Avós: mais que mimar, ela educam seus netos

A imagem da avó que só mima os netos ficou no passado. Deixar os filhos com as avós é hoje a primeira opção de muitas mães que trabalham fora e, por opção ou pela questão financeira não optam por uma babá ou pela creche. Daí a participação delas na educação dos netos ir além do saudável. É necessária. “A maior preocupação dos pais é que seu filho seja bem cuidado. E a avó é aquela cuidadora que tem vínculo e afeto”, diz a psicopedagoga Larissa Fonseca.

Na casa da aposentada Antonia de Fátima, 59 anos, o neto Rafael, de 11 anos, chega de manhãzinha. A mãe só o busca à noite. Desde os cinco meses, é ela quem cuida e coordena as atividades do menino durante a semana: dá café da manhã, almoço, leva e busca na escola e no inglês. Esta troca não é positiva apenas para os pais e netos, mas também para as avós, que ganham benefícios emocionais e para a saúde com essa interação. Como é o caso de Antonia que até pratica esportes com o neto. “A gente faz natação no mesmo horário”, ela conta.

Marta Dubieux, 84 anos, que cuida da neta Brunelle desde que ela era bebê, reconhece prontamente os benefícios de substituir a filha. “É uma experiência inigualável, eu estaria sozinha sem ela, todos os meus filhos são casados”, constata Marta, que desde que os pais da menina se separam ficou responsável pela educação da neta. “Dei a primeira sopinha, vi o primeiro dentinho e ajudei na primeira lição de casa. Somos muito apegadas, e ela é muito gostosa, muito amorosa”, completa.
De quem são as regras?
Como as três filhas já adultas também ficaram sob os cuidados da sogra quando trabalhava fora, Antonia sabe que a educação e as regras são estabelecidas pelos pais. “O que a minha filha diz é lei. A não ser quando ele está sob meus cuidados. Faço o que acho melhor para ele. Sou uma avó legal.”
Os próprios avós hoje são mais antenados, contribuindo muitos mais do que apenas para preparar um bolinho de chuva para os netos. Elas sabem que precisam educá-los e não só entretê-los.“ Quando estão na minha casa, a rotina de estudos é normal. Inclusive sou eu quem supervisiona as lições”, ressalta a professora de pintura Valquíria Luiza de Oliveira Queiroga, 65 anos. Assim, a avó também ajuda a impor limites: “Sou eu quem está o tempo todo com eles, então preciso estar sempre atenta aos seus hábitos e costumes”.

A psicopedagoga Larissa explica que as mães devem agir de maneira tranquila na hora de diferenciar a rotina da casa delas e das avós. A dinâmica não precisa ser exatamente a mesma com a qual a criança está acostumada. “Pode haver esta diferenciação, o que não pode é desautorizar um e outro”, pondera Larissa.
Junia Helena Fonseca, 55 anos, já aprendeu a estabelecer essa diferença. Toda a vez que o telefone toca e ela é solicitada, a aposentada deixa sua casa no interior de São Paulo para dar uma forcinha para a filha na capital, e cuidar da neta Maria Helena, de oito anos. “Tento manter os mesmos horários e orientações que a mãe dela estabelece para que ela não se confunda”, conta Junia, que faz questão de diferenciar esses dias do período de férias em sua casa, em Ribeirão Preto, quando a agenda é mais livre e sobra tempo para brincar e passear.
De olho no futuro do neto
A filha da cozinheira Angela Lima, de 50 anos, nem precisou pedir para que a mãe cuidasse do seu filho. Desejando que o neto tivesse uma boa educação, Angela foi buscar Ryan, de 10 anos, no Piauí para morar com ela em São Paulo. “A escola aqui é melhor e, além disso, ele pode estudar piano e flauta, que ele toca desde pequeno”, Angela esclarece. “Somos muito apegados um ao outro porque ele foi criado por mim desde pequenininho, para a minha caçula poder estudar”, prossegue a cozinheira, que reconhece uma evolução no seu jeito de educar.
“O que fiz diferente com Ryan em termos de educação é que hoje sou mais madura, converso mais. A minha visão em relação à vida também mudou. E na parte financeira, tudo o que eu não pude dar para os meus filhos, dou para os meus netos.”
Mesmo com essa justificada preocupação com a disciplina e com o futuro dos netos, as avós não deixaram de ser carinhosas. “A questão é que tenho mais liberdade com ele do que tive com minhas filhas porque eu trabalhava fora. A gente ajuda a criar, mas estraga um pouquinho (risos). É um amor sem tantas obrigações e compromissos. Estou curtindo mais o crescimento das minhas netas do que o das minhas filha, pois muito da infância delas eu não participei. Agora eu participo e a minha filha não”, finaliza Antonia.
Renata Reif , iG São Paulo

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