José Dirceu: é grave a crise da mídia

Na Folha de S.Paulo no fim de semana (ontem), a ombusdman Suzana Singer, criticou seu jornal por ter eliminado mais cadernos (agora, o Equilíbrio) ou tê-los encaixado em editorias que sobreviveram e demitido dezenas de jornalistas. Mas ela reconhece que também os grupos Estado e Abril (este iniciou as degolas na 6ª feira pp.), mais o jornal Valor Econômico, seguem o mesmo caminho. O Valor, por sinal, é uma sociedade dos grupos Folha e Globo.


É a crise e a tentativa de conciliar a mídia impressa com o avanço da internet gratuíta. Suzana lembra que este caminho do enxugamento foi seguido lá fora, por jornais norte-americanos. Assim, embora fale en passant sobre Abril, Valor e mídia lá fora, ela termina fazendo uma radiografia da crise que vive a imprensa. A Secretaria de Redação da Folha justifica a Suzana as demissões com o fato de a receita publicitária estar crescendo menos que a inflação.

Na verdade, em toda a imprensa escrita - além do fracasso da maioria das publicações da Abril - o arrocho no Estadão, Valor, Folha, emissoras de TV e rádios, indica que o problema é estrutural e que não há saídas fáceis. Por enquanto nossos jornalões/mídia em geral estão seguindo a receita burra de cortar despesas, despedir, diminuir o tamanho dos jornais e o espaço das noticias, tratando os leitores com pouco respeito, comprometidos com seus próprios interesses e linhas editoriais.


Na prática, continuam dependentes de recursos diretos ou indiretos do Estado, ainda que digam o contrário. Mas vivem dependentes de isenções, compras governamentais de livros didáticos, privilégios, obrigatoriedade da publicidade legal dos balanços e avisos das empresas e nadam de braçada na desregulamentação do mercado, o que permite a formação de cartéis na área nos e dumping na publicidade, na distribuição, nos bônus de volume.

Sobrevivem graças ao papel importado barato, com desvios para o comércio em geral, e por fim com a publicidade pública e das estatais. Como no passado, quando viviam pendurados em empréstimos bancários e favores políticos para empresas coligadas, vantagens e mais vantagens na concessão de canais de rádio e TV, e por ai vai...

A questão de fundo, que são as novas mídias e a convergência, a chegada do capital estrangeiro, as mudanças para o mundo digital, a generalização da TV paga, o começo do fim hegemonia da TV como veiculo dominante, e a avassaladora generalização do uso da internet gratuita, nada disso interessa à mídia. À nossa, à tupiniquim em particular.


O que conta para ela é manter o poder político que o monopólio e o controle da informação lhes assegura - ou lhes assegurava no passado. Dai os barões da mídia não aceitarem a regulação nem para salvá-los das mudanças tecnológicas e do capital estrangeiro. A exceção nesse quadro, a regulação da TV a cabo, só comprova que a regulação pode e deve existir para a TV e o rádio e que os barões, na verdade, ainda resistem ao inevitável, à regulação do mercado de comunicação, para salvá-los do inevitável: a chegada do futuro.

No mais é concordar com a ombudsman da folha, Suzana Singer, quando ela, de forma quase melancólica, constata ser difícil de dar certo o caminho do enxugamento e das demissóes para estruturar um jornal menor (ainda que mais sofisticado) para fazer frente às informações gratuitas oferecidas pela internet.

Ao falar dessa travessia para uma nova fase do jornalismo impresso Suzana Singer conclui: "aos que acreditam que o jornalismo de qualidade faz bem à democracia resta torcer para que a travessia dê certo". Vamos todos torcer.

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