Uma dimensão negligenciada do boato sobre a extinção do Bolsa Família foi a mobilização instantânea de 900 mil pessoas, detentoras do benefício em 13 estados. As suspeitas quanto à origem da mentira produziram vapor. Mas o potencial político da mobilização de dezenas de milhares de brasileiros tocados pela ameaça a um direito adquirido, persistiu na sombra. Não deveria. Essa foi a primeira ‘manifestação conjunta', não eleitoral, de um universo considerado uma esfinge política à direita e à esquerda. Se foi um ensaio de coisa pior , certamente a octanagem da amostra está sendo analisada com cuidado por quem de direito. Ainda que as investigações desqualifiquem tal suspeita, o governo não deveria menosprezar a preciosa informação que lhe chegou por vias tortas. Criado há dez anos sob o guarda-chuva da política brasileira de segurança alimentar, apelidada de Fome Zero, o Bolsa Família tem poder inflamável 14 vezes superior à escala das ‘mobilizações' provocadas pela boataria. As mulheres detém a titularidade de 94% dos cartões de acesso aos saques. Gerem um benefício que contempla uma população equivalente a 25% do país. Quem são? O que pensam? Que papel essas brasileiras podem ter na construção de um Estado social que ordene o desenvolvimento do país? Se a escala atingida pelo Bolsa Família deu razão ao modelo instituído há dez anos, hoje a ausência de um fórum participativo específico para as 14 milhões de famílias inseridas no programa soa como uma aberração democrática. Que não seja lembrado no futuro como uma negligência histórica.(LEIA MAIS AQUI)