
Mas como decidir se a Igreja é uma monarquia absolutista com uma corte decadente e envolvida em escândalos, intrigas e luta pelo poder que, tudo indica, levaram à renúncia do atual papa? Não há democracia na Igreja, nem controle, fiscalização e transparência dos atos de seus chefes. Pelo contrário, ela já é vista como uma das maiores redes de intrigas do mundo, que se desenvolvem nos subterrâneos da Cúria Romana, que tenta mantê-las no mais absoluto sigilo. Mesmo os sínodos e os concílios perderam poder.
A vida se impõe e o mundo caminha para novos tempos, sem que a Igreja acompanhe as radicais mudanças na sociedade civil e no poder Estatal. Enquanto isso as contradições da Igreja se acumulam: pedofilia, negócios ilegais, espionagem, luta pelo poder no Vaticano e na Cúria Romana.
A grande maioria dos católicos quer mudanças? Não me parece
Avança a pressão para o fim do celibato, do preconceito contra a mulher e do seu papel na Igreja. Mas a Igreja continua com a rejeição à camisinha e, pasmem, a já envelhecida politica de condenação dos homossexuais, já que cada dia mais – e felizmente – os países aprovam o casamento e as relações homoafetivas (Inglaterra, Estados Unidos e França acabam de tomar decisões a respeito).
Isso sem falar no abandono da Igreja dos seus compromissos com os mais pobres e com as causas políticas e sociais das maiorias católicas. A grande questão é: a maioria dos católicos quer as mudanças ou apenas um papa mais jovem, evangelizador, ante ao crescimento dos evangélicos e dos neopentecostais? Não me parece...
Pelo menos os bispos e os cardeais parecem conformados com o status quo e/ou estarrecidos com a renúncia do papa. Até porque aceitam, por exemplo, que o maior pais católico da humanidade, o Brasil, tenha apenas 9 cardeais (mas apenas cinco com direito a voto), enquanto a Europa tem 116 (62 com direito a voto). Apenas italianos são 28 cardeais. Os Estados Unidos, um dos maiores países protestantes no mundo, têm 11 com direito a voto e o Canadá, 22!
Igreja já foi mais prestigiada pelo Vaticano no Brasil
O Brasil, inclusive, já teve bem mais sedes cardinalícias do que tem agora. Porto Alegre, Brasília e o Rio de Janeiro já tiveram cardeais e o papa Bento XVI não nomeou seus substitutos, deixando-as há anos com arcebispos. Sem contar o Recife, para o qual o Vaticano desde o início dos anos 60 evita designar um cardeal porque teria de nomear Dom Hélder Câmara.
Alguns cardeais - inclusive um brasileiro, o de São Paulo, dom Odilo Scherer - nem sequer defendem um papa mais jovem e ou africano. Aliás, há somente 19 cardeais africanos e 30 latino americanos. Insisto na questão: os católicos querem mudar e recuperar o espirito do Concílio Vaticano II (aquele convocado pelo papa João XXIII) ou preferem retornar ao passado Trentino, da contra-reforma?
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