Centelha: Não sei se a Dilma poderia ter tido mais habilidade política

[...] se deveria ter maturado melhor sua Medida Provisória, criado um grupo de trabalho cheio de notáveis para construir uma proposta etc. O certo é que as ruas têm pressa. 
Betinho uma vez falou que a fome não pode esperar. E a apendicite supurada, a eclâmpsia, a pneumonia dupla, etc.... Essas podem?
Com toda a brigalhada que a MP Mais Médicos produziu, quanta coisa veio à tona! Discutiu-se o modelo de saúde pública da Inglaterra e o de Cuba; descobriu-se que na Inglaterra o formando de Medicina é "obrigado", tadinho, a trabalhar no National Health Service; compararam-se números de médicos por habitante, investimento percentual do PIB, ou em dólar per capita, no Brasil, nos países desenvolvidos, e em desenvolvimento. Divulgou-se que um em cada cinco municípios brasileiros, aproximadamente, tem zero médico para atender seus doentes. Verificou-se que há menos médicos estrangeiros atendendo no Brasil que em todos os outros países do mundo, exceto talvez a Coreia do Norte. Aventou-se a hipótese de que haja muitos desvios de recursos públicos que o Governo Federal destina a Estados e Municípios. Circularam inúmeros depoimentos sobre a penúria extrema de recursos dos hospitais e postos de saúde pública nos grotões, e até nos grandes centros. Alguém lembrou a extinção da CPMF. Ah, e descobrimos que os médicos brasileiros são visceralmente contrários à contratação de médicos estrangeiros, nem que seja para trabalhar onde eles próprios não querem ir.
Algumas reflexões dispersas:
1 - Médicos brasileiros dificilmente irão trabalhar de livre e espontânea vontade em Conceição do Deusmelivre, cidade imaginária de 5 mil habitantes situada a 600 quilômetros da metrópole mais próxima. Isso, mesmo que lá exista um hospital de primeiro mundo com todo o equipamento possível. Conceição do Deusmelivre, recapitulemos, não tem shopping, não tem bons restaurantes, não tem Internet, nem cinema, nem teatro, nem salão de beleza. Os médicos brasileiros só irão trabalhar lá se puderem ficar por no máximo uns 2 anos, ganhando muuuuito bem, e de quebra recebendo bônus suculentos para concursos públicos disputadíssimos.
2 - Médicos estrangeiros talvez simplesmente não queiram ficar, também. Alguém já pensou nisso? Os cubanos, pode ser que topem. Portugueses e espanhóis... duvido.
3 - Se os formandos brasileiros forem obrigados a completar sua graduação trabalhando em Conceição do Deusmelivre (dois anos! ou quem sabe só um ano! a negociação está aberta...),  eles poderão: a) fazer a clínica possível nas condições existentes por lá; b) aprender alguma coisa de Medicina preventiva e de Família; c) relatar, como parte de sua rotina de trabalho, à CGU e outros órgãos competentes, as condições do equipamento de saúde pública disponíveis em Conceição do Deusmelivre, bem como sinais de desvios de verbas (facilmente perceptíveis nos sinais exteriores de riqueza ostentados por políticos locais). Pode ser interessante; d) tecer algum laço de solidariedade com os moradores de Conceição do Deusmelivre - brasileiros que esses estudantes, por sua posição social, muito provavelmente desconhecem: não fazem a menor ideia de como vivem, ou se fazem, não estão nem aí...   

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