Paulo Coelho: O conto


Nixivan havia reunido seus amigos para jantar, e estava cozinhando um suculento pedaço de carne. De repente, percebeu que o sal havia terminado. 

Nixivan chamou o seu filho:
– Vai até a aldeia, e compre o sal. Mas pague um preço justo por ele: nem mais caro, nem mais barato. 
O filho ficou surpreso:
– Compreendo que não deva pagar mais caro, papai. Mas, se puder barganhar um pouco, por que não economizar algum dinheiro?
– Numa cidade grande, isto é aconselhável. Mas, numa cidade pequena como a nossa, toda a aldeia perecerá. Quando os convidados, que tinham assistido a conversa, quiseram saber porque não se devia comprar o sal mais barato, Nixivan respondeu:
– Quem vender o sal abaixo do preço, deve estar agindo assim porque precisa desesperadamente de dinheiro. Quem se aproveitar desta situação, estará mostrando desrespeito pelo suor e pela luta de um homem que trabalhou para produzir algo. 
– Mas isso é muito pouco para que uma aldeia seja destruída.
– Também, no início do mundo, a injustiça era pequena. Mas cada um que veio depois terminou acrescentando algo, sempre achando que não tinha muita importância, e vejam onde terminamos chegando hoje.