Médicos param pela pela reserva de mercado e o povo paga o pato

Depois dessa, dá até arrepio depender do nosso sistema de saúde deformado pelo corporativismo



O anúncio da presidente Dilma Vânia Rousseff confirmando que o governo cogitava de contratar médicos no exterior para suprir sua falta em pelo menos 2.282 municípios brasileiros foi o bastante para que os médicos dos serviços públicos de Pernambuco, em todos os níveis, cruzassem os braços, deixando milhares de pacientes que não podem pagar planos de saúde sem assistência nenhuma, com os riscos das próprias vidas.

Essa greve é o retrato sem retoque de uma boa parte de uma classe formada em faculdades públicas e gratuitas para salvar vidas. A greve não prejudicou os familiares da presidente, dos ministros, dos governantes em geral ou dos parlamentares. Atingiu, sim, de forma desumana e cruel, a população pobre que não tem nada a ver com o peixe e que, infelizmente, parece condenada a morrer ou passar sufoco nas portas dos hospitais e postos de saúde, onde a falta de profissionais é crônica há anos, falta, inclusive, diga-se com todas as letras, pela baixa assiduidade. População que pode pagar o pato pelos humores de um corporativismo insano.

É uma greve que não passou nem de raspão pelos hospitais privados ou pelo atendimento igualmente precário nos consultórios e clínicas conveniados com os planos que remuneram muito mal aos nossos doutores, mas que lhes permite recorrer a um monte de exames em laboratórios compensatórios.

Essa decisão de negar atendimento aos dependentes dos serviços públicos não ficou por aí. As principais entidades de classe, lideradas pelo Conselho Federal de Medicina, estão programando para o próximo 3 de julho uma paralisação nacional no sistema público de saúde, o que, repito, causará transtornos a milhões de brasileiros que não podem pagar a planos privados.

Esses mesmos desatinados acabaram de demonstrar, em outra situação, que querem ser os ditadores da área de saúde, não importa o preço: assim, conseguiram que o Senado aprovasse uma Lei de EXCLUSIVIDADE, chamada de ato médico, que subordina todos os demais profissionais aos médicos, mesmo sabendo que isso poderá inviabilizar instituições de notória utilidade como a Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, além de golpear mais de uma dezena de carreiras igualmente qualificadas.

É a mais inacreditável formação de cartel profissional, algo impensado, como se para sobreviverem os médicos dependam de casuísmos indiferentes à sorte dos pacientes.

Não quer socorrer e não quer deixar que socorram

Essa não é uma greve por melhores salários, por melhores condições de trabalho. A população que já passa semanas e meses para ter um atendimento em unidade pública vai penar por que a classe médica brasileira não quer ir para os grotões e não quer deixar que outros o façam, porque esses outros já demonstraram que têm muito mais espírito humanitário e vão acabar expondo as vísceras de uma medicina mercantilista, onde profissionais mal formados trocaram a consulta criteriosa pelo atendimento sumário e os exames a a bangu, como diagnosticou muito bem o médico Luiz Roberto Londres, diretor da 

Clínica São Vicente, reconhecida como o mais completo centro médico particular do Rio de Janeiro, em entrevista de página inteira ao jornal O GLOBO.

“(O termo) medicina diagnóstica, que se vê por aí, é uma mentira. O que existe é exame complementar. Um bom médico consegue ter uma hipótese correta em 90% dos casos, porque conversa com o paciente. A medicina seria baratíssima se ela se fiasse no encontro. Haveria menos hospitalização, menos cirurgias e menos exames complementares. Como hoje as escolas não ensinam mais, estão cada vez piores, os médicos não conversam, pedem exame e operam sem saber. Claro que quero ter internações aqui (na São Vicente), mas sem ferir um único preceito do código de ética.
É possível melhorar essa relação na saúde pública? Precisa-se de mais dinheiro?. Dizem que o problema é financiamento... será que é? Acho que falta comprometimento de todos. Todos estão preocupados com sua coisinha, sem participar.”
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