Por Pedro Luiz Rodrigues
A compreensão do mundo da Política não passa, nem de raspão, pelos preceitos da lógica cartesiana, que recorre ao raciocínio para decompor os fatos e reordená-los de forma a permitir que se alcance a verdade e o entendimento do todo.
Os movimentos nesse mundo são enviesados e fazem como as árvores e as folhagens de Manuel Bandeira: revoluteiam, contorcem-se, sacodem-se!
Outros identificarão a labuta dos políticos com o tricô, que era pacientemente trabalhado por nossas bisavós, onde o contínuo e agitado entrelaçamento de fios produziam a malha improvável e não o caos, provável.
Compartilham, a política e o tricô, o fato de serem técnicas e artes muito convenientes para se lidar com a necessidade da mudança constante. Ambas permitem o descampionamento, o jeito ligeiro de se desfazer, à la Penélope, o que se tecera ainda há pouco.
Tudo isso para dizer que não precisam se afligir aqueles que, como eu, não conseguem acompanhar o maçudo, massudo e maçante noticiário político do dia-a-dia, que costuma atribuir mais relevância aos ti-ti-tis declaratórios do que aos grandes lances em andamento. De minha parte, sempre preferi as análises - como as do Carlos Chagas e, no passado, as do Carlos Castello Branco – do que ter de desvendar o que fica oculto na montanha das matérias factuais cotidianas.
Assim, em resumo, veríamos a situação política do Brasil de hoje da seguinte maneira: A Presidente da República – que continua a apresentar índices muito favoráveis de aceitação popular - daqui a um semestre entra no último ano de seu governo, sem ter logrado (até agora) os sucessos que aspirava em termos de crescimento e prosperidade do país. Internamente, o equilíbrio macroeconômico está sob pressão, e o governo está tendo de colocar de lado seu objetivo desenvolvimentista para priorizar o controle da inflação. Do lado externo acabou-se o conforto: já há grandes e preocupantes goteiras nas contas do balanço de pagamentos. As reservas externas dão-nos certa tranquilidade, mas à primeira gota de sangue as hienas saltarão sobre elas.
No âmbito dos partidos, o PT, que não consegue se renovar verdadeiramente, parece perder espaço e protagonismo no cenário político. Diferente é o que ocorre com o aliado PMDB, que comanda as duas Casas do Congresso e se mostra a cada dia mais confiante e desenvolto. Se perceber que o PT ficou trôpego demais, poderá animar-se a buscar conversa mais íntima com o PSDB de Aécio Neves ou o PSB de Eduardo Campos.
Lula, com seu prestígio preservado mas com a saúde sob vigilância, continua a ser o grande fiel da balança.
Por enquanto nada é claro, tudo é espera.
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